"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Nesta lavagem da história vale tudo, só já falta Cavaco Silva, himself, interromper a reforma e aparecer por aí numa televisão qualquer com o tradicional "eu avisei" enquanto mastiga cuspo.
Os que passam a vida a criticar o secretismo da vida interna do PCP são os mesmos que acham natural e democrático a opacidade da maçonaria.
No entanto o PCP vai a votos e não ocupa cargos de governação [nem de administração pública e empresarial por nomeação], enquanto a maçonaria, que não vai a votos, divide o Estado de direito entre a família e os amigos. Um pormenor.
As coisas têm a importância e/ ou o valor que as pessoas lhe quiserem dar; foi uma coisa que aprendi durante os quase 5 anos em que trabalhei no mercado internacional dos coleccionadores de discos de vinyl, quando vi, em Londres, gente disposta a dar 10 mil euros por um LP dos Beatles comprado por 1 euro na Feira da Ladra em Lisboa.
(Imagem Amplifiers at Bolling Field, 1921.Two giant horns with ear tubes, evidently designed to listen for approaching aircraft. Via National Photo Co.)
Omite porque é que o editor enviou a mensagem ao jornalista e esquece que foi por causa do DN que se deslindou a trapalhada. Pelo meio ficamos todos a saber que a profunda investigação jornalística feita pelo Público se resumiu a receber o e-mail, guardá-lo na gaveta para, 17 meses depois e alertado pela “fonte”, o ressuscitar e publicar, às portas de umas eleições e fazendo o jeitinho ao Presidente – quiçá com um olho no partido do Presidente –, que nunca se demarcou nem matou “a investigação jornalística” à nascença.
José Manuel Fernandes é livre de fazer as suas escolhas e as suas opções políticas, mas que o faça de forma legal e com transparência e que não nos coma a todos por parvos.
Entretanto talvez não seja de todo descabido perguntar se o Presidente, que por lá continua impávido e sereno, tem condições para o continuar a ser.
Podem os portugueses continuar a confiar num Presidente que manobrou nos bastidores e tentou criar um facto político a meio de uma campanha eleitoral, e cujo resultado imediato seria o prejuízo do partido no Governo e o benefício do maior partido da oposição, que por acaso é o seu?
Pronto, está resolvida a questão. Até Cavaco se lembrar de inventar mais uma e sacrificar mais outro.
Regresso ao passado, a “outra senhora”, e essas coisas assim que fazem a Direita ficar muito melindrada e ofendida só de ouvir falar na possibilidade de haver alguém que esteja a pensar falar nisso, tem a ver, por exemplo, com que passados 35 anos da Revolução de Abril termos um Presidente da República eleito com o apoio dessa mesma Direita cujos assessores elaboram dossiers sobre cidadãos, e como se isso não fosse suficientemente grave, ainda os entregam a jornalistas “de confiança”?
Continuo a preferir o “estilo” Mário Soares: dizia na cara o que pensava de Cavaco Silva e do seu Governo.
A imagem que passa é a de que temos um Presidente camuflado de “cooperante estratégico”, mas na realidade articulado com o maior partido da oposição, que por acaso é o seu, a hostilizar um Governo a um mês das eleições, falsificando notícias e lançando boatos e suspeições. Este senhor não é o Presidente-de-todos-os-portugueses porque ficou lá atrás, no dia 22 de Janeiro de 2006.
A frontalidade, e não só na política, é um valor muito bonito. Como me disse o meu pai no primeiro dia em que me apresentei no primeiro emprego: “Entras sempre pela porta da frente e dizes bom dia a toda a gente. Gostes ou não deles”.