"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Uma quantidade de artistas, alguns com história de luta contra o fascismo e peso histórico e institucional na música feita em Portugal, que se recusa actuar em eventos patrocinados pelo PSD e CDS, por causa da direita, das políticas de direita, da burguesia e do capitalismo, blah-blah-blah, isto em educadês porque em português é mais "não tocamos para esses filhos da puta, albergue de pides, legionários e outra bufaria fascista, alguns directamente da União Nacional para a democracia", digo-vos eu que fui roadie e assisti ao que a casa gastava, vai tocar à Festa do Avante porque o PCP é um partido que lutou contra os outros, os filhos da puta que fizeram a transição, um partido pela paz, que é contra a guerra, sem nunca mencionar quem é que começou a guerra e como é que se acaba a dita sem ser com resposta de guerra ou com a retirada do agressor-invasor para dentro de portas, de onde nunca devia ter saído, e que tem na sua festa anual, aquela onde os artistas foram actuar porque são contra aquelas coisas todas, distribuição de magnetos Z, do fascismo russo, dos nazis do Grupo Wagner a cometerem crimes contra a humanidade na Ucrânia, com origem num grupo marxista-leninista brasileiro apoiante da candidatura de Lula. À mulher de César e coise.
A direita, que acusa o PCP de usar a Festa do Avante como forma de financiar o partido e fugir aos impostos, é a mesma direita a dizer depois que a Festa do Avante! dá prejuízo. Prejuízo na festa de um partido político, cujo objectivo final não é o lucro, e prejuízo em jornais que apesar disso continuam online e a sair para as bancas, todos os dias sem falhar, todos os dias a martelar a agenda política. Isto é que devia dar que pensar e ser motivo de "fact check".
Acabou a Festa do Avante! e com ela os riscos para a saúde pública por via da propagação do vírus no desrespeito pelas [boas] regras do distanciamento social.
Se pessoal do PCP, ou do Bloco, fosse colocar um cartaz na porta de uma qualquer festa do PSD era provocação da extrema-esquerda ou da "esquerda radical", assim é o "direito de exprimir uma opinião" consagrado em Constituição. Alexandre Poço, deputado da Nação e recém eleito presidente da JSD no Twitter.
Um bando de palermas sem nada que fazer e a repetir chavões ocos que ouviram dizer em casa ou na "universidade de verão" da jota.
Chico Chicão, o líder do CDS que gastou os dois últimos meses a falar da Festa do Avante! , acusa o governo de ter descurado o início do ano escolar por estar preocupado com a Festa do Avante! . Não ter a puta da vergonha na cara é isto.
Porque é que é importante já estarem 28 mil bilhetes vendidos, de um pacote mínimo de 50 - cinquenta - 50 mil, para a corrida de Fórmula 1 no Autódromo Internacional do Algarve, sem pruridos de saúde pública em Rui Rio, no CDS e outros palermas avulso;
Porque é que a Festa do Avante! , num recinto onde cabem 100 mil, e num máximo de 33 mil proposto pela organização, só pode comportar 16.563 pessoas e a venda de bebidas alcoólicas vai ser proibida a partir das 20 horas, depois de semanas a fio de ruído em tudo o que é meio de comunicação?
Se calhar é melhor fazer a vontade a Marcelo e votar noutro partido que ressuscite uma DGS para meter os comunistas na ordem, pública. A bem da nação.
O PCP confunde "actividade política" com mosh ao som da Carvalhesa. O PCP confunde "liberdades democráticas" com o picnicão da bandeira vermelha. O PCP ficou ainda antes de 1974 nas manifestações de força coreografadas para impressionar o povo. O PCP rem um plano delineado que lhe permite regressar à clandestinidade já amanhã se for caso disso e manter a edição do Avante! por stencil. Era o que faltava!
Fosse na América rica, a do norte, ou no vizinho pobre do sul, o Brasil, e andavam manadas de grunhos nas ruas de bandeiras às costas a gritar contra o ataque às liberdades: comunismo e criatividade; a "indústria" do pontapé-na-bola a transpirar saúde por todos os poros, sem contacto físico nos livres e cantos, sem cargas de ombro e entradas de carrinho; touradas dentro dos requisitos, picar o animal com toda a higiene e limpeza e o rabejador de mascara cirúrgica. Quem diria que um dia Fátima havia de ficar fora da equação?
À imagem do ex- presidente do Sporting que nunca tinha um discurso pela positiva, nunca conseguia afirmar o Sporting pela força do clube e ideias próprias, era sempre "porque o Benfica isto", "mas o Benfica", "e o Benfica aquilo", "no Benfica acontece", "no Benfica deixa de acontecer", Jerónimo de Sousa não consegue alinhavar uma frase completa com uma ideia alternativa para o país que não passe "porque o PS aquilo", "mas o PS aquele outro", "e o PS assim", "e o PS assado", mesmo até quando o PS está arredado do poder, entregue ao PSD e ao CDS. E subir o de nível?
E porque é que em Mao nunca ninguém toca e os seus mais de 70 milhões de mortos ficam sempre convenientemente escondidos, caídos no esquecimento?
E porque é que mais de metade do PS e do PSD, ministros e secretários de Estado, dirigentes do "sentido de Estado" e da marcha do balão e do "arco da governação" vão passando pelos intervalos da chuva sem que os mais de 70 milhões de cadáveres lhes pesem na consciência?
E se em Berlim, frente ao Reichstag, houvesse uma gigantesca foto de Hitler a vigiar a praça, como a de Mao a vigiar Tiananmen?