"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
O XV congresso da CGTP, a maior e mais antiga central sindical do país, a passar ao lado das televisões, e o destaque dado pelas mesmas televisões ao congresso do sindicato dos bancários, também conhecido por UGT, inventado para assinar por baixo o que o sindicato dos patrõe lhe põem à frente para assinar. A culpa é do TikTok.
O líder da bancada parlamentar da "peste grisalha" e do "corte de 600 milhões de euros nas pensões" diz que não só não vai cortar pensões como até as vai aumentar e elevar as de sobrevivência ao patamar do salário mínimo nacional;
O líder da bancada parlamentar do "sair da zona de conforto", procurar emprego no estrangeiro e nos PALOP, enquanto se rejubilava pelas embaixadas inglesas nos hotéis de Lisboa para levarem médicos e enfermeiros do Serviço Nacional de Saúde para o NHS bife, vai dar os 30% aos médicos e mais alguma coisa aos enfermeiros e restituir os 6 anos 6 meses e 23 dias ao comissário Nogueira dos stores;
O líder da bancada parlamentar do "baixar os custos do trabalho foi a reforma que ficou por fazer" diz que o salário mínimo é para continuar a aumentar e que o aumento que antes não podia ser dado por causa da competitividade da economia, da produtividade, da viabilidade das empresas, da sustentabilidade das finaças públicas, e outras desculpas de mau pagador, foi uma coisa muito bem feita pela Geringonça e pelo socialismo venezuelano em que este país se transformou;
O líder da bancada parlamentar "o meu passado chama-se Passos" foi a Boliqueime interromper o jantar do senhor Aníbal depois de ter mandado o senhor Coelho dar aulas na academia, é que há passados e passados e outros passados hão-de vir.
Diz isto tudo, e ainda há-de dizer mais daqui até à véspera das eleições, porque, como diz o povo, é a raça dele, dizer coisas, dizer tudo e o seu contrário, dizer o contrário do que sempre disse, para se alçar ao poder e retomar a governação, interrompida em 2015, para pequenos grupos que são grandes, para clientelas políticas, para a porta giratória, enquanto se passa a imagem da governação em prol do interesse nacional.
Diz isto tudo, e ainda há-de dizer mais daqui até à véspera das eleições, porque sabe que já ninguém se lembra do que disse antes, nem sequer aqueles que têm a obrigação de relembrar, os jornalistas e comentadeiros avençados nas televisões, para quem uma coisa antes chamada contorcionismo e trapacice hoje é "o melhor discurso da vida dele".
Três dias passados e continuam com "o que é que aconteceu, que coisa foi aquela no congresso do Parido Comunista Chinês?". Se o camarada Hu Jintao podia ter sido impedido de se sentar na tribuna antes da abertura da sessão, tirar a respectiva cadeira, compor o cenário, evitar toda a coreografia que se lhe seguiu, alegando posteriormente que a sua ausência se deveu a inesperados problemas de saúde? Podia, mas não era a mesma coisa, não tinha o mesmo efeito coreográfico. O que o camarada Xi quis passar para o mundo e para dentro do comité central, não obrigatoriamente por esta ordem e já que as imagens não passaram oficialmente dentro de portas, foi que quem manda ali é ele, que não restem quaisquer dúvidas, e que até se pode dar ao luxo de humilhar publicamente um camarada com provas dadas, ex secretário-geral do partido e ex presidente do país, um pouco à imagem do que acontecia com a exposição dos elementos "contra-revolucionários" e "desvios de direita" nas praças públicas pelos Guardas Vermelhos durante a Revolução Cultural, foi um aviso por antecipação. Voltando ao início, três dias passados e continuam com "o que é que aconteceu, que coisa foi aquela no congresso do Parido Comunista Chinês?" e quer-me parecer que vão continuar por muito mais tempo, para grande frustração do camarada Xi que nem com um desenho lhes conseguiu explicar.
