"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Diz que a notícia da morte da futura ex next big thing do PS, Pedro Nuno Santos, é manifestamente exagerada uma vez que meteu a TAP e a CP a darem lucro. Em menos de um fósforo foi o spin que caiu nas redes assim que se saiu a notícia dos resultados dos dois buracos sem fundo suportados pelo contribuinte com o nome de empresas de bandeira. "Sobre a Terra, sobre o Ar", agora que alguns falam em alterar a letra do hino. Porque é exactamente disto que a esquerda precisa, de um trafulha, de um pantomineiro, com lapsos de memória, caixas de e-mail e whatsappadas por medida, mas que consegue meter empresas de transportes a darem lucro com o dinheiro do contribuinte, enquanto inferniza a vida a passageiros e trabalhadores sem lhes dar soluções nem resolver problemas. Parabéns e passo.
"O meu passado chama-se Passos", proclamou o homem sem passado quando se alçou ao cadeirão em S. Caetano à Lapa, o Passos do "baixar os custos do trabalho foi a reforma que ficou por fazer", mas [agora] "nós no PSD queremos tirar o país do empobrecimento", disse Luís Montenegro, sem meter a cara de Danny Kaye, imagem de marca durante anos, alguém na entourage lhe deve ter dito que estar sempre com ar de gozo não caía bem na rua. Pelo meio largou umas baboseiras sobre as culpas do PS no estado lastimoso em que se encontra a ferrovia, mas a gente já nem liga, não nos esquecemos dos fundos comunitários para o alcatrão e dos Manéis Queirós desta vida nomeados para a CP.
O cónego Melo, à nora no Largo do Caldas desde que o Ventas roubou as cadeiras do parlamento ao Chicão e anunciou que a seguir vai roubar a rua à esquerda, lol, veio para a manif dos stores, de mãos nos bolsos, com uma a fazer uma figa, com a outra a agarrar um crucifixo, "vai de retro comunismo!", "t' arrenego reviralho!", anunciar que questionou Bruxelas, se lá foi ou se mandou e-mail não disse, sobre contagens de tempo suspenso no tempo em que o CDS rejubilou com a troika e apontou a porta da emigração aos docentes.
O bispo do Porto exortou os fiéis a cumprirem uma Quaresma de penitência por causa dos pecados da Igreja. Uma artista este Linda, que é dom Manuel, segundo a televisão pública do Estado laico. Os padres abusaram sexual e psicologicamente dos putos, mentiram à comunidade com a Bíblia na mão e a "palavra do Senhor" na boca, mas quem cumpre a penitência são os pais, os familiares, os amigos dos ditos. Espectáculo.
"Desde 1988, há menos 1664 quilómetros de rede ferroviária". "Desde 1988" dá Cavaco Silva, primeiro-ministro, António Guterres, primeiro ministro, estes dois com fundos comunitários a jorros, enquanto os nossos vizinhos espanhóis se dedicavam a ligar todas as cidades por caminho-de-ferro e a lançar as bases da ligação à Europa em alta velocidade, Durão Barroso, primeiro-ministro, Santana Lopes, primeiro-ministro, Passos Coelho, primeiro-ministro, mas é "do plano de Sócrates ao plano de Costa". Jornalismo militante e com as quotas em dia.
[Link na imagem]
Ah, mas "durante esse período, a percentagem de linhas electrificadas subiu de 15% para 64%, um valor a par da Noruega, Espanha e Itália e acima da França e da Alemanha. Mas este rácio foi obtido, em parte, por fecho de linhas". Tal e qual como com as pescas e a agricultura, fechámos e desmantelámos para acompanhar a Europa. E para enriquecer uns sucateiros no único caso da história de Portugal com investigados, julgados e condenados por corrupção em tempo útil.
"Em Julho do ano passado, o TdC [Tribunal de Contas] recusou o visto a 11 contratos entre a CP e a Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário (EMEF), no valor de 354 milhões de euros, por terem sido negociados num momento em que decorre a privatização da EMEF.
O TdC considerou que estes contratos, cuja duração chega aos dez anos, poderiam dar vantagem aos investidores privados que ficarem com a EMEF, conferindo-lhes receitas garantidas por um largo período de tempo."
