"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Eleito a 24 de Janeiro, em plena pandemia Covid, com debate no dia Mundial da Ressaca - 1 de Janeiro, e campanha com tiro de partida a 10, Marcelo invoca a salvação do Natal, que ajudou a enterrar quando andou a saltitar de praia em praia, de hotel em hotel, de imperial em imperial, de bola de Berlim em bola de Berlim, de visita a lar a visita a lar, para, enquanto Presidente de facção e contra a opinião de todos os partidos com assento parlamentar, excepto um, aquele que mais lucrará, por via dos pré anunciados acordos de governação, com a ascensão do histriónico Rangel ao poder, marcar eleições para dia 30. António Costa, o senhor Silva dos Estrangeiros e o esquerdista Ferro Rodrigues, celebram o voto em Marcelo com uma garrafinha de Água das Pedras, que ser "de esquerda" contra os "radicais de esquerda" é outra loiça. Quem boa cama fizer nela se há-de deitar, vox pop.
O dia que soubemos todos que o FMI estava a "ajudar a Grécia" pelas notícias nos jornais todos que davam conta de que o FMI suspendia a "ajuda a Grécia" até à tomada de posse do novo Governo.
E como a opinião pública só deve opinar aquilo que convém à opinião privada, ao que vamos assistir é àqueles que potenciaram o crescimento e a vitória eleitoral do Syriza montados na besta das sete cabeças e dos dez chifres, assim como João a descreve no Livro do Apocalipse, a anunciar o fim do mundo, ou vá lá, o fim da Europa, caso o Syryza vença as eleições.
Como tive oportunidade de escrever aqui e aqui, a ideia era respaldar, pela "porta do cavalo", o Governo de iniciativa presidencial. O pós-troika é para ser discutido pós-mandato, com outro Governo, outra maioria [?], e outro Presidente.
«Vários membros do Conselho de Estado defenderam ontem na reunião de sete horas deste órgão que Portugal vive uma situação de crise política que só pode ser resolvida com eleições antecipada […]»
"socialistas à frente", "recuperação significativa", "empate técnico", "preferência dos inquiridos", "nem o PS nem o PSD conseguiriam uma maioria absoluta". O que a sondagem não projecta é qual o número de cidadãos eleitores que não se vão dar ao trabalho de se deslocar às assembleias de voto no próximo dia 5 de Junho. Por desinteresse, porque estão no seu direito em não o fazer, por descontentamento para com os partidos, para com o sistema politico-partidário, para com os resultados da governação, ou simplesmente porque sim. E devidamente estratificados por motivações. Não projecta mas devia. Assim resta-nos olhar para trás, para as goleadas cada vez maiores com que a abstenção tem vindo a brindar as formações em jogo nestes 30 e muitos anos de Democracia, somar a isto a crise económica e social e arriscar antever um "saldo negativo", um "intervalo [cada vez maior] de (des)confiança", e uma "taxa de resposta" a apontar para a vergonha de todos os intervenientes.
Ricardo Rodrigues tem de aparecer, tem de ganhar notoriedade, tem de ser mediático, tem de entrar na calha para a sucessão. No jogo de cumplicidades políticos/ media, media/ políticos é um risco que o PS arrisca correr, quiçá alicerçado na máxima de Jorge Coelho de que “há muita fraca memória na política e nos políticos”. E nos eleitores?
Comités populares, de bairro, de fábrica, de lares da terceira idade, de esquina e de café. Do infantário. O que Otelo nos diz é que a crise que o país atravessa proporciona o aparecimento de todo o tipo de loucos salvadores da Pátria.
O tempo de Otelo já passou - praise the Lord! -, mas, como cantava Fausto na Madrugada dos Trapeiros, “atrás dos tempos vêm tempos e outros tempos hão-de vir”, e convém não baixar a guarda:
O que é preocupante, do ponto de vista do cidadão anónimo, aquela faixa do eleitorado, flutuante, que oscila entre o PS e o PSD e que costuma decidir as eleições, não são as recusas, conhecidas até à data, para integrar as listas de deputados do PSD às eleições de 5 de Junho. Preocupante é os convites terem sido endereçados a tais personalidades. E diz muito. Sobre quem convida, sobre quem é convidado, e, sobretudo, sobre as expectativas para o que aí vai vir.