"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
«o primeiro-ministro reiterou que o Estado apenas emprestou dinheiro ao Fundo de Resolução. "É dinheiro que está a render"», disse, a propósito da recapitalização do Novo Banco, Passos Coelho em 23 de Setembro de 2015, e com isso levou com o PS todo em cima, desde o Parlamento aos blogues, passando pelo Facebook e pelo Twitter e pelas colunas de opinião dos avençados diversos na imprensa escrita.
Ontem, no debate quinzenal no Parlamento, António Costa saiu-se com esta e levou com o PS todo em cima, a aplaudir. muito.
Andámos anos a ouvir a direita no poder, e às vezes também o PS, a acusar a Fenprof, os sindicatos, os professores, o comissário Mário Nogueira, a mando da CGTP, a mando do PCP, de irresponsabilidade pela marcação de greves por alturas das provas de avaliação e exames. Hoje ouvimos todos a direita na oposição, pela boca de Assunção Cristas do CDS, no debate quinzenal no Parlamento acusar o ministro da Educação de irresponsabilidade por, com a sua intransigência em não ceder às reivindicações dos sindicatos, pôr em causa a avaliação dos alunos no final do ano lectivo. E isto é a chamada espinha dorsal de plasticina.
Desde que em 2007 Paulo Portas foi à Madeira citar Auschwitz no Dia do Trabalhador que não acontecia nada de tão relevante na política nacional. A sério!
Ouvir o CDS Nuno Magalhães invocar "o coração da propriedade privada" – as heranças e as doações, no debate quinzenal no Parlamento, para questionar António Costa a propósito de uma alegada reposição do imposto sucessório, faz-me lembrar a história de Afonso VI de Leão e Castela – O Bravo, que herdou do pai, Fernando I – O Magno, o Reino de Leão, que era tudo propriedade privada, por direito e investidura divina com a bênção papal e que já vinha desde tempos remotos, até ao dia em que um tal Henrique de Borgonha, como recompensa por ter ajudado Afonso a tirar a propriedade privada a outros privados, ter levado a filha Teresa e mais um bocado de propriedade privada como recompensa – o Condado Portucalense. A partir daí é mais História, com o neto de Afonso a bater na mãe e a bater em tudo o que mexia e respirava a sul de Guimarães, a tirar propriedade privada a outros privados e a distribuir propriedade privada por privados amigos, hábito que a sua descendência nunca havia de perder até chegar ao ponto em que a propriedade privada, por razões geográficas e políticas, deixou de poder ser tirada a outros privados e começou a ser transmitida por herança, doação ou cruzamentos sanguíneos, até aos dias de hoje, dias em que "o coração da propriedade privada" vai a debate parlamentar pela mão do partido do coração da propriedade privada, ex partido do ex-combatente, da lavoura, do contribuinte, do idoso do reformado e que me desculpem os que ficaram esquecidos.
«Passos explicou que o governo na electricidade passou a taxa de reduzida para normal, e na restauração de intermédia para o nível normal. "Como vê, não aumentei a taxa do IVA", concluiu.»
Somos lixo ou abaixo de lixo ou BB ou Ba1ou BB+ [gráfico] mas "pela primeira vez na sua história" Portugal faz "emissão de bilhetes do Tesouro a taxas negativas". Diz que é "um reflexo da confiança que o país angariou com as reformas feitas na sequência do programa de ajustamento".
Para sermos todos ainda mais estúpidos o primeiro-ministro, com a voz de barítono debaixo de penteado, ombros curvados e sem olhar os interlocutores olhos-nos-olhos, como é seu timbre, devia explicar esta 'malabarice' aos portugueses.
Para quem o governo grego nunca é "o governo grego" mas "o governo do Syriza", se calhar por lhe parecer estranho que alguém se proponha levar a cabo como governo o que prometeu durante a campanha eleitoral enquanto partido, também "a dignidade dos portugueses não ter sido atingida" não devia ser confundido com "a dignidade dos portugueses" mas antes com a falta de coluna vertebral dele próprio, Pedro Passos Coelho, enquanto líder do maior partido da oposição eleito [com um programa de mentiras] primeiro-ministro, [subserviente ao estrangeiro e às corporações], ao partido a que preside e que o suporta no Parlamento, ao seu vice no Governo, Paulo Portas, e ao grupo de escudeiros que o segue com nome de partido, o CDS, não necessariamente por esta ordem.