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DER TERRORIST

"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.

Heróis do Mar

por josé simões, em 09.03.07

 A propósito da estreia do documentário sobre os Heróis do Mar, Brava Dança, de Jorge Pires e José Pinheiro:

 

Escola Comercial e Industrial de Setúbal – actual Sebastião da Gama, ano de 1978.

Pela primeira vez a Direcção da Associação de Estudantes foi ganha por uma lista à direita do PC. Afecta à Juventude Socialista, a Lista B ganha a direcção por 12 votos, numa eleições disputadíssimas, com direito a transmissão do escrutínio em directo pela rádio da escola.

 

A Jota do PS, apesar de ganhar a Direcção, manteve a equipe que assegurava a programação da rádio escolar, integralmente afecta ao PC. Manteve a programação que, começava todos os dias com o hino da Internacional Comunista e, prosseguia ao longo do dia entre música popular e/ ou de intervenção e rock da altura: Pink Floyd, Génesis, Van Der Graf Generation, Yes, algum Deep Purple ou Led Zeppelin, Doors, Rolling Stones e afins.

 

Nesse mesmo ano e organizado pela secção Desportiva da AE, concerto dos Faíscas no refeitório da escola; sábado à tarde – preço do bilhete: 50 escudos.

Refeitório à pinha. Chegam os homens, sem roadies, com o PA às costas – literalmente – e começa o concerto, com o sound check em directo e ao vivo.

 

Músicas dos Stooges, Elvis Presley versão punk, algum Sex Pistols e afins. Um mosh do caraças!

O Repolho, delinquente sobejamente conhecido na cidade (espécie de punk avant-garde), a meio do concerto descalça uma bota da tropa e lança-a com todas as suas forças na direcção do palco.

Resultado: Paulo Pedro Gonçalves com o nariz partido e End of the Show.

 

 

Cidade de Setúbal, ano de 1981.

Concerto dos Heróis do Mar na Praça do Bocage. Entrada 200 escudos.

 

Praça do Bocage cheia que nem um ovo; a rebentar pelas costuras como só havia acontecido nos comícios da candidatura de Otelo Saraiva de Carvalho à presidência da República.

 

Os homens entram em palco fardados, numa posse marcial-futurista, mais bandeiras com a cruz de Cristo e o diabo a sete. Ataque forte à audiência com Brava Dança dos Heróis, acompanhados de uma secção de metais poderosa, onde se destacava Tomás Pimentel.

Delírio! Praça do Bocage ao rubro com uma audiência que, arrisco apostar, o mais velho deveria ter 21/ 22 anos. Estava ganha a partida, num dos concertos mais memoráveis a que a cidade assistiu.

 

Anos mais tarde (muitos) Pedro Ayres de Magalhães em entrevista a um jornal, disse mais ou menos isto: “O concerto que mais nos marcou (Heróis do Mar) foi o de Setúbal. Éramos apelidados de fascistas e Setúbal era cidade vermelha; estávamos com medo. Muito medo. Não sabíamos como é que as pessoas iam reagir. No final do concerto descobrimos que as coisas estavam a mudar em Portugal!”

 

O autor deste texto e, dono deste blogue, esteve nos dois concertos.