"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
A direita que convive bem com a propaganda dominical de Luís Marques Mendes e Paulo Portas em horário nobre - Velhos de Portugal, mascarada de análise isenta e desinteressada, é a mesma direita que ficou em estado de alerta com os Jovens de Portugal nas redes e no tubo, pela desmontagem da propaganda da direita, com recurso à memória do que foi a anterior governação da velha direita, agora regressada e apresentada como nova. Uns estarão a incorrer em várias infracções, os outros não estão a incorrer em infracções nenhumas e ainda são pagos para isso.
[Na imagem a cerimónia tomada de posse de Carlos Moedas como presidente da câmara na Praça do Município em Lisboa]
Com o país a crescer acima de média da União Europeia, a Segurança Social com um excedente de 5,46 mil milhões de euros, a dívida pública abaixo dos três dígitos - 98,7%, Portugal como o sétimo país mais seguro do mundo, o partido da taberna vai passar a campanha eleitoral a berrar nas ruas "Isto é monhés por todo o lado! Alguns até rezam virados para Meca!", "Um gajo quer sair à rua e não pode que é logo assaltado!", e o irmão gémeo Ilusão Liberal a martelar contra a carga fiscal, a AD - Anedota de Direita, contra o "gonçalvismo" que nos esbulha com impostos, coadjuvados pelos ex líderes partidários, agora comentadores "independentes", nas noites de domingo da televisão do militante n.º 1 e na CNN Portugal, mentira azar, a "carga fiscal foi de 38% em Portugal em 2022, abaixo da média europeia". Daqui até 10 de Março vai ser terrível com os "Goebbels" de pacotilha nas televisões.
Do Chega ao irmão gémeo no Parlamento, Ilusão Liberal, passando pelo PSD da salgalhada Montenegro - Rangel - Pinto Luz, com a ajudinha do ressuscitado Cavaco, o argumentário da direita desmontado em vésperas de campanha eleitoral.
[Imagem "Midtown, 1970. From Mean Streets", Edward Grazda]
Não só Berlusconi era uma excelente pessoa como até ficou rico a trabalhar, "começou por baixo". Em matéria de elogios fúnebres ninguém supera a direita pantomineira.
A liderança da direita, prontamente replicada pelos comissários políticos com avença e lugar cativo em todos os órgãos de comunicação social, que as soluções da esquerda são taxar tudo até chegarmos à Venezuela, que não tem mais nada para argumentar que não seja os já idos sete anos do governo da troika, onde a direita taxou tudo, a caminho da Venezuela, sem conseguir agora, hoje, dizer qual a fórmula para as reformas estruturais necessárias que não o taxar, despedir, precarizar, transferir valor do trabalho para o capital.
Adenda: O esforço e dedicação que as televisões fizeram para meter o não deputado Luís Montenegro no debato do estado da Nação.
Orbán, o homem de mão de Putin dentro da União Europeia, crescido e engordado pelo Partido Popular Europeu, da direita dona da democracia. Anos a fio com o comunismo, Cuba e a Venezuela, o esquerdismo e o 25 de Novembro, o totalitarismo comunista, rebéubéu pardais ao ninho, enquanto engordavam Orbán. Agora estamos reféns do Putin, pelas posições do camarada húngaro, e os donos da democracia nem um pio.
Anos a fio com a independência da magistratura, a separação dos poderes, o primado do direito e o respeito pelos direitos humanos, enquanto na Hungria, mesmo debaixo dos doutos e democráticos narizes, Orbán limpava o rabo a isso tudo e ainda à independência da comunicação social, para agora se ensaiar dentro de portas uma "via GOP" na tomada por dentro do Constitucional, com a indicação, pelos pares da direita dona da democracia, de um fanático que defende a punição do mensageiro - a comunicação social, no caso de fugas ao segredo de justiça, e cita como fonte científica experiências levadas a cabo pelos nazis em campos de concentração, tudo isto explicável e desculpável ao abrigo do princípio da "liberdade de expressão".
A direita, dona da democracia, tem um problema com a democracia.
No day after às eleições vamos estar todos nos media e nas redes a concluir que António Costa passou tempo demais a falar de Rui Rio na campanha eleitoral?
No tempo de antena do bando de alucinados que Santana Lopes arregimentou para fundar um partido que dá pelo nome de "Aliança", e do qual se pôs ao fresco mais depressa que o trabalho de parto, depois de chocar de frente com a realidade que é o valor da marca "PSD", pede-se "uma direita liberta do passado".
[A imagem é minha, propositadamente desfocada por causa do passado que "está lá atrás"]
"Há cada vez mais funcionários públicos em Portugal". "Temos de pôr fim a esta rebaldaria geringonço-socialista". "A extrema-esquerda aposta no funcionalismo público porque é a sua base eleitoral". "Chulos". "Manhosos". "Ide mazé trabalhar!".
Ventas sai à rua à frente de um bando de fascistas, vestido de colete amarelo a apelar à insubordinação, no dia a seguir a direita dita democrática, que não enjeita coligação com o Chaga para se alçar ao poder, aos magotes em acção concertada, indigna-se nas "redes" com uma manif de ciclistas no mesmo dia em defesa de uma ciclovia.
Com a vossa kultura democrática"enganam quem quiser ser enganado.
A direita, que desde o início da pandemia clama que o Serviço Nacional de Saúde e a escola pública estão em falência por falta de médicos, enfermeiros, professores, auxiliares, et cætera, profissionais dispensados, ou não contratados para colmatar faltas e falhas nos serviços, com o argumento do "emagrecimento do Estado" quando a direita foi poder, é a direita que agora protesta contra o maior aumento de funcionários públicos nos últimos nove anos, por via do "despesismo socialista" que não olha ao dinheiro do contribuinte. Confusos? Nope, a ideia é desmantelar o Estado social e meter o contribuinte a pagar o lucro do negócio da saúde e do ensino privado. Pelo caminho diz que a esquerda é contra o lucro.
A terceira ideia é que a direita está sustentadamente a ganhar ímpeto, imune ou até reforçada pelos ataques que lhe são dirigidos e mesmo com o CDS (0,9%) a passar o pior momento da sua história. Juntos, bastam Chega e Iniciativa Liberal (13,2%) para ultrapassar a esquerda radical composta por BE e PCP (12,6%).
Joana Petiz, ponta-de-lança da direita radical no Diário de Notícias, num texto que nos explica que "radical" é a esquerda, que os salazaristas bafientos Diogo Pacheco de Amorim e Carlos Clanco de Morais são "Novas marés, melhores marinheiros" - "juntos bastam", e que acaba a classificar como radicalmente conservadores o PCP e o... Chega.
Uma corja saudosa de um tempo que não viveu - Portugal orgulhosamente só e ausência de qualquer liberdade que não a do regime suprimir a dos cidadãos, organiza um arraial debaixo da lona "Europa e Liberdade". Engana quem quiser ser enganado.