"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Na impossibilidade de depoimento presencial, com suporte vídeo e audio para posteriormente fazer chegar aos media tablóide e passar em repeat na televisão do Correio da Manha [sem til] até ao julgamento e condenação na praça pública no grande circo da justiça, apareceu a lista das perguntas "a que a RTP teve acesso" e "a que a SIC teve acesso". Segue-se o tradicional "o Ministério Pública suspeita".
Ditou o sorteio que a instrução do processo caiba a um juiz que acredita que os arguidos têm direitos e que não vale tudo ao Departamento Central de Investigação e Acção Penal na investigação nem ao Ministério Público na organização dos processos. Se fosse na América era a democracia no Estado de direito dos checks and balances a funcionar, como é em Portugal é só mais uma chatice [do caralho], com os profissionais de serviço às "redes" no próprio minuto do sorteio a lançarem rajadas de suspeitas sobre a idoneidade do juiz. Depois de meses em campanha eleitoral pela reeleição de Joana Marques Vidal. Isto nunca pára. Habituem-se.
A credibilidade da investigação criminal mede-se pelos anos, longos anos, a ouvir dizer nas televisões e a ler nos jornais em julgamentos e condenações públicas que "o ministério público acredita" e nunca ouvir dizer "o ministério público tem provas", já não digo irrefutáveis mas pelo menos provas.
A entrevista concedida pelo honesto, sóbrio e austero "O que é aquilo? É um avião? É o Super-Homem? Não, é o Super-Juiz Carlos Alexandre" à televisão do militante n.º 1 e ao jornal do militante n.º 1 que, e para o caso em concreto e nas circunstâncias actuais e pela tambiquice subjacente, será sempre o jornal do militante n.º 1 e a televisão do militante n.º 1, foi a pedido do dito cujo Super-Juiz ou foi uma fezada de uma básica aprendiz-estagiária de jornalismo destacada para o Instituto de Medicina Legal para cobrir [salvo seja] os óbitos e que se viu sem saber ler nem escrever com uma furo nas unhas? Não parecendo a resposta a isto ajuda muito a perceber tudo o resto
Os nossos cortes salariais começaram logo com "o engenheiro José Sócrates" primeiro-ministro. Não tenho amigos, nem herança, nem família, tenho de trabalhar para pagar as contas. Ainda "o engenheiro José Sócrates não era primeiro-ministo. E o prazo do "inquérito" está na deadline. Numa entrevista a citar Orwell e que começa na porta da igreja na saída da procissão. É uma questão de Fé e não há a "delação premiada", como no Brasil, para confirmar a nossa fé, que Deus é brasileiro, e poupar massa cinzenta na investigação criminal, como no CSI na FOX Crime. Podia ter ido para padre foi para juiz. Vocações. Não sou uma pessoa de quem devam ter medo. No país onde alguém pode estar 1 ano preso sem saber do que é acusado.
tu-ru tu-ru tu-ruuuuu... tu-ru tu-ru-turu, a banda sonora dos X Files.
Tenham medo, muito medo. Começou com extra-terrestres, acabou com o Cancer Man. Os X Files.
No especial sobre o Sócras que a televisão do militante n.º 1 – SIC Notícias, meteu no ar, por coincidência, e só por coincidência, logo na noite em que a coligação PàFiosa viu a esperança sancionatória da Comissão Europeia desmontada, e onde a única surpresa foi a ausência do 'especialista' Nuno Rogeiro num painel que incluía um Zé Gomes 'programa-de-governo' Ferreira a interromper as férias para ir até ao estúdio de Faro fazer uma perninha e perorar sobre os indícios nas auto-estradas onde não passa ninguém, nem ele, e nas PPP's, enquanto fazia alarde da sua burrice em relação a uma coisa chamada "inversão do ónus da prova" e de outra coisa chamada Constituição da República Portuguesa à guarda do Tribunal Constitucional, ouvimos, todos, um magistrado justificar a sua incompetência com a ausência da bufaria legalizada na investigação criminal – "delação premiada", Brasil style. Poder torturar para obter uma confissão se calhar também ajudava. Ou então somos nós que passamos demasiado tempo a ver CSI's na televisão, com investigações no estrito cumprimento dos prazos e do Estado de direito.
O que nenhum super-juiz ainda explicou, de viva voz ou através dos gabinetes de comunicação do Tribunal de Instrução Criminal – Correio da Manha e Sol, mas devia, digo eu que não percebo nada disto mas que gosto de tudo muito explicadinho, até por causa dos "alarmes sociais" e tais, é porque é que com José Sócrates foi tiro e queda, da manga do avião para a choça e da choça para as buscas e rebuscas na "casa dos segredos" na Rua Bran Can como dizem na televisão, logo meia dúzia de horas depois e com Ricardo Salgado foi tiro e vá lá V. Exa. , comendador, não é mas podia ser, descansado, que a gente vai fazer uma busca e uma rebusca daqui por 120 dias, se é que aquele hiato entre a detenção para falar com o meritíssimo e as notícias do aluguer de um espaço num hotel da linha para encher de caixotes e papelada diversa não foi suficientes. Se calhar é porque os tostões do Banco Espírito Santo “não são um risco para o contribuinte” e os alegados 20 milhões de Sócrates, esse pulha, vão ser pagos até ao último avo com o dinheiro de todos nós.
[O título do post fanado ao João Pires e a imagem encontrada aqui]