Mundos paralelos
Com o boom da industrialização no Distrito de Setúbal, assistiu-se a uma afluência em massa de populações para as zonas do Barreiro, Baixa da Banheira, Alhos Vedros e algumas franjas da Moita. Originárias do Alentejo (a grande maioria) e dos PALOPs (uma minoria), e ainda outra minoria que foram os retornados das ex-colónias. O boom da industrialização originou o boom da construção habitacional e o caos urbanístico.
As populações alentejanas alugavam ou compravam casa.
A grande maioria das casas (andares) próprias, em prédios de arquitectura típica dos anos 60 (3 andares esquerdo / direito mais rés-do-chão), é propriedade de trabalhadores duma mesma empresa. O factor identidades fez-se pela origem (Alentejo), e pelo trabalho (Quimigal, Fisipe, CP, etc.). Para se ter uma noção da importância demográfica que tinham as populações originárias do Alentejo, a piada em voga era dizer que a capital do Alentejo era a Baixa da Banheira.
As populações africanas construíram bairros de lata que posteriormente, com as politicas de habitação social, deram origem aos guetos de que o Vale da Amoreira é o exemplo mais mediático.
Os “alentejanos” tinham empregos qualitativamente melhores que os “pretos”, confinados a trabalhos de construção civil e de limpeza e/ ou recolha de lixo.
As duas populações, salvo raras excepções, viveram sempre lado-a-lado mas nunca se misturaram. Houve sempre um racismo recíproco latente. Uma única realidade comum às duas: desenraizamento.
Nos anos 80, com o encerramento de algumas fábricas, privatização de outras, e o boom dos empreiteiros prestadores de serviços veio o desemprego e a miséria no Distrito.
Desemprego e falta de emprego. Abandono escolar. Falta de equipamentos.
A descendência alentejana descambou para o consumo de drogas e a pequena delinquência: pequeno tráfico para pagar o vicio, pequenos furtos, prostituição feminina (nas ruas à volta do antigo Hospital do Barreiro). Ainda assim uma minoria.
A descendência africana deu origem aos gangs, carjaking, criminalidade violenta. A grande maioria.
Mas isto não pode ser dito porque é racismo e xenofobia.
(Foto roubada no La Repubblica)