"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Em 2021 tentaram matá-lo em Setúbal com uma caixa de pastilhas elásticas, em 2024 foi alvo de atentado com rateres de uma moto em Famalicão, em 2025 caiu varado no palco sem sequer ter dito "Deus me castigue se estou a mentir!". Foi em Tavira, mas foi a 13 de Maio. "Foi Deus que lhe atribuiu a missão de mudar Portugal". Como se escreve nas redes #ChupaMontenegro. Menos sorte teve Bolsonaro, que levou uma facada no estômago, sem sangue, a 6 de Setembro, dia de Santa Begga de Landen, fundadora da Ordem das Beguinas, que significa murmurar, falar pouco, em alusão aos hábitos de prece em voz baixa que mantinham. Nitidamente fora do rosário do taberneiro.
Atormentado pelo gozo e pela culpa, o Presidente chega a ir a Fátima de 15 em 15 dias para rezar. As sondagens menos positivas voltam a mergulhá-lo na solidão [...].
Todas as manigâncias são possíveis, todas as intrigas e jogadas de bastidores são admissíveis, todas as mentiras e meias verdades são ética e moralmente aceitáveis, porque a seguir estamos perante Deus para o perdão, saímos como novos, voltamos às manigâncias, às intrigas e às jogadas de bastidores, às mentiras e às meias verdades, assim sucessivamente num eterno retorno. O Presidente beato católico, do recalcamento da culpa, que obedece à Igreja e responde a Deus, em vez de à Constituição e ao povo, de quem só quer massagens no ego. Temos o que merecemos.
[Na imagem a primeira página da revista do Expresso]
A 13 de Maio de 1917 Portugal mudou para sempre. Fomos escolhidos! Também eu senti esta mudança profunda num 13 de Maio da minha vida. Hoje sinto, sei, que de alguma forma a minha missão política está profundamente ligada a Fátima. É este, talvez, o meu grande Segredo.
Apanhados de calças nas mãos, como em Abril de 1974, sem discurso, sem tema, sem guião, completamente à nora a direita radical abala a correr para os braços da Santa Madre Igreja, também como em Abril de 1974, hoje a propósito de umas comemorações do Dia da Liberdade, que tentou misturar com o ir passar a Páscoa à terrinha, e com o Dia do Trabalhador a equivaler a uma peregrinação a Fátima, numa gorada tentativa, como em Abril de 1974, de provocar uma fractura entre o povo e o poder político, agora eleito, misturar tudo o que se quer separado - Deus e César. Só que desde Abril de 1974 a Igreja católica mexeu-se, pouco mas mexeu-se, e, com raríssimas excepções, ignorou o apelo dos desesperados e manteve as distâncias. A direita radical, essa, continua exactamente no mesmo sítio onde Salgueiro Maia a foi encontrar, de pais para filhos, de filhos para netos, sem bulir. São tão previsíveis, benza-os o Bispo e a Senhora de Fátima.
Ontem, a propósito da visita de Jorge Mario Bergoglio a Fátima, foram repostas as fronteiras terrestres. À parte a piada feita que é repor as fronteiras terrestres a pretexto da segurança de alguém que reclama o estatuto de secretário de Deus no planeta Terra, as televisões estavam lá todas, desde Quintanilha a Vila Verde de Ficalho, passando por Vilar Formoso e Caia, para mostrar que os possíveis eventuais malfeitores terroristas atentadores da vida e da segurança do Papa Francisco têm todas as portas barradas pelos guardas fronteiriços de ocasião. Não podem entrar. Aliás, só entravam a partir de ontem e exactamente a contar da hora do fecho das ditas.
O aspecto mais curioso, chamemos-lhe assim, do argumentário justificativo da tolerância de ponto dada aos funcionários públicos aquando da visita de Francisco, Papa, a Fátima, ou à cova Deiria, como dizem as televisões, argumentário comum ao Governo, aos partidos da 'Geringonça' e à direita radical beata, uma verdadeira 'união nacional', prende-se com o facto de "muitos portugueses manifestarem interesse em se deslocarem ao santuário", por coincidência, e só por coincidência, todos funcionários públicos, que no Estado laico o sector privado não tem tempo para terços nem se governa com Pais-Nossos e Avé-Marias.
Em nome da Função Pública e com a benção dos partidos da 'Geringonça', ateus-agnósticos-jacobinos-laicos e religiosamente multi coloridos mas com a base eleitoral de apoio à sombra do Estado.