"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Diz que as empresas vão mostrar o seu encargo com a TSU dos trabalhadores porque "temos [têm] de combater a ideia de que se se olhar para a Segurança Social estamos a pôr em causa as pensões" e mais outras coisas muito importantes, em economês tudo resumido: coitadinho do patrão e o Estado ladrão. E depois disto tudo mostrado as empresas vão também mostrar no recibo de vencimento a mais-valia com cada um dos trabalhador... colaboradores. Se calhar é melhor não.
[Imagem "British prime minister Margaret Thatcher covering her face with her hand at the 1985 Conservative Party Conference"]
Ainda me lembro do meu pai só ter um dia de folga por semana. E ainda me lembro do meu pai só ter 10 dias de férias por ano, não remuneradas. E não foi assim há tanto tempo quanto isso, foi até meados da década de 70 do século passado. Tudo em nome da produtividade, da economia, do crescimento, e do descalabro que seria para as empresas e para o país, por esta ordem, a irresponsabilidade das modernices dos dois dias de folga por semana e mais um mês de férias pagas, a dobrar por via do subsídio. E não foi assim há tanto tempo quanto isso, foi até meados da década de 70 do século passado.
"Para que o IRS Jovem dê frutos, é essencial que as empresas não se apropriem do ganho fiscal e não baixem na mesma proporção o salário, admite o secretário de Estado"
A dona Maria Guilhermina, da Casa Botónia no Porto, desmonta o parlapié da direita do tugão das empresas que criam riqueza, do cortar na massa salarial e do despedir em tempos de crise.
"O representante do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Lisboa, Albert Jaeger, foi a Madrid explicar por que razão é tão difícil a reabilitação económica de Portugal, mesmo depois da aplicação de um programa de ajustamento que durou três anos."
"Portugal é o país da União Europeia onde há mais empregadores e trabalhadores por conta de outrem sem formação secundária e superior. Média da UE é de 17%."
"O economista do MIT, em Massachusetts, estudou a relação entre a gestão de milhares de empresas de 35 países, incluindo Portugal, com o crescimento económico. A concorrência é fundamental, "mas leva muito tempo até funcionar", diz."
"O ministro dos Negócios Estrangeiros viu-se envolvido numa polémica com a Confederação Empresarial de Portugal, tendo afirmado que um dos principais problemas das empresas portuguesas é a fraquíssima qualidade da sua gestão. "Não quis ofender, se o efeito foi esse só tenho que me penitenciar", referiu em declarações à rádio "TSF"."
As empresas querem governos que, numa Parceria Público-Privado, limpem as listas do Instituto do Emprego e Formação Profissional de desempregados, através de estágios, formação profissional e emprego em empresas privadas, subsidiado pelo dinheiro do contribuinte, não emprego no Estado, mas emprego pago pelo Estado. É o mui famoso "aliviar o peso do Estado na economia". Para esses todos [os desempregados] desesperados, é um emprego, qualquer que seja, que interessa, já que é sempre o Estado quem cria emprego e riqueza, ainda que por interposta pessoa.
Depois do índice de desemprego a baixar sem que se dê pelo emprego a subir, temos agora o índice da falência de empresas a cair de ano para ano sem que se dê pelas empresas que nascem para as substituir.
E quando não houver mais empresas para falir vai ser um ano fantástico em relação ao ano anterior porque o número de falências foi zero, o que nos levará então a deduzir que o contexto para as empresas portuguesas, e para a economia, melhorou substancialmente apesar de já não haver nenhuma.
