"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Eu, que de partido político tinha ideia de uma organização onde as decisões eram tomadas por consenso e/ ou por maioria, e de repente vejo José Sócrates apresentar Vital Moreira como o candidato ao Parlamento Europeu que “eu” escolhi, perante a surpresa e admiração geral, até da própria mesa do congresso.
É por estas que a militância partidária me passa completamente ao lado.
E não é a “campanha negra”. É o apagão que se deu no partido. Sócrates arraçado de eucalipto secou tudo e todos à sua volta. Quando num futuro mais ou menos próximo, e de certeza inevitável, o PS arrumar as malas de abalada do Governo, vão concluir que o apagão afinal é um blackout. Tenho pena do próximo secretário-geral. Até dói.
Segunda alegoria – A Comunicação Social.
De frente para o palanque e proibição de filmar os delegados e participantes de caras. Com muita ginástica alguns planos de cernelha.
“se me coubesse a decisão de ter um governo sem jornais, ou jornais sem governo, não hesitaria em preferir a segunda hipótese” – Thomas Jefferson, 1787.
A falácia – Vital Moreira ao Parlamento Europeu.
Alguém no seu perfeito juízo acredita que o PS nas europeias venha (como já li por aí) a roubar votos à sua esquerda – PCP e Bloco – por causa dos “lindos olhos” de Vital Moreira?
Não é preciso mais. O PCP e o Bloco já estão a capitalizar. Tenha Dona Manuela arte e engenho, mais crise, estagnação, deflação e desemprego e arrisco um cartão amarelo para o avermelhado.
Não me apetece falar no congresso do PS. Foi deprimente demais.
Vital Moreira está(va) para o PS como Vasco Graça Moura esteve para os governos de Cavaco Silva e continua a estar para a liderança de Manuela Ferreira Leite. A bola foi por Sócrates chutada – em jargão futebolêz, uma charutada – para o meio campo dum adversário que desde o início da época joga em contra-ataque. Facilita a vida a Dona Manuela. A resposta óbvia será Vasco Graça Moura ou Pacheco Pereira pelo PSD. Ou ambos, recuperando assim uma dupla com provas dadas no meio campo laranja.
Seja como for, o derby vai acabar empatado. Como todos os derbys dignos do nome.
É deveras interessante que quem incessantemente reclama contra os julgamentos na praça pública, delineie como estratégia de vitimização trazer o caso Freeport para o congresso do partido. Está encontrado o inimigo-comum externo que vai servir como pólo aglutinador do partido à roda do líder nas próximas batalhas eleitorais: "a campanha negra".
É perigoso para Sócrates levar o caso Freeport a votos, mas foi a pedido do próprio. E venha quem vier, dê por onde der, Sócrates recordou que “em democracia é o povo quem mais ordena”. Onde é que eu já ouvi isto?
Longe de mim comparar José Sócrates e o caso Freeport aos casos Fátima Felgueiras, Isaltino Morais ou Valentim Loureiro - quer na forma quer no conteúdo; mas a forma e o conteúdo como José Sócrates se vitimizou perante a plateia de Espinho é igualzinha à forma e ao conteúdo que serviram para as reeleições de Fátima Felgueiras, Isaltino Morais e Valentim Loureiro. Nada de novo; o povo é quem mais ordena.
Adenda: este meu escrito sobre "campanha negra" por analogia com o sampler.