"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Descontando o facto de o Governo que o CDS-PP integra não ter "um modelo de baixos salários e de desemprego para o país", descontando o ministro do CDS-PP, Pedro Mota Soares, se esforçar por apoiar a criação de “empregos de futuro e bem remunerados” para os mais jovens numa multinacional e maior cadeia de restaurantes do país, descontando a aposta do ministro do CDS-PP, Paulo Portas, nos comissionistas avençados de uma multinacional e maior imobiliária do país, a gente ouve coisas e não acredita. Foram ditas por um ministro do Governo da Nação ou são só o animador do circo de Natal a entreter a audiência enquanto recolhem o trapézio e montam as grades para as feras?
A especulação imobiliária continuou de vento em popa, os preços não caíram para o seu real valor, antes pelo contrário, "o metro quadrado em Lisboa, mesmo nas zonas mais nobres" manteve o preço ou até subiu, criou empregou que se fartou onde fazia falta - na construção civil, e não nos avençados à comissão sobre as vendas - nas imobiliárias.
A gente vai pelos arrabaldes e pelos subúrbios das cidades – não pelos centros, que nos centros está o comércio moribundo no rés do chão e no primeiro andar mora o armazém do comércio moribundo do rés do chão, e vê ruas, praças, avenidas inteiras com prédios inteiros de T dois e T três e T quatros à venda e que foram, que vão ser salvos pelos chineses e pelos russos, que estão mortinhos por comprar habitação na Damaia ou em Santo António dos Cavaleiros ou no Poço Mouro e na Reboreda, em Setúbal, salvando assim muitas famílias que "conseguiram negociar imóveis que, se o preço caísse a abaixo do valor de compra original, ficariam ainda em maiores dificuldades. Assim puderam vender bem e depressa, reajustando as suas vidas à nova realidade", que é como quem diz continuaram a viver dentro das suas possibilidades, agora sem os anéis mas com os rendimentos dos anéis, e continuaram a poder continuar a exortar os da Damaia, de Santo António dos Cavaleiros, da Reboreda e do Poço Mouro a viver dentro das suas e a entregar as casas ao banco.
Podem continuar a rebuscar ainda mais os argumentos. A gente promete não se rir.
Entretanto as Câmaras Municipais cobraram balúrdios em sisas, licenças de construção e Imposto Municipal sobre Imóveis, os patos-bravos e os “empresários”, com os do ramo da caixilharia de alumínio à cabeça, enriqueceram criaram riqueza, uma rede de subornos minou de alto a baixo a administração pública, desde fiscais a vereadores, os clubes de futebol receberam terrenos municipais, devidamente PDM-alterados e urbanizáveis, para pagar salários milionários a jogadores de 2.ª categoria e a má gestão de direcções eleitas pelo voto dos associados, a cidade ficou um caos e a qualidade (de)vida das populações diminuiu radicalmente:
Durante anos e anos e anos e anos, a incompetência aliada à ganância e falta de visão de futuro dos autarcas (eleitos com o voto popular em eleições livres e democráticas), permitiu que se construíssem autênticas áreas metropolitanas à beira das Estradas Nacionais. Agora não há alternativa. Ele é bandas sonoras, semáforos, cruzamentos, passadeiras, e percurso que antes demorava meia hora a fazer leva agora hora e meia. Culpa nossa, por não os termos punido na devida hora com o voto, que a Nacional 125 seja uma rua, como diz o autarca profissional Macário Correia?
Quem se abotoou com a Sisa e demais impostos, provenientes das autorizações de construção, devia agora pagar a construção das estradas alternativas às SCUT.
“O Governo alterou o decreto-lei que proibia a construção em áreas florestais ardidas não classificadas como solos urbanos e atribui carácter excepcional aos empreendimentos de interesse público e ainda às obras de relevante interesse geral. O diploma alterado foi promulgado há cerca de 15 anos no âmbito de medidas preventivas dos fogos florestais, devido a suspeitas de que muitos incêndios visavam abrir caminho a loteamentos e à especulação imobiliária.”
Público, hoje.
Se a memória não me falha, há 15 anos atrás era o actual Presidente da República, Primeiro-ministro. Mais uma faceta da cooperação estratégica? Ou outra faceta da não menos célebre cooperação estratégica, autarquias geridas pelo PS / construtores civis?
Alguém já se indagou do porquê, que cada vez que o PS ganha uma Câmara, automaticamente se assiste a um boom no concelho ao nível da construção civil?
Pode ser que muito me engane, mas vamos ter mais um verão tórrido de incêndios.