"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Estava eu muito longe de desconfiar que a simples partilha no Twitter de um link para um artigo de opinião de Ferreira Fernandes no Diário de Notícias, o “conluio-policial mediático” e as suas consequências, ia receber um comentário do jornalista, não de um jornalista qualquer, um jornalista ex-director da TSF, ex director do Diário de Notícias, coluna regular no Jornal de Notícias e visita assídua na SIC Notícias - Paulo Baldaia, por via do seu heterónimo [ou será ele mesmo desinibido do “código deontológico”?] futeboleiro-regionaleiro – DragãoASul, [em print screen na imagem “por causa das moscas”] que, por sua vez, ia dar origem a uma chusma de likes e mentions [alguns já bloqueados] da horda de trogloditas trauliteiros, a salivarem nas redes de cada vez que um qualquer Pavlov açula a matilha acéfala do pontapé-na-bola, todos nascidos, Paulo Baldaia incluído, depois do senhor das bufas, avisado da visita da PJ, ter fugido com a menina do alterne para Vigo até a maré baixar, e por isso desconhecedores dos factos.
«O jornal americano The Washington Post fala nos 150 milhões de dólares do escândalo da FIFA que levaram, ontem, à demissão de Sepp Blatter. Mas fala também num número mais modesto e que é o que aqui me traz. Entretanto, deixem-me lembrar algumas balizas, para ajuizarmos: mortos nas obras dos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008: seis; no Mundial de Futebol da África do Sul, 2010: dois; nos JO de Londres, 2012: um; no Mundial do Brasil, 2014: dez. Assim, desde 2008, nos dois maiores acontecimentos desportivos, Mundial de Futebol e JO, em países tão diversos - e da Ásia, África, Europa e América -, a diferença vai de um a dez mortos. Um morto é sempre uma tragédia, nunca é uma estatística, disse um dos maiores assassinos da história, José Estaline. Mas em obras tão grandes e longas a diferença tão curta, de um morto (Londres) a dez (Brasil), é quase irrelevante e pode ser explicada por acidentes. Quer dizer, consequência do acaso. Portanto, não previsível por quem decidiu a escolha daqueles lugares... Acabo, agora, as balizas para ajuizarmos o que se segue. Passo ao tal número do The Washington Post. Mais modesto e bem mais tremendo. Mortos nas obras, desde que o Qatar foi escolhido, em 2010, para realizar o Mundial de 2022: 1200. Leram bem, mil e duzentos. E ainda faltam sete anos de obras, mas fiquemos pelos já mortos. 1200. Um número destes não é acidente. Não é imprevisível. E atacam Blatter pelo mero roubo de 150 milhões...»
Nas notícias substituir União Europeia por Lebensraum e à frente de Ucrânia abrir parêntesis, Galícia, fechar parêntesis. A "mãe" Rússia está onde sempre esteve, a Europa tem dias, e tanto pode estar hoje dentro do Limes como amanhã já não estar. E a Alemanha também tem o "colo" da Rússia sempre garantido. Ferreira Fernandes tem razão, Viktor Ianukovich está a ver mais longe.
Porque fica mesmo em frente da Itália que é uma das frentes da Europa, e ao lado da Argélia que é ao lado de Marrocos que é como quem diz mesmo aqui mesmo ao lado, ou pela mais importante de todas que é porque vive lá gente que também é filha de Deus, como sói dizer-se, e mais o caos e o vazio de poder e o fundamentalismo, motivos por (quase) todos conhecidos e já milhares de vezes e(a)nunciados e que não vale a pena aqui e agora estar de novo a e(a)nunciar, não podia estar mais de acordo com o que escreve Ferreira Fernandes no Diário de Notícias. Eu teria acrescentado mais uma: José Sócrates que andou a vender e a comprar investimento e parcerias no Magrebe, teceu rasgados elogios ao terrorista de Estado ditador tunisino do partido há 23 anos no poder, e que pertence à Internacional Socialista, do Partido Socialista português, do PSOE de Zapatero e do Labour de Miliband, entre outros.
As FARC na Festa do Avante! e o Bernardino Soares na Coreia do Norte. Pois.
