"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
A RTP está a entrevistar os vários líderes partidários a seguir ao telejornal da 1, a propósito das eleições antecipadas que aí vêm.
Ontem, na entrevista ao taberneiro, líder do partido da taberna, foi "o combate à corrupção", "a bandidagem", "a corrupção", "a malandragem"; "o combate à corrupção". Siga. E seguiu para hoje, com o delegado de turma do Ilusão Liberal a dizer querer um "departamento de eficiência governamental", e não há sequer a hipóteses de ser lapso porque o disse duas vezes.
Dois governos de maioria absoluta depois - um de incidência parlamentar, outro de maioria parlamentar, e um de minoria absoluta e por favor, dito de outra maneira, no último ano de mandato Marcelo descobriu os "becos, de natureza pessoal e ética, que não têm saída, que não sejam as eleições". Não ter a puta da vergonha na cara é isto.
A direita, que mais que não querer eleições tem medo de ir a votos, a propósito de um hipotético chumbo do Orçamento do Estado no Parlamento, paulatinamente vai construindo a narrativa de que ninguém, o pagode, quer ir a votos, e que ninguém, o pagode, percebe que se queira ir para eleições. É como aquelas canções foleiras que passam na rádio e de que ninguém gosta mas que ao fim de tocadas uma vez por hora toda a gente as canta na rua.
O PSD vai resolver o problema dos médicos e do Serviço Nacional de Saúde quando se alçar ao poder, e o militante Jorge Roque da Cunha, e dirigente sindical vitalício, vai deixar de convocar greves na tradição de que quando o partido em que milita é Governo a coisa é para deixar andar;
O PSD vai fazer isto tudo e ainda baixar os impostos e fazer tudo aquilo que sempre disse que não fazia quando foi Governo e de caminho diminuir a dívida pública e manter as contas certas.
O problema é que ninguém, dos professores ao médicos passando pelos polícias e enfermeiros e forças armadas e administração pública em geral quer esperar sentada pela chegada do PSD ao poder para lhes resolver os problemas e quer a coisa já para ontem, ainda com os socialistas mesmo com o Governo demissionário. Se calhar por haver uma diferença entre fé e fezada.
Este Orçamento do Estado para 2024 não é um bom orçamento mas é melhor que o orçamento que o antecedeu, e ainda melhor que governar por duodécimos. Mas este Orçamento do Estado para 2024, que não deve ser aprovado porque é um mau orçamento, já tem a missa rezada caso a direita se alce ao poder: um rectificativo enquanto não elabora a um pior que este, que é mau e que não deve ser aprovado, e ainda pior que os outros que o antecederam. A lógica do quanto pior melhor dos amigos do povo.
Eleito a 24 de Janeiro, em plena pandemia Covid, com debate no dia Mundial da Ressaca - 1 de Janeiro, e campanha com tiro de partida a 10, Marcelo invoca a salvação do Natal, que ajudou a enterrar quando andou a saltitar de praia em praia, de hotel em hotel, de imperial em imperial, de bola de Berlim em bola de Berlim, de visita a lar a visita a lar, para, enquanto Presidente de facção e contra a opinião de todos os partidos com assento parlamentar, excepto um, aquele que mais lucrará, por via dos pré anunciados acordos de governação, com a ascensão do histriónico Rangel ao poder, marcar eleições para dia 30. António Costa, o senhor Silva dos Estrangeiros e o esquerdista Ferro Rodrigues, celebram o voto em Marcelo com uma garrafinha de Água das Pedras, que ser "de esquerda" contra os "radicais de esquerda" é outra loiça. Quem boa cama fizer nela se há-de deitar, vox pop.
O dia que soubemos todos que o FMI estava a "ajudar a Grécia" pelas notícias nos jornais todos que davam conta de que o FMI suspendia a "ajuda a Grécia" até à tomada de posse do novo Governo.
E como a opinião pública só deve opinar aquilo que convém à opinião privada, ao que vamos assistir é àqueles que potenciaram o crescimento e a vitória eleitoral do Syriza montados na besta das sete cabeças e dos dez chifres, assim como João a descreve no Livro do Apocalipse, a anunciar o fim do mundo, ou vá lá, o fim da Europa, caso o Syryza vença as eleições.
Como tive oportunidade de escrever aqui e aqui, a ideia era respaldar, pela "porta do cavalo", o Governo de iniciativa presidencial. O pós-troika é para ser discutido pós-mandato, com outro Governo, outra maioria [?], e outro Presidente.
«Vários membros do Conselho de Estado defenderam ontem na reunião de sete horas deste órgão que Portugal vive uma situação de crise política que só pode ser resolvida com eleições antecipada […]»