"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Diz que as empresas vão mostrar o seu encargo com a TSU dos trabalhadores porque "temos [têm] de combater a ideia de que se se olhar para a Segurança Social estamos a pôr em causa as pensões" e mais outras coisas muito importantes, em economês tudo resumido: coitadinho do patrão e o Estado ladrão. E depois disto tudo mostrado as empresas vão também mostrar no recibo de vencimento a mais-valia com cada um dos trabalhador... colaboradores. Se calhar é melhor não.
[Imagem "British prime minister Margaret Thatcher covering her face with her hand at the 1985 Conservative Party Conference"]
O clip de lançamento do novo disco dos Rolling Stones com 80 anos de idade é com imagens dos Rolling Stones com 20 anos e, por coincidência, é apresentado no mesmo dia em que é notícia estar Portugal no pódio dos países com maior precariedade da União Europeia, sem que nenhum jornalista se lembrasse de interromper o homem cujo passado se "chama Passos", o Passos do "baixar os custos do trabalho foi a reforma que ficou por fazer", quando perorava de cor sobre amuos a que não assistiu, o que tinha ele a dizer sobre isso, ele que deu o corpo às balas, enquanto líder da bancada parlamentar de suporte ao Governo, nas políticas de incentivo à precariedade, um Governo pejado de "técnicos" e "especialistas" recrutados nos blogues onde gastavam rios de tinta com a precariedade boa para a economia e para o crescimento económico por actuar como pressão sobre os malandros e calaceiros, ler: "todos os portugueses", sempre no fio da navalha com o desemprego como ameaça e com o exército de desempregados à espreita da oportunidade, o desemprego como estrutural e não como conjuntural, fazes o que o patrão manda e caladinho.
O PSD é assim a modos que um clip dos Rolling Stones, são sempre novos, o passado nunca aconteceu, ou se aconteceu é coisa dos socialistas.
"Patrões dizem que um horário de trabalho é inoportuno".
"Patrões dizem que 8 horas de horário de trabalho é inoportuno".
"Patrões dizem que um dia de descanso semanal é inoportuno".
"Patrões dizem que dois dias de descanso semanal é inoportuno".
"Patrões dizem que duas semanas de férias é inoportuno".
"Patrões dizem que 22 dias de férias é inoportuno".
"Patrões dizem que férias pagas é inoportuno".
"Patrões dizem que atribuição de um 13.º mês é inoportuno".
"Patrões dizem que pagamento de subsídio de refeição é inoportuno".
"Patrões dizem que 3 meses de licença de maternidade é inoportuno".
"Patrões dizem que 120 dias de licença parental é inoportuno".
"Patrões dizem que 150 dias de licença parental partilhada é inoportuno".
E podíamos começar a contagem das inoportunidades, por exemplo, na Revolução Industrial, para não recuar muito no tempo, porque no que toca a terminar "o futuro a Deus pertence", como diz o povo, se é que alguma vez vão terminar. E o que falta ali atrás, que a descrição não é exaustiva.
E o problema nem é os patrões dizerem na câmara corportativ... concertação social o que lhes vai na real gana, o problema é os papagaios que não sendo patrões repetem o que os patrões dizem.
O negócio não encerra definitivamente por falta de empregados, por quebra das receitas, por custos insuportáveis, por isto ou por aquilo. O negócio encerra temporáriamente [com acento e tudo] por falta de funcionários, não que faltem ao trabalho, mas que pura e simplesmente não aceitam trabalhar, vá-se lá saber porquê. Tanta coisa a dizer sobre encerramento...
As pessoas não querem trabalhar 10, 12, ou mais horas por dia, a horários impróprios com impróprias horas de refeição, com dias de folga que não lembram ao diabo e com férias quando ninguém as quer ter, a aturarem desde a maior besta do mundo ao cavalheiro mais simpático e educado, com contratos de trabalho a termo incerto e na maioria apalavrados, pelo preço de um salário mínimo nacional e gorjetas a dividir por todos. A solução passa por pagar-lhes, no mínimo, salários de hospedeira, já que servem "cafés, laranjadas e chás"? Nope, "a solução para esta falta de mão-de-obra passa por um programa de imigração organizado", Odemiras a perder de vista, se calhar apoiadas pelo Governo e subsidiadas com o dinheiro dos impostos dos que ganham de salário de hospedeira para cima.
