"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
André Ventura, há dias escreveu esta frase nas redes sociais: "Deus confiou-me a difícil mas honrosa missão de transformar Portugal". Quando é que isso aconteceu?
Miguel Pinheiro entrevista André Ventura para a Rádio Observador.
Assim como na religião católica vox populi, associada e identificada com faixas sociais mais pobres e menos cultas da sociedade e onde há a percepção de que Deus e Jesus/ Jesus e Deus são a mesma pessoa (e a tendência para Os confundir), para Cavaco o mercado não é Deus mas é no mínimo Jesus.
É ridículo, para não lhe chamar outra coisa, invocar Zeus para não proferir a palavra Deus, só porque se é agnóstico, ateu, não crente ou o que lhe quiserem chamar.
Dizer «Deus sabe» é expressão popular, não profissão de Fé.
Independentemente de (quase) toda a gente saber o que ele quer e onde é que ele quer chegar; independentemente de haver quem finja que não percebe e interprete sempre como “o outro”e/ ou “a diferença”. E antes que caiam por aí os inevitáveis, esclareço já que apesar de agnóstico e em certa medida anti-religião, aqui por casa há quem faça o presépio, a árvore de Natal e até quem vá à Missa do Galo! E não é por isso que no dia 24 vamos todos deixar de comer uma bacalhauzada e beber uns copos.
"Já pensaram na pachorra que é preciso para ser Deus? Lidar com toda a humanidade ao mesmo tempo deve ser horrível. É que Deus tem de conviver com todo o tipo de pessoas. Neste caso é mesmo todo o tipo de pessoas. Não há dúvida que Deus tem de ser Deus só para conseguir suportar ser Deus."
Fui até à casa de banho olhar-me no espelho. Fiz um rewind à minha existência. Reli a entrevista de Paulo Teixeira Pinto. Olhei – com olhos de ver – para o seu (PTP) way of life. Concluí: não que tenha abandonado Deus; não que Deus me tenha abandonado; mas, que nunca sequer se dignou a olhar para mim. Sem a menor sombra de dúvida!
(Ao que se chama nascer com o cu virado para a Lua; ou uma possível explicação para o meu agnosticismo militante)
A propósito da “caldeirada” de água (à Setúbal) que hoje caiu, e que deixou a cidade como a imagem mostra; e por ter ouvido na paragem do autocarro, da boca de uma senhora que estava ao meu lado, o comentário “Chove que Deus a dá!” (estranha forma esta que Deus arranjou para dar…), recupero aqui um poema de José Gomes Ferreira, que me saiu na oral de Português do 9.º ano em oitentas do século passado, da forma mais estranha que se possa imaginar.
Chega o sotôr ao exame, chama aqui o ilustre e diz: “Faça o favor de abrir o livro numa página “ao calhas”; “assim seja” pensei eu; e melhor o fiz. Saiu-me o “belo do Zé Gomes” na rifa:
Dia de chuva na cidade triste como não haver liberdade.
Dia infeliz com varões de água a fecharem o mundo numa prisão. E alguém a meu lado com voz múrmura que diz: “ está a cair pão.”
Ah! que vontade de gritar àquela criança seminua sem pão nem sol de roupa: “ Eh! pequena! Deita-te na rua E abre a boca…”
(A foto é de um amigo que, há falta de melhor para fazer, andou a manhã pela cidade de máquina fotográfica na mão)