"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Cada um tem o seu campeonato dentro do campeonato que é espremer resultados eleitorais para conseguir não perder umas eleições nem sequer levar uma abada. Mais a piada que se fez sozinha, o candidato vitalício do PCP na Madeira passar toda uma campanha eleitoral a dizer que tinha chegado a hora da mudança.
Mais vale cair em graça do que ser engraçado e Jerónimo de Sousa, que tem por imagem de marca o recorrer a provérbios e ditos populares "por dá cá aquela palha", devia ter este à cabeceira e perceber, ainda que habitando outra dimensão, os limites do engraçadismo para não ter de levar "nas entrelinhas" e com retroactivos.
Ainda em modo Jerónimo de Sousa, "toma e embrulha". E ficamos por aqui porque já tens, Jerónimo, idade suficiente para ser do tempo das "companheiras", figuras secundárias e obedientes, de apoio ao camarada militante nas casas clandestinas. Um bom chefe de família. Macho man.
O wishful thinking da direita, ressabiada e analfabeta política, "vencedora" das eleições mas a continuar sem perceber o funcionamento do sistema parlamentar-constitucional, é que a derrota de Edgar Silva nas Presidenciais seja o empurrão para o PCP fazer cair o XXI Governo Constitucional, o do Costa, o do monhé [à boca pequena] e assim haver um regresso triunfante de Pedro Passos Coelho ao poder, agora em coligação com alguém que o CDS queira disponibilizar e que tenha coluna vertebral para pau-mandado [que Paulo Portas já viu o filme e saiu de mansinho antes que fosse tarde] e antes que comecem as manobras de bastidores dentro do PSD, que o "pote" já era. O PCP que se viu na obrigação de se chegar à frente no day after às legislativas de 2015, pressionado pelo resultado eleitoral do Bloco de Esquerda, ia agora chegar-se atrás e tirar o tapete a António Costa, ao PS e ao Bloco de Esquerda, pressionado pela "vitória" eleitoral de Marisa Matias. Que os comunistas são tudo e até malucos, sabem. Wishful thinking.
Da última vez que tinha ouvido falar em "chapelada" eleitoral tinha sido na casa do avô Zé, à roda da mesa de jantar, era eu um puto e o pai contava quando uns fulanos da Legião Portuguesa apareceram no quartel com uns boletins de voto que eles, depois de "aconselhados" pelo comandante da companhia, na parada em formatura, depositaram numa caixa. Não, o pai não esteve na tropa na ilhas adjacentes da Madeira e Porto Santo, esteve no Regimento de Infantaria de Évora.
Depois, quando os teóricos da treta vierem "ó da guarda e aqui d’el rei" com a qualidade da democracia e a credibilidade dos políticos e dos partidos e o afastamento dos cidadãos da cousa pública e que o populismo grassa e as conversas de taxista e o não-sei-quantos, lembrem-se de que a argumentação da defesa não passa pela má ou boa utilização das verbas mas pela competência do tribunal para julgar, e por o os deputados estarem a ser "julgados nestes autos sem que o Tribunal suscitasse e obtivesse o levantamento da imunidade". Assim como no futebol do Apito Dourado, onde a argumentação não foi a veracidade das escutas telefónicas mas a sua legalidade.