"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Não só Berlusconi era uma excelente pessoa como até ficou rico a trabalhar, "começou por baixo". Em matéria de elogios fúnebres ninguém supera a direita pantomineira.
A liderança da direita, prontamente replicada pelos comissários políticos com avença e lugar cativo em todos os órgãos de comunicação social, que as soluções da esquerda são taxar tudo até chegarmos à Venezuela, que não tem mais nada para argumentar que não seja os já idos sete anos do governo da troika, onde a direita taxou tudo, a caminho da Venezuela, sem conseguir agora, hoje, dizer qual a fórmula para as reformas estruturais necessárias que não o taxar, despedir, precarizar, transferir valor do trabalho para o capital.
Adenda: O esforço e dedicação que as televisões fizeram para meter o não deputado Luís Montenegro no debato do estado da Nação.
Orbán, o homem de mão de Putin dentro da União Europeia, crescido e engordado pelo Partido Popular Europeu, da direita dona da democracia. Anos a fio com o comunismo, Cuba e a Venezuela, o esquerdismo e o 25 de Novembro, o totalitarismo comunista, rebéubéu pardais ao ninho, enquanto engordavam Orbán. Agora estamos reféns do Putin, pelas posições do camarada húngaro, e os donos da democracia nem um pio.
Anos a fio com a independência da magistratura, a separação dos poderes, o primado do direito e o respeito pelos direitos humanos, enquanto na Hungria, mesmo debaixo dos doutos e democráticos narizes, Orbán limpava o rabo a isso tudo e ainda à independência da comunicação social, para agora se ensaiar dentro de portas uma "via GOP" na tomada por dentro do Constitucional, com a indicação, pelos pares da direita dona da democracia, de um fanático que defende a punição do mensageiro - a comunicação social, no caso de fugas ao segredo de justiça, e cita como fonte científica experiências levadas a cabo pelos nazis em campos de concentração, tudo isto explicável e desculpável ao abrigo do princípio da "liberdade de expressão".
A direita, dona da democracia, tem um problema com a democracia.
No day after às eleições vamos estar todos nos media e nas redes a concluir que António Costa passou tempo demais a falar de Rui Rio na campanha eleitoral?
No tempo de antena do bando de alucinados que Santana Lopes arregimentou para fundar um partido que dá pelo nome de "Aliança", e do qual se pôs ao fresco mais depressa que o trabalho de parto, depois de chocar de frente com a realidade que é o valor da marca "PSD", pede-se "uma direita liberta do passado".
[A imagem é minha, propositadamente desfocada por causa do passado que "está lá atrás"]
"Há cada vez mais funcionários públicos em Portugal". "Temos de pôr fim a esta rebaldaria geringonço-socialista". "A extrema-esquerda aposta no funcionalismo público porque é a sua base eleitoral". "Chulos". "Manhosos". "Ide mazé trabalhar!".
Ventas sai à rua à frente de um bando de fascistas, vestido de colete amarelo a apelar à insubordinação, no dia a seguir a direita dita democrática, que não enjeita coligação com o Chaga para se alçar ao poder, aos magotes em acção concertada, indigna-se nas "redes" com uma manif de ciclistas no mesmo dia em defesa de uma ciclovia.
Com a vossa kultura democrática"enganam quem quiser ser enganado.
A direita, que desde o início da pandemia clama que o Serviço Nacional de Saúde e a escola pública estão em falência por falta de médicos, enfermeiros, professores, auxiliares, et cætera, profissionais dispensados, ou não contratados para colmatar faltas e falhas nos serviços, com o argumento do "emagrecimento do Estado" quando a direita foi poder, é a direita que agora protesta contra o maior aumento de funcionários públicos nos últimos nove anos, por via do "despesismo socialista" que não olha ao dinheiro do contribuinte. Confusos? Nope, a ideia é desmantelar o Estado social e meter o contribuinte a pagar o lucro do negócio da saúde e do ensino privado. Pelo caminho diz que a esquerda é contra o lucro.
