"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
A gente lê e não acredita: António Costa, que desde sempre, e um dia havemos de saber porquê, quer ver Pedro Marques comissário europeu com o pelouro dos fundos estruturais, como se a partir do momento da investidura qualquer comissário passasse a ser o comissário do país e a beneficiar o pais de origem em relação aos outros, avançou com a candidatura de Elisa Ferreira para a pasta da Economia e Finanças, sabendo antecipadamente das diminutas possibilidades do nome ser aceite, por causa da presidência de Mário Centeno no Eurogrupo e da "improbabilidade de a nova presidente da Comissão colocar dois portugueses como interlocutores directos em matérias estruturantes da União, como a economia e as finanças", conseguindo assim que o objectivo primeiro - Pedro Marques nos fundos estruturais, seja alcançado. E Elisa Ferreira prestou-se ao papel de ser bisca lambida num jogo de cartas na "gamela de Bruxelas"...
Pelo espanto que não causou, pelas reacções, e tampouco pelo estado de estupor, que não provocou nos cidadãos, em geral, e nos actores políticos, em particular, e por só falhar um dos factores definidos nos 60s por Johan Galtung e Mari Holmboe Ruge para o valor de uma notícia [Amplitude, Frequência, Negatividade, Clareza], o factor Carácter Inesperado:
Insinuar que no Porto-cidade, o "factor FC Porto" - sim, ao contrário do que possa parecerr não é o "factor Benfica" - é determinante na escolha para presidente da Câmara, apesar de não serem 6 milhões os eleitores; ou que o Porto pode ser uma nação mas o Benfica é um Universo; ou que o apoiante Pinto da Costa caminha a passos largos para o tri-campeonato das derrotas ao lado do PS. Ah, Bruxelas é outro campeonato…
Pegando nas “provocações” da entrevista, faço a minha provocação: o “Noroeste peninsular” – cidades pujantes e com identidade própria como Aveiro, Braga, Guimarães ou Vigo – cabe ou quer caber todo dentro do Porto? Ou dito de outra forma, isto não é a recuperação do discurso futebolêz-regionalista de má memória: o Porto, como a Alemanha em 39, necessita de um “espaço vital”?
(Na imagem 1917, J. Reynolds, performing acrobatic and balancing acts on high cornice above 9th Street N.W)
Como se fosse possível dissociar o cidadão Jorge Nuno do presidente do FC Porto Pinto da Costa. Como se tivesse o mesmo peso do Manuel Joaquim de Miragaia, do António Francisco da Cedofeita. Ou do Rui Fernando do Boavista. Jorge Nuno, na candidatura de Elisa Ferreira, é substantivo ou adjectivo? Seja como for isso é irrelevante, já que estão os dois – o substantivo e o adjectivo - habituados a ganhar campeonatos e este ano têm sérias hipóteses de conquistar o Tri.
Consta que lá no Estádio do Dragão, que se Deus quiser um dia há-de ter o nome do cidadão gravado a letras douradas por cima da porta principal, nos intervalos das vitórias é proibido tocar Delfins nos altifalantes…
Adenda: Este post era para ter tido como título: A Angústia do n.º 10 antes da marcação do Livre Directo
No dia 20 de Abril escrevi aqui que era de bom-tom o PS esclarecer o que tenciona fazer caso as candidaturas duplas (autarquias / Parlamento Europeu) de Ana Gomes e Edite Estrela vençam as autarquias onde se candidatam como cabeças de lista.