"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Qualquer que seja o ângulo, da "liberdade económica" à liberdade de expressão passando pelo regular funcionamento das instituições, entre o accionista e o contribuinte optam pela defesa do primeiro. Se dúvidas houvesse. Pelo caminho dão mais um passo na legitimação do fascismo. Comparar António Costa a Viktor Órban, o racista e homofóbico homem de mão de Putin na União Europeia. Make Portugal Great Again.
Quando o Partido Socialista em 2013, na oposição e em pleno consulado da troika, propõe a descida do IVA da electricidade de de 23% para 13% e, chegado ao Governo, uma das primeiras medidas que toma é baixar o IVA da restauração em 2016, na exacta percentagem dos 23% para 13% que anos antes tinha proposto para a electricidade, causando um prejuízo ao Estado avaliado em 385, 3 milhões de euros, e que chegado 2020, quatro anos depois, com o boom do turismo e o aumento de volume de negócios que a restauração teve, opta por manter o IVA, de um bem não essencial, tal e qual como está, em prejuízo de um bem de primeira necessidade - a electricidade. Governar é feito na base de opções, o primeiro-ministro e o Partido Socialista escusavam era de gozar com os cidadãos, além de feio paga-se caro nas urnas.
Reformulada sob a égide um Governo neoliberal tuga ["tuga" no sentido depreciativo do termo]:
Aumentam as tarifas eléctricas se houver um aumento do consumo de energia eléctrica, porque há mais procura. Se, por outro lado, houver uma "diminuição do consumo de energia eléctrica", as tarifas aumentam para compensar o decréscimo da procura.
Vá-se lá saber porquê, não lhe deu para dizer que os preços da electricidade abaixo da média europeia lhe pagam um salário de 3,1 milhões de euros, superior ao do presidente da Microsoft, Steve Balmer, ou do falecido Steve Jobs da Apple, e que, desde 2006, já acumulou remunerações superiores a 11 milhões de euros. Esta gente não presta.
Apesar da DECO ter como máxima e lema o nome do álbum dos Mothers of Inventation, "We're Only in It for the Money", apesar da DECO nos spammar a caixa do correio e o e-mail com promoções dignas das "excursões de reformados" num fim-de-semana a Lourdes, organizadas por obscuras empresas espanholas, e que acabam na venda de colchões ortopédicos que até endireitam marrecas de nascença, e relógios de pulso que até dão horas debaixo de água a mais de 30 metros de profundidade sem enferrujar, tudo pago em suaves prestações, apesar disso tudo que toda a gente está farta de saber, os primeiros a apontar o dedo à comissão cobrada pela DECO foram os "liberais" que estão na primeira linha da defesa das comissões bancárias porque sim e porque sem sistema bancário não há economia, da ciência das notações especulativas atribuídas pelas agências de rating, da legalidade dos contratos swap, da recapitalização da banca com o dinheiro dos contribuintes, dos juros da dívida que não são altos nem são um problema, do esbulho ao rendimento dos contribuintes pelos colaboracionistas Coelho-Gaspar-Portas, da bondade do mercado auto-regulado, do "não há almoços grátis". É isso não é?
O Governo, eleito pelos cidadãos, jornal de parede do sector privado porque, como é por todos sabido, a riqueza de um país são as empresas e não as pessoas.
Resumindo e concluindo: no final do ano, quando for apresentado o relatório e contas, vamos ficar todos a saber que a acrescentar aos lucros já de si astronómicos a dividir pelos accionistas e para pagar os salários e demais mordomias aos senhores Mexias, 522 milhões de euros foram "generosa" contribuição do contribuinte, sem que tenha visto reduzida a factura a pagar no final do mês e ainda que continue a pagar a electricidade mais cara do que o vizinho espanhol.