"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
É no mínimo duvidoso alguém mudar o sentido de voto terminados estes debates de meia hora para o soundbite. E todos os debates foram esclarecedores do que cada um pensa e propõe, todos os debates forma disputados com elevação e respeito. Todos, excepto todos os debates com a participação do taberneiro. Gritaria, mentiras, insultos, mentiras, insinuações, mentiras, ataques ad hominem, mentiras, falta de respeito, mentiras. Quão baixo descemos na nossa exigência cidadã, na nossa exigência democrática, na nossa civilidade, para o trogloditismo ser aceitável, a pontos de eleger deputados da nação?
Um líder cobarde e pobre em argumentação, que encurralado nos debates o melhor que tem para contrapor é "a Venezuela", "Cuba", "socialismo", "trotskismo", que quer alterar as regras a meio do jogo e se propõe ser substituído por outrem, não menos pobre em argumentação, que encurralado nos debates o melhor que lhe vai sair é "a Venezuela", "Cuba", "socialismo", "trotskismo", arrisca acordar substituído, passados os debates, no day after às eleições.
Duelos de meia hora com cada interveniente a ver quem saca mais rápido do sound bite para levar o oponente ao tapete, seguidos de uma hora de "análise" a cargo dos comentadeiros avençados do costume, que é do que o povo precisa, de ouvir a opinião de uma qualquer abécula para formar a sua e decidir em quem meter a cruz no dia do voto. Como dizem os bifes, "for God's sake!".
25 minutos de debate são mais que suficientes para se falar exactamente do mesmo que se fala nos debates de uma hora ou mais e que essencialmente favorecem os pantomineiros malabaristas de palavras.
Da Grécia para Salvaterra de Magos, de Salvaterra de Magos para o programa eleitoral do Partido Socialista, do programa eleitoral do partido socialista para a Grécia. Paulo Portas saltitando levemente de nenúfar em nenúfar à frente de Catarina Martins e de Ana Lourenço.
"O Governo não vai fazer um corte de 600 milhões de euros nas pensões, o Governo vai fazer uma poupança de 600 milhões de euros nas pensões". "Acredite na minha palavra".
Jerónimo: "O Partido socialista e o coise e tal". Catarina: "O coise e tal e o Partido Socialista". E depois, empenhada em fazer jus ao livrinho do camarada Vladimir Ilyitch Uliánov do esquerdismo ser a doença infantil do comunismo, mete o pé na poça até à virilha para gáudio do camarada Jerónimo, "votámos contra o PEC IV porque eles, o PS, queriam cortar salários e privatizar os CTT e mais o coise, enquanto eles, o PSD e o apêndice CDS, queriam ir ao pote e o coise também e, oportunistas, votaram ao nosso lado contra o tal do PEC". Há aqui uma diferença, não sei se estão a ver, porque prontes, os gaijos foram ao pote e cortaram os salários e privatizaram os CTT e agora há que derrubar o pior Governo da direita desde que Salgueiro Maia encurralou o presidente do conselho Marcelo, o padrinho do que quer ser agora Presidente, no Quartel do Carmo, e o PS não é melhor que eles, atenção. E Jerónimo pensa que sim mas não diz nada, nem com as pestanas, que sabe mais de olhos fechados que a Catarina de olhos abertos e que para se enterrar já basta a memória, ou a falta dela, e há que manter o foco, no PS.
Chamem fascista ao doutor Paulo Portas por se referir a Salazar como o "doutor" com um temor referencial na voz, ou por o CDS sempre ter sido albergue de fascistas, velhos e novos, ou um mais civilizado anti-democrata, por integrar o Governo mais inconstitucional da história da democracia, que o doutor tira loga da cartola uma qualquer Lei de Godwin para se esconder atrás e desaparecer por entre os intervalos da chuva, nos dentes o sorriso cínico de superioridade iluminada com que pontua as frases.
Já ele, sem argumentos e para desviar atenções do ridículo com que se cobriu pela vaidade de aparecer a mostrar os botões de punho em prime time nas televisões [é mais forte do que ele], sai detrás de Passos Coelho, onde estava convenientemente escondido na lista da coligação por Lisboa, para se esconder atrás dum descabelado argumento do debate num país comunista, que não há Lei de Godwin que lhe valha.
Mau jornalismo ou como disfarçar os pecadilhos de um vaidoso.
Quando o título correcto seria "Quem boa cama fizer nela se há-de deitar" "Paulo Portas atira-se para debate com Heloísa Apolónia" o photoshop jornalístico inventa um "CDU atira Heloísa Apolónia para debate com Paulo Portas".
Escondido atrás de Pedro Passos Coelho na lista da coligação por Lisboa, o mestre da dissimulação e do passar por entre os intervalos da chuva, de estar sempre à hora certa no sítio certo, que é longe dos problemas e das decisões que lhe possam causar engulhos no futuro, enquanto deputado sempre com um pretexto irrevogável para não comparecer em debates e votações que adivinhava problemáticas, enquanto ministro quase sempre fora do país, ou no país em missão de 'sentido de Estado' para não poder comentar política partidária:
"Criticar-me e depois não querer discutir comigo isso é que já parece um bocadinho 'toca e foge'"
Paulo Portas dividido entre dar lustro aos botões de punho para aparecer debaixo dos holofotes [é mais forte do que ele] com as habituais frases curtas em modo Twitter e arriscar protagonizar o momento "Gato Fedorento" da campanha eleitoral, que é quando monsieur Dupont finge ser monsieur Dupont para debater com monsieur Dupont de modo a não transparecer o casamento de conveniência, insuportavel para ambos os cônjuges, que é esta aliança Portugal À Frente, ou o que lhe dá mais jeito, muito mais jeito, arte em que é mestre, que é desaparecer, como costuma fazer quando não lhe agrada a música, de mansinho, por entre os pingos da chuva e debater com Pedro Passos Coelho por sms.
[O que António Costa quer ou deixa de querer, aqui, é manobra de diversão; Jerónimo vs. Apolónia – Apolónia vs. Jerónimo é só para compor a peça].
Como é que vão ser os debates/ frente-a-frente entre Pedro Passos Coelho e Paulo Portas, consagrados na nova «Lei que define os princípios que regem a cobertura jornalística das eleições e referendos nacionais», da autoria dos deputados do PSD Luís Montenegro e Carlos Abreu Amorim e dos deputados do CDS Nuno Magalhães e Telmo Correia, aprovada com os votos favoravies do PSD e do CDS e votos contra de toda a oposição e que incluí a chico-espertice de dar a voz a Paulo Portas, via forças políticas com assento parlamentar, ao invés do "líder" da coligação que se apresenta aos eleitores?
[Na imagem "Beija o anel mas não lambuzes se não queres que peça uma factura detalhada com a listagem de todos os sms e se na próxima legislatura não quiseres ir de tuk tuk para a Assembleia da República"]
Aquelas folhas arrancadas ao caderno e dobradas em forma de paliteiro de alumínio, como nos restaurantes à moda antiga, e que se punham em cima da secretária nos primeiros dias de aulas com o nome escrito até o stôr saber quem era quem, deviam ser obrigatórias nos debates e nos programas de análise política e económica nas televisões, à frente dos respectivos paineleiros. Fulano de tal deputado pelo partido tal e empregado na empresa no banco no escritório de advogados tal. Passava logo tudo a fazer sentido para o cidadão anónimo e distraído. A bem da transparência.