"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Anda este mundo e metade do outro em mui grande rebuliço porque o PCP no XX Congresso evocou e enalteceu Fidel Castro – O Grande Ditador, isto depois do PCP ao longo dos anos em sucessivos editoriais no Avante! mostrar grandes saudades pelo Muro de Berlim e pela URSS, depois do PCP numas teses estapafúrdias ao XVIII Congresso fazer a apologia da monarquia comunista da Coreia da Norte, depois do PCP ter reservado na Festa do Avante! um pavilhão para uma organização terrorista dedicada ao narcotráfico – as FARC, depois de Jerónimo de Sousa e o PCP se terem deslocado a Angola para visitar o MPLA – partido irmão e o democrata José Eduardo dos Santos, que os dólares e o petróleo fazem conversões milagrosas na direita radical, depois do PCP ter virado chinês após a morte de Álvaro Cunhal, chinês da China, essa grande democracia económica de grandes investidores e nacionalizadores de empresas públicas portuguesas para o Estado chinês.
Ora vamos lá ao que interessa, porque é que o PCP, esse partido anti-democrata e totalitarista, depois de todas as tropelias e maldades que antecederam a evocação de o Grande Ditador Fidel Castro no Congresso continua a subir nas sondagens, continua a subir nos votos expressos em urna e em número de deputados em eleições para a Assembleia da República, continua a ser uma força política com um peso enorme ao nível das autarquias – Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia, continua a ter uma invejável implantação nas fábricas, nas empresas, nos sindicatos, continua a ter uma presença não despicienda no movimento associativo e colectividades?
Porque as pessoas são burras e incultas não serve de resposta porque essa já foi usada para explicar o fenómeno Trump nos States, e as pessoas, comentadeiros, avençados nas televisões, rádios e jornais, que apontam todos os defeitos ao PCP estalinista e anti-democrático, excluem-se sempre das conclusões e das explicações para o fenómeno PCP, êxito no terreno e no dia-a-dia das pessoas.
Se Fidel Castro tivesse chamado Milton Friedman para Havana, apesar de não ter sido um filho da puta sanguinário como Pinochet, ficava bem visto na direita liberal do "aliviar o peso do Estado na economia" e do crescimento económico a perder de vista.
[Na imagem os "milhares de mortos" do ditador Fidel que por estes dias enchem a boca à direita liberal da escola de Chicago]
A Caixa de Pandora que os manos Castro abriram deixou sair só a esperença e, essa sim, é todos os males do mundo para a esperança que se transformou em ditadura. Até um dia.
"Tres uniformados de la Policía Nacional Revolucionaria (PNR) y una mujer con traje del Ministerio del Interior conducen a la detenida al auto policial. En el momento en que esta grita “¡Abajo la dictadura de los Castros!”, las dos gendarmes intentan introducirla en el carro por la fuerza, una práctica que se ha hecho frecuente en los actos represivos."
Definição de generosidade [upagrade]: permitir que uma pequena parcela daqueles que têm ideias políticas diferentes das nossas possa viver em liberdade. Por razões humanitárias, que é quando o comunismo de rosto humano meets a caridade cristã.
Sim. Porque, como é sabido, a repressão dos manifestantes tem sido violentíssima. Mortos, feridos, estropiados, mulheres e crianças violadas, censura da net e das televisões. Um ror de barbaridades cometidas pelo Governo, em nome da Revolução, contra o seu próprio povo.
Este comentário é todo ele um programa e, se dúvidas ainda existissem, demonstra a concepção de El Comandante tem da liberdade de expressão, da liberdade de manifestação, de Democracia. Podia Fidel perguntar se a NATO vai começar a bombardear a Síria? Podia, mas não era a mesma coisa:
Com o título “A morte de Fidel”, escrevinha Vasco Correia Guedes no Público (link só para assinantes) que «A entrevista à Atlantic de Fidel Castro e as reformas de Cuba não mereceram uma linha aos comentadores de esquerda». À parte o que o senhor entende por «comentadores de esquerda», uma vez que me fartei de ler linhas sobre as “reformas” (as aspas são min(h)as) de Cuba, o que não mereceu uma linha, nem à direita nem á esquerda (excepção), foi o facto de as “reformas” incidirem única e exclusivamente sobre o sector económico, deixando intocável o sistema político. Como se a economia fosse panaceia para todos os males do mundo de Cuba. Mas isso se calhar é defeito (não feitio) de um picuinhas como eu que foi educado no princípio de que antes com fome e descalço, mas livre, que com a barriga cheia e bem vestido, mas sem liberdade.
Parece que anda toda a gente muito excitada pelo facto de Fidel ter descoberto o que o seu próprio povo já descobrira há, no mínimo, 30 anos. Do mal o menos. Largaram os foguetes, podem ir apanhar as canas (e fazer palitos com elas). O modelo económico “não funciona” mas o modelo político, na óptica dos manos Castro, está bem e aconselha-se. E depois, quando o povo deixar de passar privações e for tudo muito desenvolvido e Cuba tiver um crescimento económico a roçar os dois dígitos, fica tudo bem e dançamos todos o Tango dos Barbudos no Malécon, de Cuba Libre na mão, como nos tempos de Batista? Penso nem ser necessário dar outros exemplos noutras latitudes. É tudo a uma questão de imagem: ir ou não ir ao barbeiro.
Vejamos a coisa pela positiva (ou custa assim tanto admitir que Marx se possa ter enganado?): a seguir ao Estado Socialista (controlado pelo proletariado) como organizador do funcionamento da sociedade, virá, não o Comunismo e a ausência de Estado, mas o Robotismo, que liberta definitivamente o homem do Trabalho para actividades de lazer, produção cultural e intelectual.
Humildemente proponho que o dia 13 de Agosto seja declarado o Dia Internacional da Segurança. É que Fidel Castro, o Muro de Berlim, e o cinto de segurança nasceram no mesmo dia.
Eu também nunca duvidei das suas nobres intenções quando saiu da Sierra com os barbudos e pôs o corrupto Batista a correr. Mas, ao contrário de Obama, já não lhe restam nenhumas questões para responder, e, pegando nas suas próprias palavras, dá muito que pensar «que ayer (martes) a las 12 del día habían transitado 10 presidentes a lo largo de 50 años». A isto chama-se ditadura. Foi o que me ensinaram desde pequenino. Com nobres intenções.