"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Morre Fausto, um dos nomes maiores da música popular portuguesa de sempre, no panteão ao lado dos dois Zés, o Afonso e o Mário Branco, e no dia a seguir são estas as primeiras páginas dos três jornais generalistas que ainda restam nas bancas. Melhor que isto só a peregrinação de um Papa a Fátima. Merecemos tudo o que nos cai em cima.
Com Fausto vi um dos melhores concertos da minha vida na apresentação de Por Este Rio Acima nos Claustros do Convento de Jesus em Setúbal, acompanhado pelo O Ó que Som Tem? do Rui Júnior, numa época em que não estava para aí virado, nem pouco mais ou menos, e andava por sítios como Forever Now dos Psychedelic Furs, A Kiss In a Dream House da Siouxsie, Sextet dos A Certain Ratio, Junkyard dos The Birthday Party, Pornography dos The Cure, Combat Rock dos The Clash, entre outros.
"Rosalinda, se tu fores à praia, se tu fores ver o mar", a primeira canção de protesto ecologista da música portuguesa porque "atrás dos tempos vêm tempos e outros tempos hão-de vir" e "uns vão bem e outros mal", em 1977 numa Madrugada dos Trapeiros que cada vez mais é o dia e a noite de cada vez mais gente nas ruas das grandes cidades portuguesas.
Fausto nasceu no Atlântico a bordo de um navio chamado Pátria numa viagem entre Lisboa e Luanda. "Por este rio acima" a expressão mais usada por Fernão Mendes Pinto na Peregrinação. Ainda dizem que um gajo não tem o destino traçado à nascença...