O homem com mais tempo de vida política activa nos 40 anos que levamos de democracia, toda ela assente numa rede de intrigas [juro que não vou entrar pelas intrigas no backstage para alcançar a liderança do partido, conveniente enfabuladas por uma rodagem do carro como quem não quer a coisa, até à mais recente inventona das escutas a Belém], crispações com as outras forças políticas [a queda do Governo do Bloco Central e depois as mui célebres "forças de bloqueio", "deixem-nos trabalhar"], insultos à inteligência dos seus co-cidadãos e a promoção da destruição da agricultura e pescas do país nos anos de ouro dos fundos comunitários, faz um upgrade da velha máxima salazarenta "a minha política é o trabalho" e truna e mistura deliberadamente o campo das empresas com o campo da política [malgré a história do PPD, primeiro e do PSD, depois, ser toda ela feita de uma promiscuidade entre empresas e política] para passar recados aos políticos, para se pôr de fora, ele que não é político, para apagar o seu passado de político que nunca foi político:
As empresas são tudo isso, crescimento económico, criação de emprego, conquista de novos mercados e também agressividade, muita, crispações, muitas, e insultos, dentro de portas, fora dos holofotes mediáticos. E a política é isso tudo também, e é disso tudo que nascem as diferenças e as alternativas.
A lengalenga é simples e até que já passou a verdade científica de tantas vezes repetida pelo primeiro-ministro, senhor Coelho, pelo vice-trampolineiro vice-primeiro-ministro, senhor Portas, e por todos os senhores, doutores e engenheiros, aios e escudeiros, com lugar cativo no comentário e análise politiqueira-economês a todas as horas e em todas as televisões.
As empresas pediam dinheiro aos bancos para satisfazer as suas necessidades de financiamento e os bancos, por sua vez, endividavam-se "lá fora" [e o "lá fora" é qualquer coisa de transcendente e etéreo, o nível imediatamente a seguir ao "eles" da vox pop] para satisfazer as necessidades das empresas, daí o mal que caiu sobre todos nós e o purgatório por mil anos, sem que ninguém os interrompa, logo na hora, com uma pergunta simples: e os bancos, endividavam-se "lá fora" para satisfazer as necessidades das empresas porque sim, porque eram bem mandados, tipo se os mandassem atirar-se de um penhasco abaixo eles iam?
O que o "camarada" Belmiro não explicou foi porque é que os trabalhadores portugueses, os melhores do mundo, segundo os empresários e patrões bifes e boches, e segundo também o Governo, quando quer puxar dos galões para se armar ao pingarelho, os mesmos que prestam pouco, ou mesmo para nada, cá, produzem lá, na Alemanha e na Inglaterra, "de facto", "uma coisa igual, parecida", ou até melhor, que "um trabalhador alemão ou inglês, seja o que for", a trabalhar menos horas por dia, com mais dias de férias, com mais regalias, dadas pelas empresas, com apoios e protecção social, para os próprios e para as famílias, da parte do Estado, e com um salário incomparavelmente mais elevado.
Tem razão o "camarada" Belmiro, é "através da educação das pessoas", e, em Manuel Machadês, "um vintém é vintém e um cretino é um cretino":
As empresas, que criam emprego e geram riqueza, como dizem o senhor Coelho e o senhor Portas, com grandes sorrisos nas caras e com os escudeiros todos a bater palmas de pé, e que gerem o Estado como se de uma empresa se tratasse, abdicam de defender o interesse público, e o dinheiro das famílias, outro tema caro, e nem sequer actuam como a administração de uma empresa, que querem à força que o Estado seja, em defesa do dinheiro do accionista-contribuinte, antes optando por antecipar o lucro aos bancos, como se o dinheiro da empresa, que querem que o Estado seja, fosse deles. Não é à toa que há sempre um banqueiro disponível para pagar o salário do líder quando o líder está na oposição.
São estes senhores, que moram dentro das estações de televisão, e que todos os dias e a todas as horas aparecem à janela para nos dizer que os portugueses viveram muitos anos, demasiados, acima das suas possibilidades por causa do crédito fácil, e mais o endividamento familiar e que há que arrepiar caminho e que agora vai ser a doer e que o Estado está falido e não pode acudir a tudo e que há muitas famílias que vão entrar em incumprimento, paciência, e essas coisas assim:
Mas o Estado não pode, não está no plano, é contraproducente. E tal. Mas querem gerir o Estado como se de uma empresa se tratasse. Mas é o que “lhes” interessa.