O salário nunca ser tido nem achado na equação já não causa surpresa a ninguém. Numa zona do país há décadas sangrada para a emigração a solução passa trazer imigrantes, com a benção da câmara municipal, uma Odemira a norte. Não ouviram o Joe Biden, não sabem falar 'amaricano'.
"Todas as empresas do setor, sem exceção, estão a necessitar de pessoal para satisfazer encomendas, mas não encontram. Está a ser dramático."
A dona Maria Guilhermina, da Casa Botónia no Porto, desmonta o parlapié da direita do tugão das empresas que criam riqueza, do cortar na massa salarial e do despedir em tempos de crise.
Até aos anos 80 do século passado era assim a paisagem nas colinas e montes que rodeiam a cidade de Setúbal [na imagem retirada do livro Fartas de Viver na Lama- 25 de Abril. O Castelo Velho e outros bairros], barracas feitas com as caixas dos carros Austin Morris que eram montados na fábrica de Setúbal, operários especializados, com salário e descontos para a Segurança Social, a produzirem carros para a exportação mas sem rendimento que permitisse a compra ou o aluguer de uma habitação condigna. A mulher, quando não ficava em casa, andava na casa de outros "a dias" ou na indústria conserveira quando o apito da fábrica tocava à chegada dos barcos. Os putos cresciam lá em cima, uns com os outros, ao Deus-dará, os índios.
47 anos depois dos 48 anos antes o estudo A Pobreza em Portugal – Trajectos e Quotidianos, da Fundação Francisco Manuel dos Santos diz-nos que em Portugal pelo menos 11% dos trabalhadores são pobres, apesar de terem trabalho e salário certo ao fim do mês. Mais de um terço dos pobres em Portugal são trabalhadores, a maioria dos quais com vínculos estáveis e salários certos ao fim do mês.
E isto tem um nome. E já cansa repetir. E cansa a ladaínha do "portugueses de bem", do "vai para a tua terra", do "povo honesto" que serve para desviar o foco, meter o miserável a olhar para baixo, contra o ainda mais miserável, aquele que na canção do Gabriel, O Pensador, tem como objectivo na vida "morar numa favela".
O célebre "temos de fazer mais com menos" com que Pedro Passos Coelho nos brindou durante os quase cinco anos de Governo da troika explicado com um desenho.
E agora como é que vamos lutar contra o capitalismo em França, Alemanha, UK, Luxemburgo, Suíça, etc. , que dá emprego e paga salários justos aos injustiçados do capitalismo em Portugal, sem desestabilizar o sistema económico e social em cada país, já que o argumento terá obrigatoriamente de passar por mais emprego e salários mais justos para os nativos, pressionados pela emigração portuguesa, e com isso criar uma onda xenófoba e racista como reacção?
"E o Sol brilhará para todos nós"? [E a Venezuela aqui tão perto].
Cortaram o subsídio de desemprego, no valor e na duração, e ainda o Rendimento Social de Inserção porque era preciso obrigar os manhosos e os calaceiros a saírem de casa para procurar os empregos que não havia.
Cortaram os dias de férias, reduziram feriados e aumentaram o horário de trabalho porque era preciso trabalhar mais e ganhar menos para recuperar um país.
Cortaram o valor a pagar pela hora extra e dia feriado e ainda os valores das indemnizações a pagar por despedimento porque era urgente fazer mais com menos e dar sustentabilidade às empresas que é quem cria riqueza e emprego.
Aplicaram taxas e contribuições sobre o IRS, o subsídio de férias e o subsídio de Natal, vulgo 13.º mês, porque o dinheiro não chegava para nada e havia que cumprir perante os credores que nos salvaram da desgraça.
Depois disto tudo o primeiro-ministro vem a público lastimar-se que a reforma que havia deixado por por fazer tinha sido a de baixar os custos do trabalho e ganha as eleições poucos meses depois.
Só temos o que merecemos e ainda assim foi pouco.
Portugueses trabalham mais horas e têm menos férias do que a média europeia