"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Diz que quer ser primeiro-ministro de Portugal e diz que o seu passado se chama Passos Coelho e joga com a fraca memória de quem já não se lembra das figuras que fez enquanto líder parlamentar do partido que suportava o governo da troika, primeiro como figura de ponto que deixava as dicas para o líder discorrer longamente sobre asvirtudes e bondade do acto governativo, depois com os números de contorcionismo na defesa do "além da troika".
Portanto não vai ser a agit-prop do Governo a desmentir a agit-prop do Governo [que isto tudo está tudo muito bem, o país está melhor, as pessoas, coitadas, é que têm de aguentar mais um bocado até começarem a ver o dinheiro a sobrar na carteira, a economia abriu-se, as reformas estruturais, blah-blah-blah, o desemprego está a diminuir e a economia a crescer], ou vai?
E também disse outras coisas bonitas de se dizer e de se ouvir como "muitos dos nossos agentes políticos não conhecem o país real, só conhecem um país virtual e mediático" e que "precisamos de uma política humana, orientada para as pessoas concretas, para famílias inteiras que enfrentam privações absolutamente inadmissíveis num país europeu do século XXI. Precisamos de um combate firme às desigualdades e à pobreza que corroem a nossa unidade como povo" e reforçou "a pessoa humana tem de estar no centro da acção política. Os Portugueses não são uma estatística abstracta. Os Portugueses são pessoas que querem trabalhar, que aspiram a uma vida melhor para si e para os seus filhos. Numa República social e inclusiva, há que dar voz aos que não têm voz".
Mas isto foi em Março de 2011, com outro Governo, de outro partido, com outro primeiro-ministro, que urgia abater rapidamente e queimar na praça pública, nem que para isso se inventasse uma conspiração de escutas ao Palácio de Belém ou que em plena campanha eleitoral se atiçassem os colégios privados a sair para a rua em protesto, "um sinal de vitalidade da nossa sociedade civil", de forma a antecipar eleições e entregar o poder "a quem de direito", depois do eleitorado devidamente doutrinado por doses maciças de propaganda.
Depois disso foi o que se viu e o que se vê, e o que não se vê mas que se desconfia, quando as trapalhadas do Governo de iniciativa presidencial caem na praça pública pela boca dos ministros e secretários de Estado.
Nem é preciso recorrer às pitonisas presidenciais para perceber. Cavaco Silva deu o sinal. Aliás, as pitonisas fazem-se despercebidas e, desta vez, nem há entrelinhas e sinais de fumo.
O PS vota contra um Orçamento de Estado ao qual deixou de estar obrigado?
Há vida em Marte?
[Imagem Black Head at Trenarren near St Austell,Cornwallat around5pmon August 1, autor desconhecido]
Fazer contas de merceeiro é um matemático e estatístico com responsabilidades governativas não perceber a diferença entre investimento a longo prazo e poupança no imediato. Depois “ai Jesus!” que o negócio corre mal. Não viria daí grande mal ao mundo, mais uma mercearia de bairro que fecha, se o “ai Jesus!” não fossem as gerações futuras e o futuro do país.
Definam “chefe” para se chegar à conclusão que não há um chefe por cada 45 trabalhadores coisa nenhuma. Isto explica-se pela [baixa] massa salarial, dito de outra forma, é a forma de contornar o espartilho do contrato colectivo de trabalho. Agora se me disserem que o profissionalismo e o mérito não têm nada a ver com graaaaande maioria das promoções mas antes o amiguismo, o compadrio, e o cartão de militante do partido, aí já dou o braço a torcer. Os 45 são um problema bem maior que o 1.
(Imagem cartaz chinês de propaganda “Check if the quality is good”, 1954)