Anda a direita, das contas bem feitas e do não viver acima das nossas possibilidades e de despachar empresas do Estado e do cortar em tudo o que seja função social do Estado porque no privado é que está a virtude e o que se corta no Estado transfere-se do Orçamento para o privado mesmo que implique duplicar funções, toda em polvorosa por a CP ir repor um direito que tinha sido esbulhado aos trabalhadores, com base na tal da governação ideológica, como muito bem avisou Cavaco, O Avisador, até que o "momento social e político permitisse a sua reposição", que é como quem diz até que o Governo da direita fosse à viola, direito que nunca foi suspenso nas empresas privadas de transportes: o direito dos cônjuges e filhos, enquanto estudarem e não "em idade escolar" como diz a notícia, viajarem gratuitamente, porque a empresa é deficitária e paga pelo contribuinte que pode pagar transferências do Orçamento do Estado para IPSS e subsidiar emprego no privado, mascarado de formação e estágios e pagar a recapitalização da banca privada mas não pode pagar bilhetes de comboio a cônjuges e filhos porque, a direita, das contas bem feitas e do não viver acima blha-blah-blah, não gosta de borlas em empresas do Estado, deficitárias, com excepção dos carros topo de gama, alguns com motorista, dos administradores formados na Universidade do Cartão do Partido e nomeados para a empresa pela direita no Governo, o PSD e o CDS.
«"O nosso estudo indica que o modelo de afectação de subsídios apresenta correlação directa com o desempenho do sistema ferroviário", [...].
Para os sistemas ferroviários europeus, os subsídios públicos apresentam-se assim como essenciais para que a sociedade deles tire o máximo partido. Uma conclusão prática que contraria o paradigma dominante na União Europeia de que a liberalização do transporte ferroviário e o afastamento do Estado conduziria à sua optimização.»
Está delineada e definida a estratégia para a privatização da CP: amputá-la cirurgicamente dos troços comercialmente mais rentáveis ficando para o Estado o que sobra, com o encerramento como destino traçado, porque "não há dinheiro para nada", e o prejuízo para as populações.
Como o dinheiro não chega para tudo, ou como não há dinheiro para nada, como queiram, para que as administrações de nomeação política, e respectivos familiares, continuem a viajar em topo de gama, novo todos os anos, e a usufruir de cartões de crédito, telemóveis, e outros direitos adquiridos inerentes às administrações de nomeação política, há que poupar nas viagens dos funcionários e respectivos familiares.
Uma medida absolutamente inócua do ponto de vista da gestão da empresa e dos resultados operacionais, populista q. b., lançada para a opinião pública com uns pozinhos de perlimpimpim à mistura – até o Rei anda à borla de comboio! , para disfarçar a incompetência e os erros de gestão, ao mesmo tempo que desperta alguns dos instintos mais recalcados da populaça – a inveja e a maldade, que não consegue ir mais além e ver na medida o valor simbólico da punição e da subjugação.
E os parolos batem palmas, muitas, sem perceber que foi aberta a caixa e que a seguir são eles, por mais ínfima que seja a garantia ou o direito.
"a legislação portuguesa submeteu a CP a um controle externo de natureza política […]". Ficamos todos muuuuuito mais descansados, pode o Governo continuar a nomear conselhos de administração, com licenciatura e mestrado feitos na universidade do cartão do partido, que não há controlo, nem interno nem externo, da empresa e que daí não vem grande mal, à CP, aos utentes, e ao dinheiro do contribuinte, não necessariamente por esta ordem. Uns Einsteines, estes senhores do Tribunal de Justiça da União Europeia.
É ter um aeroporto novinho a estrear, numa cidade a meio caminho entre Lisboa e o Algarve e a poucos quilómetros da fronteira com Espanha, mas sem ligação por auto-estrada e por caminho-de-ferro.
Enquanto o pessoal está entretido com duas velhas que viajam de borla entre os Prazeres e a Graça e mais um velho com artroses que poupa €10 na reforma por cortar o cabelo de borla, não repara nos administradores e gestores com o curso tirado na Universidade do Cartão do Partido que negociaram e assinaram as “regalias” reservando para si a fatia de leão: ordenados superiores ao ordenado de ministro, carro topo de gama, telemóvel última geração com chamadas ilimitadas, cartão de crédito, e bónus de gestão no final do ano apesar da empresa não ter apresentado resultados. Acho que não me esqueci de nada.
Regionalites futeboleiras à parte, confesso não conseguir perceber o “affair” Porto-Vigo. O contribuinte português paga uma ligação ferroviária, que dá um prejuízo mensal de €19. 600, sem que se perceba se serve para os espanhóis entrarem no país ou para os portugueses fugirem para Espanha. Aparentemente as duas hipóteses são válidas, se bem que a que nos possa favorecer economicamente [a entrada de espanhóis] só seja válida durante os meses de Verão, uma vez que a Renfe só suporta os custos até ao final de Setembro…
O “affair” Porto-Vigo, e até prova em contrário, é um pouco como as portagens nas SCUT que são boas [por omissão, uma vez que não se ouve uma única voz de protesto do lado de cá da fronteira] na Galiza, e más, muito más, no Norte de Portugal [pela unanimidade de protestos que conseguiram gerar desde Aveiro a La Coruña].
Adenda: quando escrevia o post, o Word corrigiu-me "Porto-Vigo" para "Morto-vivo". Faz sentido.