"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
O motorista do mini bus, "vai-vem" circuito urbano, era uma motorista. Brasileira. "Pode descansar que quando chegar na paragem eu aviso o senhor para sair".
O varredor da rua era uma varredora. Moldava. "Isso é uma guerra perdida, por mais que limpe está sempre sujo", lanço, depois do "bom-dia". "O que é que o senhor quer? Alguém tem de fazer isto...".
O caixa do supermercado era brasileiro. "Até que horas ficas aqui?", pergunto. "Até às 9 da noite". "Depois vais beber uns copos para limpar a cabeça...". "Depois vou para casa, que tenho a cabeça em água e ainda ficamos cá mais uma hora a repor".
Chego à varanda com um livro numa mão e uma mini na outra ao mesmo tempo que descia o elevador de transporte dos pintores que fazem as obras no condomínio. "Querem uma?", pergunto. "Se faz favor. Ele não, que é muçulmano". "Fica com esta que eu vou buscar outra para mim. São de onde?". "Eu sou da Guiné, ele é do Senegal". "Obrigado, chefe". "Não sou chefe de coisa nenhuma, amanhã à mesma hora".
No restaurante, "Então, oh C, como é que está coisa este ano?". "Está mau...". "Como assim "está mau..." se isto é gente por todo o lado?". "Está mau, tivemos de reduzir um turno, não temos empregados e dos candidatos não aparece ninguém que fale português".
E assim, por causa destes perigosos bandidos que roubam empregos aos naturais, os verdadeiros algarvios, os descendentes daqueles que vieram por aí abaixo atrás de D. Afonso III enxotar o Califado Almôada para a margem sul do Mediterrâneo, não os outros, os descendentes dos marroquinos, argelinos, e outros talibãs que tais, foram a correr votar no partido da taberna, que há-de obrigar os "empresários" a pagar ordenados decentes aos indígenas e meter estes manhosos, ocupadores de território e substituidores de população, na ordem. Amém.
Em "Chora, que logo bebes" há um Presidente de férias na praia em modo pateta alegre que todos os dias às 13 horas em ponto veste polo e mete chapéu de pala na cabeça para dizer em directo na abertura dos telejornais que o Presidente está de férias e que não comenta propostas da oposição enquanto repete tintim por tintim as propostas do seu partido na oposição sobre a baixa dos impostos. "É proibida a entrada a quem não andar espantado de existir".
A tomada de posição dos vários partidos, a propósito da saída de Portugal da lista verde inglesa, nos telejornais da televisão do militante n.º 1, SIC Notícias, são noticiadas como "partido x disse" ou "fulano de tal pelo partido y comentou". O Chaga, o partido do deputado só, foi o único com direito a imagem e comentário próprio pela voz do líder. Em todos os telejornais, a todas as horas certas, 24 horas de um dia. Camarada Balsemão, a bem da Nação.
Vender a alma aos bifes por uns litros de cerveja no Porto e levar como gorjeta o cancelamento das férias no Algarve. Depois António Costa e o alegado ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, explicam, já que o dos Negócios Estrangeiros, sempre apanhado de "surpresa" tudo lhe parece sempre sem sentido. Não, não estamos a ser penalizados por sermos honestos, estamos a ser castigados por sermos aquilo a que em linguagem comum se designa de totós.
A pergunta correcta é: "O que é que a Comporta não tem?". Ainda Não tem a floresta de betão, o império do plástico, a má restauração, o meter a mão na carteira do cliente e o reinado da Albion que tem o Algarve, apesar do tiro de partida para o saque e destruição dado pelos PIN de José Sócrates, dos resorts, hotéis e campos de golfe em área de paisagem protegida e reserva agrícola nacional, onde antes era proibido montar uma tenda para uma noite de campismo selvagem na duna a ouvir as ondas na areia.
Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente de todos os portugueses, apelou a que os indígenas passem férias no sul do país, que as outras regiões não estão necessitadas nem com a restauração e a hotelaria com a corda no pescoço e com o desemprego e a miséria a espreitar. No Algarve dos preços baratos, não fosse em Espanha serem ainda mais baratos, mesmo incluindo a gasolina para a deslocação e as portagens que não se pagam. No Algarve das ementas escritas em inglês, beef, french fries, bull fight, sports giant screen full HD, ex-rooms - chambres - zimmers. Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente de todos os algarvios
O rico vai de férias porque se pode dar ao luxo, o pobre trabalha as férias para compensar o fraco ordenado, que não dá para luxos e o direito ao descanso e ao lazer é um luxo dos ricos. Não é um aumento da remuneração que se propõe, é trabalhar o descanso. A seguir propõe-se trabalhar um dos dias da folga semanal, que o aumento das horas no banco já vem no pacote e é substancialmente diferente de aumentar o preço da hora a depositar no banco, na conta do empregado no final do mês. E assim se poupam postos de trabalho e encargos com a Segurança Social. Depois, uns mais desgraçados e a passar por dificuldades, trabalham as férias e fazem as horas extra e o patrão, benemérito, pergunta "então os outros fazem e tu não?". E está no seu direito de perguntar e que ninguém veja isto como coacção sobre o trabalhador, honi soit qui mal y pense. Quem é amigo do patrão,do trabalhador, do colaborador, quem é?
Só fecha para férias em Agosto quem tem obrigatoriamente de fechar em Agosto. Por exemplo as fábricas, as famosas "paragens", para manutenção, substituição e reparação. Assim é só um caso de administração, gestão e organização. Má.