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DER TERRORIST

"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.

O estado da Nação

por josé simões, em 29.07.16

 

Pawel Kuczynski Control Pokemon Go.jpg

 

 

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A propósito da estreia de Control de Anton Corbijn:

por josé simões, em 18.11.07

 

Não gostava de Joy Division. Não gosto de Joy Division e, à medida que os anos passam, vou ganhando mais aversão à banda e a tudo que representa. Recorro às palavras de Miguel Esteves Cardoso no caderno Actual do Expresso em 10 de Novembro:
 
“É claro que não consigo ver Control como um filme. O tempo que o filme recria foi o meu também; os Joy Division eram os músicos de que eu mais gostava; eu tinha a mesma idade que eles; vivia lá nos mesmos lugares; e, mais do que tudo, a música deles afectou muito a minha vida”
 
E introduzo-lhe umas nuances; por aquele tempo ter sido o meu; agora que o tempo passou; com a distância e o desprendimento que a passagem dos tempos nos proporciona; os Joy Division eram os músicos de que eu menos gostava, a música deles não afectou a minha vida, salvo que, por cada pesadelo que tive, que tenho, ou que possa vir a ter, qualquer tema da banda tem grandes probabilidades de vir a ser uma perfeita banda sonora.
 
Para mim, que tinha andado por aqui, e cuja única peça de roupa em preto que possuía era o blusão punk’ billy de cabedal – descontando as botas da tropa –, fazia-me alguma confusão aquele banda e aqueles bandos de discípulos maníaco-depressivos (onde é que foram buscar essa do urbano-depressivos?!), sempre de preto e ainda por cima à betinho: calças de tecido pinçadas, camisa engomada, sapatinhos engraxados e (fónix!) gravata.
 
Para quem tinha feito a adolescência no Punk, os 4 de Manchester eram uma degeneração; aquele filho que ninguém quer ter. A música não me dizia absolutamente nada – fria, ausente e falha de emoção; assim como nada me diziam as letras escritas por Ian Curtis. O único prazer que à época retirava dos Joy Division era, ler nos jornais da especialidade, o ridículo daqueles que ocupavam o tempo a interpretar a suposta profundidade dos escritos, e a classifica-los como preciosas “pérolas literárias”. Era por demais óbvio que quem escrevia o que escrevia, cantado da forma como o cantava e, com a banda sonora com que o acompanhava, ilustrada por capas de discos como Closer,que só podia ter o fim que teve. Qual foi então o espanto e a admiração?
 
Espanto e admiração, e aqui tenho de admitir ingenuidade da minha parte, foi terem deixado descendência por via de bandas (que também abomino) como os Echo & The Bunnymen, Comsat Angels, A Certain Ratio ou Sétima Legião em Portugal – com a agravante de ser muito mal cantado –, e, mais recentemente, Interpol.
 
Recorro uma vez mais a Miguel Esteves Cardoso:
 
“Acredito até que seja melhor sentir e gostar pouco da música dos Joy Division para poder ver este filme como o filme que, se calhar, é”
 
E, para mais uma vez discordar. Façam bom proveito; eu não vou; esta passo.
 
Post-Scriptum: Pode não ter nada a ver com o que aqui foi escrito (ou será que até tem?!?), em Manchester, o autocarro que faz o percurso 964, tem como destino um lugar chamado Dangerous Corner