"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
O enfoque está a ser colocado na elaboração do Orçamento do Estado pelo próximo Governo, que assim vai cair lá para a Primavera de 2016, quando o Orçamento não é tido nem achado, nem vale uma pevide, nas contas eleitorais de Cavaco Silva, mas quando a ideia é dar tempo, quanto mais tempo melhor, à agenda de desmantelamento do Estado e dos serviços públicos, do Estado social, da escola pública e do Serviço Nacional de Saúde , pelo Governo de iniciativa presidencial que é como quem diz o Governo da direita que é como quem diz o Governo PSD/ CDS que é como quem diz o Governo Passos Coelho/ Paulo Portas.
E a clarividência política do Comité Central da Brigada Brejnev de Jerónimo de Sousa.
Mesmo que a sondagem não inclua o "fenómeno" Marinho e Pinto e o novo Livre de Rui Tavares, o Bloco-Lázaro-Central ressuscitado pelas mãos de Cavaco Silva, recuperado do abaixo de zero para onde os cidadãos o remeteram:
A menos que o princípio orientador na Soeiro Pereira Gomes seja o "quanto pior [para o povo e para o país] melhor", na caminhada do PCP para ser Governo, quando os portugueses assim o entenderem, Jerónimo dixit. A menos?
A velha máxima “comunismo é fomismo” metamorfoseou-se em “extremo-direitismo é fomismo”, com o PCP a trocar de posição no Parlamento com um CDS a cavalgar a maior crise económica desde a Grande Depressão, e a capitalizar nas urnas com um discurso a apelar aos instintos mais primários de um eleitorado assolado pelo desemprego, preocupado com o aumento da criminalidade, com medo do imigrante que lhe venha roubar o posto de trabalho e a habilmente redireccionado para olhar para baixo na escala social, para os beneficiários do Rendimento Social de Inserção.
Quem boa cama fizer nela se vai deitar e para bom entendedor meia palavra basta, e o pau pode vir e já não ir e deixarem de folgar as costas. Este resultado do CDS é mau sinal: é sinal que no eleitorado português começa a haver abertura para “experiências” mais radicais.
(Na imagem Great Depression, Dorothea Lange's Migrant Mother)
Da minha varanda observo, enquanto fumo um cigarro, os grupos de pessoas que passam em direcção à escola paravotar. Invariavelmente em família: marido e mulher, pais e filhos, com ou sem idade para votar. Os mais velhos, da geração dos meus pais, eles barbeados, de fato e gravata, elas de cabelo arranjado e de vestido impecavelmente engomado, quase a estrear. Os mais novos, barba de 3 dias e cabelos eriçados de gel, de calções, gangas e t-shirt, ténis e até mesmo chinelos.
No futebol temos o goal average, aqui vamos ter o Presidente em maus lençóis e um futuro radioso de contestações nas empresas, nas escolas, nas fábricas e nas ruas. Dito de outra forma, o Partido Comunista e o Bloco de Esquerda a crescerem. Tudo está bem quando acaba bem, e segue-se um daqueles sinais que se usam nos sms e que significam sorriso :)
« (…) o desconforto cresceu devido ao comportamento de Rui Paulo Figueiredo, um militante do PS e autor de um livro crítico sobre os anos em que o actual Presidente foi primeiro-ministro - Aníbal Cavaco Silva e o PSD (1985-1995). Em mais de uma ocasião, Rui Paulo Figueiredo (…) ter-se-á sentado, sem ser convidado, na mesa de outros membros da comitiva, violando as regras protocolares (…) » (Link)
Alguém no seu perfeito juízo acredita que Aníbal Cavaco Silva, o homem que elevou o termo “unipessoal” à sua potência máxima, seja inocente ao ponto de permitir que a vida privada de cada um dos seus directos colaboradores «só a si diz respeito» e que há assessores de Cavaco que são amigos e privam com dirigentes do PSD, e que até podem «almoçar com uma ou outra pessoa e isso significa o quê?»? Give me a break.
Alguém no seu perfeito juízo acredita que Manuela Ferreira Leite que agarrou no PSD com mão férrea, dando, com a elaboração das listas ao Parlamento, literalmente um coice em toda a oposição interna, seja de tal forma magnânima ao ponto de permitir clipping incriminatório, e sem desmentido, no site da campanha durante duas semanas? Give me a break.
Aqui chegados, e depois da assumpção da “culpa” com um lacónico «Como sabem?», sobra-nos a consolação de sabermos que um cidadão eleito para ser o Presidente de todos os portugueses colabora (in)directamente na elaboração do programa eleitoral do maior partido da oposição, e que quando descoberto larga tinta como o choco para desviar as atenções, e que a comunicação social ao invés de perguntar como é isto possível, inverte o ónus da prova e acusa o Governo de espionagem.
Eu também desconfiava da fartura, quando O-Presidente-De-Todos-Os-Portugueses, pelas suas declarações e pelas suas tomadas de posição no passado recente, faz lembrar um jogador daquele jogo de cartas que dizem ter sido inventado para ser jogado por surdos-mudos: Sueca de seu nome; jogado a pares, e onde os sinais dissimulados e o entrosamento com o parceiro são tudo. Só que o parceiro deste jogo parece ser a líder do maior partido da oposição.
(Na imagem Telephone Equipment Used in Bookie Operation via Chicago Tribune)
O Presidente já tinha telefonado ao Presidente eleito da Guiné-Bissau, Malam Bacai Sanhá, a dar-lhe conta que não iria estar presente na sua tomada de posse, justificando-se com a campanha eleitoral para as legislativas em Portugal, uma desculpa no mínimo - e não querendo ser deselegante – mal-amanhada.
Afinal parece que há mais gente que este Verão também não “vai à Guiné”.
O termo "por carolice" aplica-se, nomeadamente e excluindo os “camaradas” que passam o verão a construir a Festa do Avante!, aos dirigentes dos clubes de bairro. É o chamado trabalhar para “aquecer” ou “por amor à camisola”. De resto diz o povo na sua infinita sabedoria que “de graça nem os cães vão à caça”.
Mas o que é que uma coisa tem a ver com a outra? Nem quero pensar que a presença e a “orientação” do Presidente seja imprescindível a alguma campanha de algum partido…