"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
No tempo em que os hiper e supermercados encerravam ao domingo, "para descanso do pessoal", a questão, agora urgente, da poupança de energia, não se colocava. E não era sequer por não haver uma guerra qualquer na Europa. As pessoas governavam-se na mesma porque sabiam com o que contavam, organizavam a vida, sobrava-lhes um dia, para descanso do pessoal, da família. O dia do senhor, do senhor trabalhador.. Agora era juntar-lhe os centros comerciais. Para poupança de energia, descanso do pessoal e mais qualidade de vida, devida.
O que é que leva um primeiro-ministro e um ministro do ambiente, insuspeitos de ligações ao maoísmo como muitos que por aí pululam, a fazer a defesa instrasigente dos interesses de uma empresa nacionalizada pelo Estado chinês e que vende a energia aos portugueses e às empresas a preços proibitivos?
Anda uma pessoa a aprender na escola e a ler em tudo o que é jornal e a ouvir a toda a hora em tudo o que é debate e entrevista que os custos de produção são os factores com maior peso na competitividade das empresas, para isto.
Estas coisas são todas muito bonitas e ficamos todos muito contentes e com o ego inflamado numa espécie de masturbação colectiva, porque além de ser muito bom para o ambiente ainda reduz a factura energética a pagar pelo país.
Mas eu, que de Economia só aquela básica lá de casa, herdada do meus pais que por sua vez herdaram dos seus e por aí, que consiste na fórmula simples “se ganhas 100 não podes gastar 110”, desculpem que mal pergunte: mas assim sendo, porque é que a conta da luz não baixa nas facturas dos consumidores? Afinal o vento e o sol e o mar estão ali mesmo à mão de semear e não é necessário pagar nada por eles…
Eu não queria pensar que o que se poupa no petróleo vai parar aos bolsos de meia dúzia de chicos-espertos.