"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Por duas vezes a bancada do PCP ficou imóvel e muda enquanto o Parlamento aplaudia, primeiro Augusto Santos Silva, depois Lula da Silva, na condenação da invasão russa da Ucrânia. O PCP só quer a PaZ! A PaZ! a PaZ!
A Transparência Internacional acusa Bolsonaro de criar o “maior esquema de corrupção institucionalizada” no Brasil, vai daí o Ventas convida o mal-formado para Portugal e manda metade da bancada do Chaga para o Parlamento, de cartazes na mão xingar Lula, a outra metade de bandeira na Ucrânia para ver se a gente se esquece de que quando o energúmeno chegar também chegam Le Pen e Salvini, os amigos do Ventas financiados por Putin.
[Provavelmente o graffiti mais antigo da cidade de Setúbal, desde o dia 26 de Abril de 1974 na parede da antiga conserveira 1.º de Março à Rua Camilo Castelo Branco]
Juntem o cravo branco do CDS ao cravo preto do Chega e temos o Portugal que que eles gostariam de comemorar: o Portugal a preto e branco de 24 de Abril.
[Na imagem, com link, Paula Celeste Caeiro, a mulher que "inventou" o cravo vermelho na revolução]
A Ilusão Liberal, que tem um ex-líder no Twitter a afirmar que "o país evoluiu apesar e não por causa do 25 de Abril" e que antes tinha escrito num blogue que "é falso que sem o processo revolucionário iniciado com o 25 de Abril esses valores [liberdade e democracia] não tivessem prevalecido de qualquer forma", a famosa teoria da "evolução na continuidade" Marcelista, invocada por todos os saudosos da ditadura, apresenta Fernando Figueiredo como candidato à Câmara Municipal de Viseu que, no Facebook, classifica as mulheres que se fazem ouvir como "feministas, histéricas e mal fodidas" e Bernardete Santos à Assembleia Municipal da mesma cidade, que, também na mesma rede, lamenta "tanta crítica, tanta crítica, tanta crítica, mas o homem [Salazar] tinha razão", depois de ter aplaudido a sua eleição como "O Melhor Português de Sempre.
Os donos da democracia queixam-se de que os "donos da liberdade" não os deixam descer a Avenida. Esqueceram-se de lhes dizer que a descida não é no dia 24.
[Na imagem o grafitti político mais antigo da cidade de Setúbal, pintado logo na noite de 25 de Abril de 1974, na parede da fábrica de conservas 1.º de Março na Rua Camilo Castelo Branco].
[Na imagem aquele que provavelmente é o graffiti político mais antigo da cidade de Setúbal, surgido logo na manhã do dia 26 na parede da então fábrica de conservas 1º. de Março à Rua Camilo Castelo Branco]
O que pensar, 42 anos depois, da direita – PSD e CDS, na casa da democracia – a Assembleia da República, em discursos evocativos do 25 de Abril e da liberdade e da democracia e blah-blah-blah, amiúde interrompidos pelas respectivas bancadas parlamentares com muitos aplausos, sentados, mudos e quedos, mãos escondidas debaixo dos tampos das bancadas quando a segunda figura do Estado – o presidente da Assembleia da República agradeceu aos capitães de Abril pelo 25 de Abril, sentados, mudos e quedos, mãos escondidas debaixo dos tampos das bancadas quando a primeira figura do Estado – o Presidente da República, oriundo da sua área política e filho de um ministro da ditadura derrubada pelos capitães de Abril, agradeceu aos militares pelo 25 de Abril e pela liberdade e pela democracia e blah-blah-blah devolvida aos portugueses e que a direita – PSD e CDS evocaram minutos antes. O que pensar desta direita – PSD e CDS que no dia da liberdade vêm falar do 25 de Abril por obrigação? O que pensar?