[Link na imagem "Attendants serve tea for the delegates before the opening ceremony. Thomas Peter/Reuters" ]
A questão já nem é sequer ouvir o "ponto" de Passos Coelho no Parlamento durante os anos da troika muito preocupado com os baixos salários dos portugueses, em geral, e dos portugueses, em particular, depois de na apresentação urbi et orbi ter abdicado do passado próprio em prol do seu passado Passos, o do "baixar os custos do trabalho foi a reforma que ficou por fazer", apesar do aumento da carga horária, do aumento dos dias de trabalho, do valor a pagar por cada hora extra, da indemnização a receber em caso de despedimento, da redução de apoios e prestações sociais.
A questão já nem é sequer ouvir o "ponto" de Passos Coelho no Parlamento durante os anos da troika genuinamente preocupado com os funcionários públicos, em quem disse piamente acreditar, depois de quase cinco anos de campanha contra os ditos, do açular de ódios entre públicos e privados, e de Miguel Albuquerque nas listas, o do "não vale a pena ter ilusões. Reformar o Estado é despedir".
A questão já nem é sequer ouvir o "ponto" de Passos Coelho no Parlamento durante os anos da troika dizer, durante quase uma hora, num pavilhão para um pavilhão cheio de amorfos, que caso um dia chegue a primeiro-ministro, truz truz, lagarto lagarto, vai fazer exactamente o oposto do que o passado de que se reclama fez e que ele tão denodadamente defendeu, às vezes a fazer o pino, o flic-flac e mortais encarpados na primeira fila da Assembleia da República.
A questão é as pessoas e a memória que as faz votar quatro anos depois no mesmo deputado em quem não votaram quatro anos antes, às vezes candidato pelo mesmo círculo eleitoral; a questão é a memoria das pessoas, ou a falta dela, ou 50 anos depois da revolução de Abril ainda não termos saído da fase infantil da democracia.
Que desde a sua fundação este bando de palermas já tenha dado líderes ao partido, deputados à nação, governantes, de secretários de Estado a ministros e primeiros-ministro, ao país, é esta a nossa tragédia.
Rui Rio, no palanque de Santa Maria da Feira, longos minutos a perorar sobre educação e professores, todas as desgraças e todos os males do mundo, mais parecia estar a desancar o ministro do Governo da troika, Nuno Crato, inchado de paixão pela educação, como dizem os 'amaricanos', since 2019:
Luís Montenegro, essa grande figura da política politiqueira e aspirante a chefe máximo do laranjal, fez um figurão no picnicão da Vila da Feira ao desafiar António Costa a clarificar se está disposto a viabilizar no Parlamento um governo do PSD caso perca as eleições, ideia rapidamente papagueada por todas as televisões a todas as horas certas em todos os telejornais e avidamente comentada pelos comentadeiros com avenças e lugares cativos, há décadas com análises muuuuuito profundas e conhecedoras da mecânica e da arquitectura da política do tugão, "sim, senhor!", "muito bem, visto!", "melhor ainda jogado!", "ora aí está o Costa encostado à parede!", o Costa que já mais que uma vez disse que em caso de derrota deixa a liderança do partido, se vai embora, adeus, passem bem, devia dizer se viabiliza ou não um governo de Rui Rio no Parlamento. Apercebidos da irracionalidade da ejaculação precoce provocada pelo entusiasmo de agradarem à voz que lhes paga, os papagaios do costume apressam-se agora, num processo revisionista, a corrigir a narrativa, Montenegro, que nos idos da troika se distinguiu no Parlamento por fazer o papel de ponto de Passos Coelho nos debates parlamentares - dar-lhe dicas para o pantomineiro do pin discorrer longamente, afinal desafiou foi o pós Costa, o perigoso radical ministro Pedro Nuno Santos, quase um FP25 sem metralhadora, como se não tivessemos todos visto e ouvido.
Na abertura do picnicão do PSD na Vila da Feira, Rui Rio chama ao PS "partido do sistema", como se o PSD fosse underground ou indie alternativo. Assim vai o nível de alucinação na Rua de S. Caetano à Lapa.
Marta Temido, de ministra a remodelar [Schnell! Schnell!] a candidata à sucessão de António Costa na liderança do PS. A qualidade dos nossos analisadores comentadeiros televisivos é qualquer coisa.
O maravilhoso não foi António Costa, qual Kim Il-sung, ter indicado uma sucessora, o maravilhoso foi a sucessora indicada, Marina Vieira da Silva, à chegada ao congresso não se ter demarcado indubitavelmente da nomeação.