"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Sabendo nós o conteúdo das escutas que "eles" querem que nós saibamos, na altura que "eles" muito bem entendem ser a indicada para se saber, e sabendo nós, daquilo que veio aos ouvidos do pagode, que tudo junto e por atacado não vale um caralho, não tem relevância criminal de qualquer espécie, que tudo não passa de uma corja de bisbilhoteiras e calhandreiras que "eles" são, e sabendo também nós que o que "eles" querem que nós saibamos é apenas uma ínfima parte das horas, dias, meses, anos que "eles" levaram a escutar a vida alheia, a pergunta, legítima, diria mesmo mais, legítima, que se impõe é se tiraram proveito disso, se souberam de negócios em primeira mão, de decisões políticas ainda em fase embrionária, se tiveram acesso àquilo que comummente se chama "inside information"? Pois.
Esta notícia, que não tem a ponta de um corno a ver com o processo em que José Sócrates se encontra envolvido, sai logo no dia a seguir ao director do Jornal de Notícias, Afonso Camões, ter acusado os magistrados do processo em que José Sócrates se encontra envolvido de serem as fontes das "fugas de informação" para os jornais de detalhes, peripécias e fait-divers vários. O mesmo que o camarada infiltrado no circulo do secretário-geral fazia com o camarada de partido militante de base, com uma pequena diferença, os directores do Correio da Manha, do Sol e do i, não são magistrados ligados ao processo-em-segredo-de-justiça de José Sócrates, já que militantes do mesmo partido não sei.
E não se fala mais nisso, em Afonso Camões em Carlos Alexandre em Rosário Teixeira e em Joana Marques Vidal, Procuradora-geral da República.
Meter as secretas [nos intervalos de escutarem jornalistas e sabe-se lá mais quem?] a escutar a única coisa que parece que ainda não escutam em Portugal: "criminalidade organizada" e "terroristas". Como se diz no Twitter, #win!
[Imagem "Mrs. New Tunes In 1924", National Photo Company]
Se um senhor fulano não tem uma ideia, por mais vaga que seja, sobre a Europa e o mundo e as causas da crise económica que nos assolam, um simplório, um indigente intelectual. E se esse senhor fulano tem no Governo, como parceiro de coligação, outro senhor fulano que ostenta no palmarés uma 'Distinguished Public Service Award', atribuída pelo Dart Vader de George W. Bush como reconhecimento pelo papel que desempenhou como adjunto do mordomo Durão Barroso na Cimeira das Lajes que inventou uma guerra onde ela não existia, logo um senhor fulano fiável e de confiança, só por masoquismo, ou voyeurismo tipo Correio da Manhã [cada uma por si ou as duas em conjunto], é que os serviços secretos iam perder o seu preciso tempo a ouvir conversa da treta.
Parece que anda tudo em polvorosa por o Procurador-geral do Reino ter dito que ouvia uns barulhos estranhos no telemóvel e como tal desconfiava que o tinha sob escuta. Sinceramente que não vejo o porquê de tanto burburinho. Só se for por a situação durar há já tanto tempo e ninguém lhe pôr cobro. Ou já está tudo esquecido da escuta encontrada no gabinete do ex-Procurador Cunha Rodrigues, sem nunca ninguém ter sabido onde é que ia dar o fio do microfone?
Se eu fosse um adepto da teoria da conspiração podia invocar para aqui os X-Files e aquela espécie de directório cuja face visível era o sinistro Câncer Man,sempre de cigarro na boca, e que estava para lá da Lei e do Governo; punha e dispunha, decidia políticas e administrações. Ou os barões, baronesas, viscondes e viscondessas referidos na entrevista têm relação com isto?