"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
No meio da enxurrada de notícias plantadas, com o nome de "investigação jornalística", sobre casos, esquemas, matrafisgas, de corrupção, suborno, más práticas governativas, ausência de espinha dorsal, a envolverem autarcas, ministros, secretários de Estado, ex ou actuais, do PS, com o imediato contra-ataque de mais notícias plantadas, com o nome de "investigação jornalística", sobre casos, esquemas, matrafisgas, de corrupção, suborno, más práticas governativas, ausência de espinha dorsal, a envolverem autarcas, ministros, secretários de Estado, ex ou actuais, do PSD, o que eles não percebem é que o que menos importa ao povo é quem é que gamou, quem é que se abotoou, quem é que governou a vidinha, quem é que, na vox pop, "encheu o cu", se mais ou menos que o outro, o "não fomos só nós, eles ainda fizeram pior", que o que importa é que colonizaram o Estado e a coisa pública com familiares, amigos, camaradas de partido, se "encheram", falharam como governantes, traíram o povo, insultaram os compatriotas, desrespeitaram a democracia. E genuinamente não percebem, como o provam a enxurrada de notícias plantadas, casos desenterrados, a não assumpção da culpa, a fuga para a frente.
Os recentes casos a envolverem autarcas, ex-autarcas, secretários de Estado, ministros, políticos e empresários avulso, são a resposta, com um desenho, às duas perguntas que todos nós já colocámos uma vez na vida:
- Como é que aquele borra-botas, que não tem onde cair morto, todos os anos troca de topo de gama, vai passar férias ao fim do mundo, e janta em restaurantes que servem miniaturas ao preço do salário mínimo nacional?
- Como é que é possível tamanho atentado urbanístico e ambiental em zona histórica, em zona de reserva ecológica; quem é que autorizou a construção de semelhantes cagalhões arquitectónicos?
Em que medida é que o escrutínio e a transparência contribui para afastar os mais qualificados do governo, das empresas públicas, da administração pública, do que quer que seja? Maior qualificação é sinónimo de maior apetência para a vigarice e a trafulhice? E se o é devemos olhar para o lado, fingir que não vimos, desculpar qualquer coisinha, para que assim os mais qualificados aceitem vestir a camisola do governo, das empresas públicas, da administração pública, do que quer que seja? O senhor Silva espalhou-se ao comprido, reset e nova entrevista.
O cidadão anónimo que se veja metido numa alhada que implique ficar atrás das grades uns meses, uns anos, vê a vida levar uma volta e é o descalabro total para alguém que tem a dita organizada em função do salário, fruto do seu trabalho, no caso de um casal com filhos ainda é pior, por toda a organização familiar girar em torno do bolo comum. Depois temos políticos - autarcas, secretários de Estado, ministros, ex ou no activo, gestores, pantomineiros genericamente denominados "empresários", uma conquista do 25 de Abril, até essa data os trafulhas e vigaristas da cidade respondiam por "industriais" e os do campo por "agrários", vão de cana, obviamente inocentes, nunca se abotoaram com um tostão, aparecem de imediato atrás dos advogados mais caros da praça, e a vida, a sua, da mulher e dos filhos, continua lá em cima como se nada se passasse, além do mau nome na praça pública. Portanto à justiça o que é da justiça, à política o que é da política, ao dinheiro o que é da política.
Ao contrário do que possa parecer, os Migueis Alves desta vida não foram nomeados ou tomaram o poder por "golpe de Estado", porque o que depois mais se ouve é "eu não votei nele". E mesmo quando cumprem penas de prisão, atrás das grades, não domiciliária, e voltam todos lampeiros e fresquinhos e voltam a ser eleitos e volta a conversa do "eu não votei neles". E o papão do "aproveita o populismo" fascista não funciona, nem o fascismo populistas se aproveita. Nas últimas autárquicas o Chaga em Oeiras foi remetido para uns míseros 3,71% dos votos, e a mesma agremiação, no mesmo concelho, nas legislativas ficou-se pelos 5,75%. É a falta de cultura da exigência democrática, para os Migueis Alves desta vida e para os dígitos do partido unipessoal chegano.
A verdade é que todo o badameco, mais anónimo, menos anónimo, preso e acusado de corrupção, e que alega ter vivido toda a sua vidinha com os frutos do seu honesto trabalho, tem dinheiro para contratar o advogado mais caro do país logo no minuto seguinte. É o que se vê na televisão.
«Em comunicado, a PJ explica que, "aproveitando a proximidade das eleições autárquicas, assim como o previsível lançamento de programas para a recuperação económica, o suspeito terá estabelecido contactos ao nível empresarial, autointitulando-se titular de cargo político com capacidade de decisão em matéria de contratação pública".»
