"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
"Não há espaço para os moderados, só há espaço para o populismo e para o extremismo, de direita e de esquerda" diz Zé Eduardo, um lugar cativo da direita no frente-a-frente na FOX News do PSD no telejornal inventado pelo Mário Crespo, a atirar areia para os olhos dos distraídos... err... a esquecer-se de que foram os alegados moderados que tanto preza que nos trouxeram até aqui.
Ver espécimes que desde os idos do hi5, passando pelas batalhas nos blogues e o apogeu como comentadeiros e especialistas televisivos depois de uma passagem pelas redes, professam a globalização selvagem, uma fonte interminável de riqueza e bem estar, os novos amanhãs que cantam, exultarem com a vitória de Trump, que fez toda uma campanha a prometer acabar com a globalização. O mérito de ser milionário herdeiro de milionário que fez toda a fortuna na sombra do Estado e que agora promete acabar com o pouco Estado que resta. Porque Trump falou às pessoas, porque Trump se aproximou da classe operária, porque Trump soube ler a alma do povo americano, porque Trump refundou a direita e o conservadorismo [glup], por causa do wookismo, uma quantidade de justificações filosóficas e políticas para a vitória de um cadastrado, racista, homofóbico, bully sexual, misógino, mentiroso compulsivo, quando a explicação é mais simples: é a estupidez, estúpido!
Há um partido político que anda a minar o sistema por dentro. E por "sistema" entende-se Estado de direito democrático. Tropa, polícias e agora bombeiros. Na fase embrionária e ascensão era o PS poder e não quis saber. Agora é o PSD poder e cala. E cala porque lhe interessa. Incorpora as bandeiras no discurso com vista a capitalizar nas urnas. No meio estamos nós, o povo.
A direita, que mais que não querer eleições tem medo de ir a votos, a propósito de um hipotético chumbo do Orçamento do Estado no Parlamento, paulatinamente vai construindo a narrativa de que ninguém, o pagode, quer ir a votos, e que ninguém, o pagode, percebe que se queira ir para eleições. É como aquelas canções foleiras que passam na rádio e de que ninguém gosta mas que ao fim de tocadas uma vez por hora toda a gente as canta na rua.
Quando os juros elevados serviram para equilibrar as contas públicas e reduzir a divida, para a direita ilusionista liberal era o "ilusionismo socialista", agora que os juros elevados fazem disparar os lucros dos bancos, caladinhos, a esquerda tem ódio ao lucro.
A arte destes artistas consiste em meter os miseráveis e remediados a votarem neles enquanto repudiam outros miseráveis e remediados como eles.
"A dona de casa Emilita é muito esperta e desembaraçada, e gosta de ajudar a mãe.
- Minha mãe: já sei varrer a cozinha, arrumar as cadeiras e limpar o pó. Deixe-me pôr hoje a mesa para o jantar.
- Está bem, minha filha. Quando fores grande, hás-de ser boa dona de casa."
«Respeitai as autoridades»
"O pai é a autoridade na família. Os filhos são obrigados a ter-lhe amor, respeito e obediência. O professor é a autoridade na escola. Todos os meninos devem obedecer às suas ordens e estar com atenção às suas lições.
É Deus quem nos manda respeitar os superiores e obedecer às autoridades."
Ano 24 do século XXI e a luta é entre o humanismo e o trogloditismo da direita.
A direita que convive bem com a propaganda dominical de Luís Marques Mendes e Paulo Portas em horário nobre - Velhos de Portugal, mascarada de análise isenta e desinteressada, é a mesma direita que ficou em estado de alerta com os Jovens de Portugal nas redes e no tubo, pela desmontagem da propaganda da direita, com recurso à memória do que foi a anterior governação da velha direita, agora regressada e apresentada como nova. Uns estarão a incorrer em várias infracções, os outros não estão a incorrer em infracções nenhumas e ainda são pagos para isso.
[Na imagem a cerimónia tomada de posse de Carlos Moedas como presidente da câmara na Praça do Município em Lisboa]
Com o país a crescer acima de média da União Europeia, a Segurança Social com um excedente de 5,46 mil milhões de euros, a dívida pública abaixo dos três dígitos - 98,7%, Portugal como o sétimo país mais seguro do mundo, o partido da taberna vai passar a campanha eleitoral a berrar nas ruas "Isto é monhés por todo o lado! Alguns até rezam virados para Meca!", "Um gajo quer sair à rua e não pode que é logo assaltado!", e o irmão gémeo Ilusão Liberal a martelar contra a carga fiscal, a AD - Anedota de Direita, contra o "gonçalvismo" que nos esbulha com impostos, coadjuvados pelos ex líderes partidários, agora comentadores "independentes", nas noites de domingo da televisão do militante n.º 1 e na CNN Portugal, mentira azar, a "carga fiscal foi de 38% em Portugal em 2022, abaixo da média europeia". Daqui até 10 de Março vai ser terrível com os "Goebbels" de pacotilha nas televisões.
Do Chega ao irmão gémeo no Parlamento, Ilusão Liberal, passando pelo PSD da salgalhada Montenegro - Rangel - Pinto Luz, com a ajudinha do ressuscitado Cavaco, o argumentário da direita desmontado em vésperas de campanha eleitoral.
[Imagem "Midtown, 1970. From Mean Streets", Edward Grazda]
Não só Berlusconi era uma excelente pessoa como até ficou rico a trabalhar, "começou por baixo". Em matéria de elogios fúnebres ninguém supera a direita pantomineira.
A liderança da direita, prontamente replicada pelos comissários políticos com avença e lugar cativo em todos os órgãos de comunicação social, que as soluções da esquerda são taxar tudo até chegarmos à Venezuela, que não tem mais nada para argumentar que não seja os já idos sete anos do governo da troika, onde a direita taxou tudo, a caminho da Venezuela, sem conseguir agora, hoje, dizer qual a fórmula para as reformas estruturais necessárias que não o taxar, despedir, precarizar, transferir valor do trabalho para o capital.
Adenda: O esforço e dedicação que as televisões fizeram para meter o não deputado Luís Montenegro no debato do estado da Nação.
Orbán, o homem de mão de Putin dentro da União Europeia, crescido e engordado pelo Partido Popular Europeu, da direita dona da democracia. Anos a fio com o comunismo, Cuba e a Venezuela, o esquerdismo e o 25 de Novembro, o totalitarismo comunista, rebéubéu pardais ao ninho, enquanto engordavam Orbán. Agora estamos reféns do Putin, pelas posições do camarada húngaro, e os donos da democracia nem um pio.
Anos a fio com a independência da magistratura, a separação dos poderes, o primado do direito e o respeito pelos direitos humanos, enquanto na Hungria, mesmo debaixo dos doutos e democráticos narizes, Orbán limpava o rabo a isso tudo e ainda à independência da comunicação social, para agora se ensaiar dentro de portas uma "via GOP" na tomada por dentro do Constitucional, com a indicação, pelos pares da direita dona da democracia, de um fanático que defende a punição do mensageiro - a comunicação social, no caso de fugas ao segredo de justiça, e cita como fonte científica experiências levadas a cabo pelos nazis em campos de concentração, tudo isto explicável e desculpável ao abrigo do princípio da "liberdade de expressão".
A direita, dona da democracia, tem um problema com a democracia.
No day after às eleições vamos estar todos nos media e nas redes a concluir que António Costa passou tempo demais a falar de Rui Rio na campanha eleitoral?