"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Acordei bem disposto e rapidamente fiquei chateado.
O Público publica hoje um excerto do meu post, supostamente sobre o projecto-lei do Bloco para o divórcio. Só que o busílis da questão é que o post não é sobre o projecto-lei, mas sobre o que escreveu Vasco Pulido Valente a propósito do projecto. Convenhamos que é substancialmente diferente…
É uma crítica à argumentação machista-paternalista-classista usada pelo senhor Vasco Guedes. Só que, ao ler o bocadinho fora do contexto publicado pelo Público, fiquei com a impressão que o Der Terrorist era contra o projecto-lei (ou foi só impressão minha?!).
Salva-se o facto de que agora haver um link para o blogue, e as pessoas sempre podem ler o resto; o que falta. Aquelas que se derem ao trabalho; que estiverem para aí viradas. Ficam a faltar as outras…
“O domingo é um dia consagrado à família, quer os portugueses queiram quer não queiram. Claro que, graças ao projecto de lei do PS, os portugueses poderão agora dissolver a família sem culpa. Ficarão sem nada para fazer ao domingo à tarde.”
A continuação do texto que, hipocritamente, João Miranda não escreveu é: “Ficarão sem nada para fazer ao domingo à tarde, e, alegremente, irão passear até ao Hipermercado” De cuja abertura aos domingos João Miranda é um acérrimo defensor. Para aqui a família já não é chamada…
Divórcio; projectos-lei do PS e do Bloco? Uma questão de classes. Especificamente, “classe média próspera”. Beneficia o homem, porque em média ganha mais que a mulher. Os outros, os que sobram, idem idem, aspas, aspas. O mercado de trabalho favorece o homem e desfavorece a mulher. A mulher fica com os filhos. Machismo? Não. Mais uma questão de honra e moral; qual cavaleiro da Távola Redonda; qual Sir Thomas Malory e o Código dos Cavaleiros! Proteger e cuidar da Senhora até ao último sopro de vida.
Ele, Vasco Guedes, pode divorciar-se. Não uma; não duas; nem três; mas quatro vezes! Uma questão de classes. Ele e as ex-wifes pertencem a outra classe; alta / média-alta onde o homem já se libertou dessa coisa do “apoio à família”e da “protecção à Senhora”. A mulher ganha bem. Tão bem quanto o homem; e deve ter cérebro. (Tanto ou mais que o homem?). Sempre o homem…
Machismo? Não. Uma questão de classes. E dentro das classes o tal cavaleiro medieval que, se preocupa não só com a Senhora, mas também com a estabilidade das classes inferiores.
Adenda: Não deixa de ter a sua piada ver um divorciado – Pedro Santana Lopes – votar contra o projecto-lei do divórcio a pedido de um dos cônjuges. Não deixa de ter a sua piada, Luís Filipe Menezes – outro divorciado – mostrar reticências ao mesmo projecto-lei. Também uma questão de classes? Sempre há quem se livre destes incómodos e vá casar a Las Vegas. Outra vez as classes!