"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Excessivo em Portugal é o salário mínimo nacional, o subsídio de desemprego - no valor a pagar e na duração temporal, a contratação colectiva de trabalho, as indemnizações a pagar por despedimento, o imposto a pagar pelas empresas, a protecção social aos cidadãos. Nos 90s até havia uma banda, os Excesso, cujo nome era precisamente inspirado nisto.
Um país de serviços era o desígnio para Portugal. Vai daí pagou-se para abater frota pesqueira - os camaradas espanhóis pagaram para renovar e construir, pagou-se para votar terras ao abandono - os camaradas espanhóis pagaram para inovar, pagou-se para arrancar - os camaradas espanhóis pagaram para plantar, e ainda vieram ao lado de cá, que é o nosso, comprar ao preço da uva mijona as terras que tinham sido votadas ao abandono; nada se fez para atrair investimento na industria e ainda menos se fez para reter a que por cá havia. Betão e alcatrão, arrancar carril, desinvestir na ferrovia, deixar degradar material circulante - os camaradas espanhóis....pois. Serviços aqui vamos nós. Agora parece que são precisas "políticas públicas correctas" e um aumento da produção interna. Cara de pau e uma grande lata, isso não é preciso. Cavaco vende jornais? Cavaco atrai leitores ao online pago? Alguém ouve Cavaco? Ou isto enquadra-se na caridade cristã de continuar a dar voz a uma amigo, tipo o Conselho de Ministros a que Salazar presidia depois de ter caído da cadeira? Afinal, Cavaco está a subir ou a descer o coqueiro?
Atormentado pelo gozo e pela culpa, o Presidente chega a ir a Fátima de 15 em 15 dias para rezar. As sondagens menos positivas voltam a mergulhá-lo na solidão [...].
Todas as manigâncias são possíveis, todas as intrigas e jogadas de bastidores são admissíveis, todas as mentiras e meias verdades são ética e moralmente aceitáveis, porque a seguir estamos perante Deus para o perdão, saímos como novos, voltamos às manigâncias, às intrigas e às jogadas de bastidores, às mentiras e às meias verdades, assim sucessivamente num eterno retorno. O Presidente beato católico, do recalcamento da culpa, que obedece à Igreja e responde a Deus, em vez de à Constituição e ao povo, de quem só quer massagens no ego. Temos o que merecemos.
[Na imagem a primeira página da revista do Expresso]
O jornal do militante n.º 1 veio em grande alvoroço avisar que um quinto dos proprietário já venderam as casas que tinham no mercado de arrendamento com medo do Mais Habitação apresentado pelo Governo. O comunismo e a Venezuela, diz a direita que suspira pela Inglaterra e Países Baixos e países nórdicos, paraísos do livre mercado e do menos Estado, e onde há décadas onde funcionam programas semelhantes. E todo este pavor à conta de um questionário que a Associação Lisbonense de Proprietários distribuiu entre os seus associados, respondido por 700, rapidamente transformados em um quinto dos senhorios a nível nacional. Que a associação dos proprietários lisboetas faça os inquéritos que muito bem entender é lá com ela, que faça disso alarde e toque a todas as campainhas, também é um direito que lhe assiste, que um jornal, dito de referência, faça disso uma amostragem fiável do mercado nacional só mesmo um trapo encharcado nas fuças, como diz o pagode. É que nem na "liberdade para pensar" isto tem encaixe possível.
O jornal do militante n.º 1 insistir nas latas de atum cadeadas, que não foi mais que estratégia de marca, já não é mau jornalismo, nem sequer burrice de quem foi apanhado de calças na mão há dois meses, é campanha, ou agit-prop, como dantes se dizia.
Há uma enorme diferença entre perder dinheiro e deixar de ganhar dinheiro. A classe empresarial pantomineira tuga gosta muito de as equivaler porque lhes dá jeito quando toca a praticar o seu desporto favorito: chorar pelo Estado. Não se esperava esta equivalência da parte de uma ex-ministra da Justiça, alegadamente socialista, com o marido a facturar em relação a anos anteriores mais 1 milhão e 100 mil euros desde 2008, período em que a mulher foi ministra, nos seus 101 contratos com o Estado no valor de 3 milhões 820 mil euros.
Um grupo de inteligentes com avença cativa nas televisões, rádio e imprensa escrita, assina um manifesto em que se queixa de deriva totalitária, censura, pensamento único, pelo meio sentencia que pensar não é coisa acessível a qualquer um e para pensar cá estamos nós e por isso somos censurados pelo poder político e desdenhados pela ralé que não pensa, invocam os mesmos princípios defendidos pela extrema-direita polaca e húngara, que o Tribunal Constitucional viole o princípio do primado - fiscalizar uma norma de direito da União Europeia e ainda conseguem meter ao barulho a Acta Final de Helsínquia que consagra o princípio dos países integrarem tratados e/ ou alianças como muito bem lhes aprouver. Nem os inteligentes são o que costumavam ser nem a Acrópole fica no sítio onde costuma estar.
O título e o corpo da notícia. Ou, como diz o lema do jornal do militante n.º 1, "liberdade para pensar", que é como quem diz para asneirar e desinformar.
Voltando à narrativa da direita, com Rui Rio à cabeça, na noite das presidenciais a levantar a voz de eufórico, que a esquerda tinha sido "esmagada" [que o PS tenha indicado o voto em Marcelo, um pormenor], que o eleitorado comunista no Alentejo e nas antigas cinturas industriais se tinha transferido para o Chaga, o que a sondagem ISCTE para a SIC e Expresso, efectuada entre os dias 5 e 13 de Abril, nos diz é que "com esta ou aquela flutuação, aquilo que mudou desde as legislativas foi fundamentalmente a descida do CDS e a subida do Chega", uma transferência de todos, portanto.
Em 1973 o Expresso referia-se aos movimentos de libertação das colónias como "terroristas"; em 2021 a televisão do militante n.º 1 - SIC Notícias, refere os terroristas islâmicos no norte de Moçambique como "insurgentes".
"Fernando Neves Correia com o antigo Presidente da República de Moçambique, Armando Guebuza"
Obituário in semanário Expresso, edição de 12 de Março de 2021
Dizia a avó Ilda que "quando nascemos vimos todos nus e quando morremos vamos todos com os pés para a frente" no seu desconhecimento das pessoas que até mortas vão acompanhadas e em bicos dos pés.