Podemos ver isto de duas maneiras: a primeira, e a mais óbvia, a da promiscuidade entre o poder político e o tecido empresarial; a segunda, não menos grave que a primeira, antes pelo contrário, a da classe empresarial que, na lamuria programática do "colaborador" improdutivo e da rigidez das leis do trabalho, passa a vida encostada ao Estado que abomina.
Antes do 25 de Abril de 1974 havia duas classes de pantomineiros: os ligados à agricultura, denominados "agrários", os com ramo de actividade na indústria, conhecidos por "industriais", a revolução democratizou o léxico e renomeou todos em "empresários".
De manhã tivemos a doutora Joacine em directo na televisão a acusar o Livre de se ter aproveitado duma negra gaga para eleger um deputado, exactamente o argumento usado pelo Livre e pela deputada para classificar de racista e de extrema-direita para cima quem disse o mesmo da doutora Katar-Moreira quando foi eleita.
À noitinha tivemos a doutora Isabel dos Santos no Twitter a classificar de racismo e preconceito os casos de corrupção e nepotismo onde aparece envolvida na investigação jornalística "Luanda Leaks".
"Racismo" e "preconceito" é o novo maravilhoso.
De caminho a Price Waterhouse Coopers cortou relações com a filha do pai depois de décadas a ser paga para trabalhar na maquilhagem das trafulhices da empresária, dar-lhe um ar decente, aceitável e com "sentido de Estado, enquanto o Cigarette Smoking Man ou Cancer Man dos X-Files, também conhecido por Fórum de Davos ou Forum Económico de Davos, 'desconvidou' a senhora. Tem peçonha, ninguém sabia ou sequer desconfiava. Por causa das carradas de maquilhagem e do cabelo esticado que a fazem quase branca. Uma afirmação claramente preconceituosa e racista, esta.
Entretanto vai grande alegria e excitação no jornal do militante n. º 1, também ele sentadinho em Davos e apanhado de surpresa com toda esta embrulhada, enquanto ficamos todos à espera que depois de publicar a prometida lista dos jornalistas avençados do BES nos Panamá Tretas, o Expresso publique também a lista dos jornalistas avençados da cleptocracia angolana que conseguiu roubar e fazer mais mal ao seu próprio povo que o colonialismo, e isto sem qualquer acusação de racismo e preconceito, sublinhe-se.
"Portugal é o país que menos cumpre as recomendações do Conselho da Europa contra a corrupção. Um relatório agora publicado garante que no final de 2018 faltavam cumprir 73% dessas recomendações."
Diz a filha mais nova que encontra em Portugal muito preconceito, que é, na novilíngua, a palavra equivalente a racismo. Entrou num shopping [e só uma angolana vir a Portugal e a referência ser o entrar num shopping só por si ser todo um programa] e eram os africanos que estavam a servir à mesa, que estavam nas cozinhas, algumas mulheres a dobrar roupa nas lojas. E foi ao almoço, tivesse ido de madrugada e via os africanos a varrer e lavar o chão, a limpar as casas de banho. Podia ter dito que chega a Portugal e vê Anselmo Ralph júri de um concurso líder no prime time da televisão generalista, que vê Matias Damásio encher festivais de Verão, ambos, Anselmo e Matias, no top of the pops, a vender em Portugal mais do que vendem em Angola, mais pop stars aqui do que lá, mas não disse. Disse antes que quando chega a Angola e vai para o shopping os portugueses que vê são donos das lojas, são os membros do conselho de administração e pergunta, em jeito de lamento, a razão para que quando se vai a África e se vê um português, em qualquer situação ele está numa situação de vantagem, ou de igualdade na pior das hipóteses, e quando se vem a Portugal e se vê um africano ele está sempre numa posição de desvantagem. E com isto disse tudo sobre os 38 anos da cleptocracia e do regime corrupto do senhor seu pai, e de que ela é directa e dilecta benifeciária, de uma elite multimilionária e em ponte aérea para as as compras nas lojas de luxo da Avenida da Liberdade na antiga capital do império, contra o investimento zero em saúde e educação, contra o investiomento zero em habitação en segurança social, muito abaixo dos idos do colonialismo, que ainda assim formou os líderes dos movimentos de libertação. A menos que a filha mais nova pensasse que só por ser angolano, ex-colónia, PALOP, país irmão, a mesma língua, blah-blah-blah, sem formação lhe dava direito a cargo em administração de empresa, responsável por shopping, director de banco e não mais que empregado de limpeza ou pedreiro em obra alimentada por mão-de-obra clandestina.
Luís Filpe Vieira estava a par de tudo, desde Setembro de 2017, data do início das suspeições dos e-mails, dos vouchers, das toupeiras, do caralho, e data em que o campeonato nacional de futebol 2017/ 2018 nunca devia ter iniciado até ficar tudo em pratos limpos. Bruno de Carvalho não sabia de nada, o braço direito do presidente do Sporting era maneta.