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DER TERRORIST

"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.

Mundos paralelos

por josé simões, em 25.09.08

 

Com o boom da industrialização no Distrito de Setúbal, assistiu-se a uma afluência em massa de populações para as zonas do Barreiro, Baixa da Banheira, Alhos Vedros e algumas franjas da Moita. Originárias do Alentejo (a grande maioria) e dos PALOPs (uma minoria), e ainda outra minoria que foram os retornados das ex-colónias. O boom da industrialização originou o boom da construção habitacional e o caos urbanístico.

 

As populações alentejanas alugavam ou compravam casa.

A grande maioria das casas (andares) próprias, em prédios de arquitectura típica dos anos 60 (3 andares esquerdo / direito mais rés-do-chão), é propriedade de trabalhadores duma mesma empresa. O factor identidades fez-se pela origem (Alentejo), e pelo trabalho (Quimigal, Fisipe, CP, etc.). Para se ter uma noção da importância demográfica que tinham as populações originárias do Alentejo, a piada em voga era dizer que a capital do Alentejo era a Baixa da Banheira.

 

As populações africanas construíram bairros de lata que posteriormente, com as politicas de habitação social, deram origem aos guetos de que o Vale da Amoreira é o exemplo mais mediático.

 

Os “alentejanos” tinham empregos qualitativamente melhores que os “pretos”, confinados a trabalhos de construção civil e de limpeza e/ ou recolha de lixo.

As duas populações, salvo raras excepções, viveram sempre lado-a-lado mas nunca se misturaram. Houve sempre um racismo recíproco latente. Uma única realidade comum às duas: desenraizamento.

 

Nos anos 80, com o encerramento de algumas fábricas, privatização de outras, e o boom dos empreiteiros prestadores de serviços veio o desemprego e a miséria no Distrito.

Desemprego e falta de emprego. Abandono escolar. Falta de equipamentos.

 

A descendência alentejana descambou para o consumo de drogas e a pequena delinquência: pequeno tráfico para pagar o vicio, pequenos furtos, prostituição feminina (nas ruas à volta do antigo Hospital do Barreiro). Ainda assim uma minoria.

 

A descendência africana deu origem aos gangs, carjaking, criminalidade violenta. A grande maioria.

 

Mas isto não pode ser dito porque é racismo e xenofobia.

 

(Foto roubada no La Repubblica)

 

 

 

Um dia histórico

por josé simões, em 03.04.08

 

Hoje é um dia histórico para o distrito de Setúbal e para as suas gentes; e em especial para os habitantes do concelho do Barreiro. Pela primeira vez em muitos e longos anos, uma obra pública que, por via da sua localização, não vai fomentar a especulação imobiliária nem o desordenamento do território. Num distrito que pelas suas opções eleitorais, foi durante décadas castigado politica e economicamente; num distrito que se habituou a sofrer em silêncio, e que, apesar disso, e do esquecimento a que foi votado pelo poder central e pelos sucessivos governos, nunca ergueu bandeiras regionalistas em torno de personagens mais ou menos populistas, ou em torno de outros, não menos “manhosos”, ligados ao clubismo doentio e aos futebóis.
 
Uma obra para servir as populações residentes e não para fomentar migrações de população como aconteceu com a ponte Vasco da Gama.
 
A ponte é uma passagem prá outra margem”; cantavam os Jáfumega nos anos 80. Venha a ponte, que já ontem era tarde!