Não sei em que país é que Ferreira Fernandes, (segue-se tirada à lá família Soares, pai e filho e ilhas Barroso adjacentes incluídas), que não tenho o prazer de conhecer mas de quem sou leitor assíduo e por quem tenho grande respeito e consideração e que aproveito a ocasião para enviar um grande abraço e votos de feliz Ano Novo, vive. E quando digo “não sei”, quer dizer, ao melhor estilo de Ferreira Fernandes, exactamente o contrário, que sei. Vive no “país da administração pública e do sector empresarial do Estado”.
À boleia de Ferreira Fernandes para passar de raspão por uma que me escapou esta semana: a anunciada decisão da Ryanair em cobrar as idas ao wc durante os voos – 1 libra cada mijadela.
Independentemente de isso ser ou não exequível – olha eu por exemplo, fazia mesmo ali na parede mais à mão e depois faziam o quê; punham-me na rua? – não é isso que fazem todas as companhias; incluir todos os serviços prestados no preço no bilhete? E quem diz a Ryanair diz a Easyjet ou a Monarch ou outra qualquer low cost, em que numa hora o bilhete custa “x” para custar “y”, se preciso for logo uns minutos depois; se nessa variação de preços fosse incluída a tal libra mictória alguém ia dar por isso? Não. Assim como foram honestos e transparentes, caiu-lhes o mundo em cima.
(Na foto Jumbo Jet Anniversary via Bettmann Corbis)
Todos temos a imagem do juiz-de-hollywood que no filme condena o réu com 10 dias de prisão e uma multa de mil dólares. O réu reclama e o juiz face à impertinência do julgado prega-lhe com mais um dia e mais 100 dólares. O desgraçado torna a abrir a boca e leva com outro dia e outros 100 dólares. Já lá vão 12 dias e mil e duzentos dólares. “No meu Tribunal mando eu!”; acompanhado por uma sonora martelada no tampo da secretária, com aqueles martelinhos de partir tenazes de sapateira, usados pelos juízes.
Por cá, uns alarves agridem o juiz dentro da sala (?) de audiências e o homem da capa preta decide retirar-se 10 dias, e mais um, e mais um, até haverem condições.
Ferreira Fernandes recorda-nos hoje no Diário de Notícias, aquele tempo em que os comunistas comiam criancinhas ao pequeno-almoço.
Apesar de haver por aíadultos-crescidos, como se diz no Alentejo, que continuam a bater o pé; que sim senhor, que o Pai Natal existe. Enfim…
(Foto AFP via The Guardian)
Post-Scriptum: Sendo uma falsificação, tem apesar de tudo valor documental para quando se escrever a história recente de Angola. Vale para perceber como funcionava(m) a(s) pessoa(s) que o forjaram, e, principalmente, para se perceber como eram as relações de forças ao nível dos movimentos de libertação, a sua implantação e aceitação no terreno. Num país com maioria absolutíssima de população negra; num país que durante 500 anos, para o bem e para o mal, nunca conheceu outro sistema político que não uma ditadura colonialista, é interessante sobretudo esta parte do “documento”:
“A FNLA e a UNITA deixarão assim de contar com o apoio dos brancos, de seus capitais e da sua experiência militar.”
Sabendo-se como funcionavam os então colonos brancos idos da Metrópole (e/ ou os seus descendentes); e, salvo raras excepções, como se relacionavam e lidavam com “os pretos”; por outras palavras, o que se dizia à época em Portugal: FNLA&UNITAigual a neo-colonialismo…
George W. Bush está, hoje, na Arábia Saudita e, amanhã, no Egipto. Em ambos os países ele chega fortemente armado. Mas não deve usar a arma que tem. Infelizmente. A arma: na altura dos salamaleques com rei Abdullah e com presidente Mubarak, uma palavrinha. Ao saudita, fazer-lhe saber que gostaria que Fouad Al-Farhan fosse libertado; ao egípcio, o mesmo sobre Abdel Karim Suleiman. Na verdade, seriam precisas mais do que uma palavrinha, mas os assessores saberiam fazer Bush curto e persuasivo. Al-Farhan e Suleiman tinham um blogue. Em 2006, o saudita fora avisado que devia fechá-lo e fechou-o; mas voltou em Julho do ano passado, explicando as 25 razões por que voltava. Resumidas eram estas: "Quero falar." Em Dezembro foi preso. O egípcio escreveu contra "os professores da Universidade Al-Azhar [cairota] que não admitem que se pense diferentemente." Em Fevereiro, foi condenado a quatro anos. Pensando bem, talvez bastasse uma palavrinha a Bush: "Não."