"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Pela destruição causada por, e contra as opiniões mais avisadas e pela arrogância do "nós é que sabemos", vos termos arrasado o país, pelos mortos e feridos provocados, pelo êxodo de refugiados, por uma geração sem futuro. Desculpem qualquer coisinha, não se volta a repetir, não se fala mais nisso, ok?
«Porque a decisão de emprestar dinheiro a uma Grécia insolvente transformou de repente os maus empréstimos privados dos bancos em obrigações entre Governos. Ou seja, o que começou por ser uma crise bancária que deveria ter unido a Europa nos esforços para limitar os bancos, acabou por se transformar numa crise da dívida que dividiu a Europa entre países credores e países devedores. E em que as instituições europeias funcionaram como instrumentos para os credores imporem a sua vontade aos devedores. Podemos vê-lo claramente em Portugal: a troika (de credores da zona euro e FMI) que desempenhou um papel quase colonial, imperial, e sem qualquer controlo democrático, não agiu no interesse europeu mas, de facto, no interesse dos credores de Portugal. E pior que tudo, impondo as políticas erradas. Já é mau demais ter-se um patrão imperial porque não tem base democrática, mas é pior ainda quando este patrão lhe impõe o caminho errado. Isso tornou-se claro quando em vez de enfrentarem os problemas do sector bancário, a Europa entrou numa corrida à austeridade colectiva que provocou recessões desnecessariamente longas e tão severas que agravaram a situação das finanças públicas. Foi claramente o que aconteceu em Portugal. As pessoas elogiam muito o sucesso do programa português, mas basta olhar para as previsões iniciais para a dívida pública e ver a situação da dívida agora para se perceber que não é, de modo algum, um programa bem sucedido. Portugal está mais endividado que antes por causa do programa, e a dívida privada não caiu. Portugal está mesmo em pior estado do que estava no início do programa.»
Ou como dizia a avó Ilda, que nasceu era Manuel, o segundo, El-Rei de Portugal, e morreu com o beato Guterres primeiro-ministro, "vais sair ao domingo de calças de ganga? O que é que as pessoas hão-de pensar de nós…"
Que os periféricos devedores têm um enorme poder negocial entre mãos, tão grande ou ainda maior que o dos credores, e que a Alemanha é muito mais dependente da Europa e do periféricos do que o contrário. Coisa que aliás Papandréou já havia insinuado com a história da convocatória de um referendo e do pânico que tão "descabelada" ideia provocou em Frankfurt.
Só que o problema dos periféricos devedores é que a Irlanda não é a Grécia e Portugal não é a Grécia nem a Irlanda e a Espanha não é a Grécia nem a Irlanda nem Portugal e a Itália que não é nenhum deles nem nenhum dos que hão-de vir. E ninguém fala com ninguém, quanto mais concertar posições e estratégias.
O Sarko, esse, fala com a Merkel. Ou a Merkel fala com o Sarko. Que para o caso tanto faz.