Se questo è un uomo *
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"O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?
E o homem do leme disse, tremendo:
El-Rei D. João Segundo!
De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso,
Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?
E o homem do leme tremeu, e disse:
El-Rei D. João Segundo!
Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um Povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo;
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!"
A partir do minuto 15:46
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O pontapé de saída havia sido dado por Joacine Katar Moreira quando, no primeiro dia como deputada, papagueou qualquer coisa sobre o colonialismo e a escravatura enquanto posava à sombra do óleo de Domingos Rebelo no Salão Nobre da Assembleia da República com a representação da recepção de Vasco da Gama pelos emissários do Samorim de Calecute. Tudo a ver.
Agora, à boleia da revisão da História em curso nos Estados Unidos e em Inglaterra, um qualquer imbecil vandalizou a estátua do Padre António Vieira em Lisboa, precisamente ele, uma voz à frente no seu tempo, contra a escravatura e defensor dos índios brasileiros, perseguido pela Inquisição. É o triunfo da ignorância.
"What am I bid?" Undercover footage of a slave auction in Libya, where smugglers sold migrants for as little as $400.
[Via]
Tempos houve em que era normal a escravatura, e depois outros tempos em que a escravatura só era aceitável nos trabalhos considerados menos dignos pelas e para as raças ditas superiores, e depois tempos em que era normal trabalhar até morrer, seguidos por tempos em que era normal trabalhar de sol a sol, todos os dias do ano, até aos tempos em que havia um horário de trabalho, um dia de descanso por semana e férias por conta de quem as metia, para os tempos de horários de trabalho de 35 horas semanais, com dois dias de folga por semana mais feriados e pontes e 25 dias de férias pagas, o tempo em que até já há um Índice Global da Escravatura que diz que Portugal, em dois anos, subiu "35 posições no ranking dos 167 países com maior índice de escravatura — passou de 157.º para 122.º", e que este aumento significativo se deve à mudança de método usado, afinação, para chegar às estimativas. E quando chegar o tempo em que a mudança do método usado, a afinação para chegar às estimativas, passar a considerar um salário digno, que permita a todos os cidadãos satisfazer todas necessidades básicas e ainda lhes sobrar algum para o lazer e aforrar para alguma eventualidade, quantos países é que acompanham Portugal na subida significativa no ranking da escravatura?
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"Família acusada de escravizar homem durante 26 anos numa herdade de Évora"
Mas será um objetivo seguramente importante para cumprir nos próximos anos. [Baixar os custos do trabalho para as empresas]
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E não me estou a referir especificamente ao texto ilustrado pela imagem, mas também ao fantabulástico crescimento económico do Império do Meio, de sol a sol trezentos e sessenta e cinco dias por ano sem direitos nem garantias, e à homenagem a Arnaldo Matos que a nova direita neo-liberal, do bê-á-bá da política nas fileiras do “contra o social-fascismo” e o “social-imperialismo”, nunca fez, e que atingiu o seu Princípio de Peter com Durão Barroso, para desgraça da Europa e mordidas na língua dos "da importância de ter um português blah-blah-blah", na presidência da Comissão Europeia, apesar de ter "nascido" para a política já com Mao morto e enterrado.
Se calhar, e em nome da competitividade e para baixar os custos de produção pelo crescimento da economia, mandava de volta os escravos para as plantações.
A capa da Time, edição USA.
«Actualmente, existen unos 20.000 menores africanos que han sido abandonados por los equipos y sobreviven en las calles de nuestros países.»
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No dia em que se comemoram os 249 anos da abolição da escravatura em Portugal, ficamos a saber que no Vale do Cávado «Empresas pedem dinheiro e obrigam desempregado a trabalhar de graça para carimbar declarações de prova junto do centro de emprego»
Uma das características dos “escudeiros” do Capitalismo, aliás comum aos “escudeiros do Comunismo, é a de só falarem naquilo que lhes interessa, e, quando não há volta a dar-lhe, dourarem “a pílula” nem que para isso tenham de dizer só meia verdade - ou meia mentira -, consoante o ponto de vista.
E porquê? – Não se alonga… Podia aconselhar ao escriba a leitura de Naomi Klein em No Logo – O Poder das Marcas, que vem lá tudo explicado tim tim por tim tim, mas isso era o mesmo que tentar ensinar um padre a rezar a missa.
(Imagem de autor desconhecido)
Nesta “coisa” das 7 Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo, uma das “maravilhas” a concurso era a Cidade Velha de Santiago
Há bocado ouvi na RTP1 uma menina referir a Cidade Velha de Santiago como “importante entreposto humano”. Assim mesmo. E assim vai a História de Portugal e assim vai a nossa relação com a nossa História.