A terceira ideia é que a direita está sustentadamente a ganhar ímpeto, imune ou até reforçada pelos ataques que lhe são dirigidos e mesmo com o CDS (0,9%) a passar o pior momento da sua história. Juntos, bastam Chega e Iniciativa Liberal (13,2%) para ultrapassar a esquerda radical composta por BE e PCP (12,6%).
Joana Petiz, ponta-de-lança da direita radical no Diário de Notícias, num texto que nos explica que "radical" é a esquerda, que os salazaristas bafientos Diogo Pacheco de Amorim e Carlos Clanco de Morais são "Novas marés, melhores marinheiros" - "juntos bastam", e que acaba a classificar como radicalmente conservadores o PCP e o... Chega.
Uma corja saudosa de um tempo que não viveu - Portugal orgulhosamente só e ausência de qualquer liberdade que não a do regime suprimir a dos cidadãos, organiza um arraial debaixo da lona "Europa e Liberdade". Engana quem quiser ser enganado.
O comissário marcelista para o Dia da Raça em Portalegre escreve hoje que "a velha direita tem de aprender a conviver com nova direita" contra o risco do país ficar nas mãos da esquerda até 2030. Ler: o PSD e o CDS, à imagem do que fizeram nos Açores, se quiserem alçar-se ao poder têm de perder a pouca vergonha que lhes resta e aliarem-se à "nova direita". O comissário marcelista para o Dia da Raça em Portalegre chama "nova direita" à direita que foi apeada do poder faz dia 25 deste mês 47 anos. Não há memória. Não interesse que haja memória. E não há neste momento maior normalizador do fascismo em Portugal do que o comissário marcelista para o Dia da Raça em Portalegre. Militante, já merecia um lugar no Observador.
O dia em que ficámos todos a saber que o PS, com 37,6% nas intenções de voto, é ultrapassado pela direita "graças ao fôlego dos liberais", com uns estratosféricos 5,7%. Mas como é que possível a alguém que circula a 6 à hora ultrapassar outrem que vai a 40, seja pela direita ou seja pela esquerda? É que "a soma dos partidos à direita volta a ser superior à projecção eleitoral dos socialistas", apesar da soma dos partidos à esquerda - PS + BE + PCP + Livre, ser 52,4%, contra os 39,5% da direita - PSD + CDS + Iniciativa liberal + Chega. Maioria absolutíssima de esquerda [o PAN, por não ser carne nem peixe, sem piadismo, não foi considerado nesta soma].
Não se desse o caso de em Portugal cada vez menos gente ler jornais e ainda muito menos o Diário de Notícias e dos que lêem, quer à esquerda quer à direita, saberem fazer contas, isto era mais uma acção de propaganda manhosa para a maioria dos antigamente informados pela leitura das gordas.
A direita que, contra a opinião avisada dos médicos, virologistas, intensivistas e epidemiologistas, pediu a "salvação do Natal" para culpar o Governo em Janeiro pela abertura dada enquanto exigia um novo confinamento em Fevereiro, é a direita que hoje, com o país a atingir o índice de contágio mais baixo desde o início da pandemia e o mais baixo da Europa, pede o desconfinamento já, antes de Março, para lá mais para a frente assacar culpas ao Governo pela abertura dada na Páscoa. Confusos, vocês? Não, é mesmo a raça deles.
Um conjunto de personalidades do espaço "não-socialista", que marcou presença na apresentação do movimento de direita "cinco para as sete" de Miguel Morgado, faz abaixo-assinado a de[s]marcar-se de "nacional-populistas, xenófobos e autocráticos" lado-a-lado com trumpistas de trazer por casa, há quatro anos a dar à pena na imprensa na desvalorização do nacionalismo-populista, da xenofobia e racismo, da autocracia, uns em modo sério, outros em modo palhaço rico, e não convidam o guru para abrilhantar o evento. Espera aí que o pai já vai.