"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Em 1978 a FIFA atribui a organização do Mundial à Argentina da ditadura militar de Jorge Videla, das torturas e assassinatos, dos desaparecidos, doa atirados de aviões militares sobre o Atlântico, dos bebés roubados às mães. "Enquanto gritam golo abafam os gritos dos torturados e assassinados", Estela Carlotto, Presidente das Avós da Praça de Maio. O Qatar é só mais do mesmo, Jorge Videla morreu na prisão a cumprir perpétua por crimes contra a humanidade, os da FIFA morrem de velhos e com reformas douradas sem que ninguém os importune por aí além.
«O jornal americano The Washington Post fala nos 150 milhões de dólares do escândalo da FIFA que levaram, ontem, à demissão de Sepp Blatter. Mas fala também num número mais modesto e que é o que aqui me traz. Entretanto, deixem-me lembrar algumas balizas, para ajuizarmos: mortos nas obras dos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008: seis; no Mundial de Futebol da África do Sul, 2010: dois; nos JO de Londres, 2012: um; no Mundial do Brasil, 2014: dez. Assim, desde 2008, nos dois maiores acontecimentos desportivos, Mundial de Futebol e JO, em países tão diversos - e da Ásia, África, Europa e América -, a diferença vai de um a dez mortos. Um morto é sempre uma tragédia, nunca é uma estatística, disse um dos maiores assassinos da história, José Estaline. Mas em obras tão grandes e longas a diferença tão curta, de um morto (Londres) a dez (Brasil), é quase irrelevante e pode ser explicada por acidentes. Quer dizer, consequência do acaso. Portanto, não previsível por quem decidiu a escolha daqueles lugares... Acabo, agora, as balizas para ajuizarmos o que se segue. Passo ao tal número do The Washington Post. Mais modesto e bem mais tremendo. Mortos nas obras, desde que o Qatar foi escolhido, em 2010, para realizar o Mundial de 2022: 1200. Leram bem, mil e duzentos. E ainda faltam sete anos de obras, mas fiquemos pelos já mortos. 1200. Um número destes não é acidente. Não é imprevisível. E atacam Blatter pelo mero roubo de 150 milhões...»
Quando não há cão nem gato, leia-se agente político e/ ou económico, que mesmo não percebendo nada de futebol, e quiçá de economia e política, não venha encher a boca - porque é popular e como é popular lhe dá jeito - com a liderança e o sucesso e o exemplo de Mourinho, a lição de Mourinho, em directo para a plateia global, é dada em português e não em portunhol ou em inglês das docas.