"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Prioridade 1: cortar nas pensões e nas reformas, em nome da sustentabilidade da segurança social, enquanto se perdoam milhões à banca, por exemplo, ou se baixa o IRC às empresas e já se fala em baixar a TSU, também por exemplo, em nome do investimento e da criação de emprego que afinal é o aumento da mais-valia ao patrão e accionista, para depois se aumentar a comparticipação a pagar pelos idosos para ter acesso a cuidados.
Prioridade 2: desmantelar o Estado e o Estado social enquanto se cria um Estado paralelo, pago com o dinheiro dos impostos dos contribuinte, na sua quase totalidade pertença de organizações e instituições heterónimos da Igreja Católica e alimentando uma indústria à roda da miséria alheia.
«Ainda na quarta-feira, Dia Europeu da Solidariedade e Cooperação entre Gerações, o Presidente da República Aníbal Cavaco Silva atribuiu à Ordem Diocesana de Promoção Social o título de Membro Honorário da Ordem do Mérito. Na mesma ocasião, Lino Maia foi agraciado com o grau de Grande-Oficial da Ordem do Mérito»
Era apenas uma "impressão", diz o outro que diz que "não é este o momento" para divulgar qual a posição sobre esta matéria. O calado vai longe, vox pop salazarenta.
O momento é o da "impressão" do ministro canalha e fundamentalista ideológico impressionar, com números estratosféricos, uma maioria que na sua maioria trabalha 8 horas por dia - oficialmente, oficialmente 5 dias por semana, para receber metade daquilo que os malandros e manhosos do RSI recebem.
O momento é o da cumplicidade entre o ministro canalha e fundamentalista ideológico, que não olha aos meios para atingir os fins [justificar o fim de subsídios e apoios do Estado, acabar com o Estado social], e a caridadezinha das IPSS, maioritariamente heterónimos da Igreja Católica, que vai, gradualmente e como quem não quer a coisa, recebendo a seu cargo aquelas que eram as funções sociais do Estado e da Segurança Social, duplicando os custos para o contribuinte e a para o erário público, criando uma classe de profissionais da miséria alheia, bem remunerados, e assessorados por uma nova-classe-nova, que está agora a nascer, a do "voluntariado à força", dividida em duas castas, a mais baixa que engloba os "voluntários" do RSI e subsídios diversos, a mais alta, o dos empregados, na sua grande maioria quadros médios, médios-altos de empresas, bem remunerados, que praticam o voluntariado em horário pós-laboral ou nos dias de descanso, porque é bem aos olhos do patrão e do accionista, socialmente prestigiante numa sociedade formatada pela opinião privada publicada para a redução de custos [nunca aumento das margens de lucro e das mais-valias] e para "dar graças a Deus" por ter uma colaboração [não um trabalho] nem que mal remunerado ou até pago em senhas de racionamento .
Estamos a destruir o Estado onde ele existe e é forte, cabendo-lhe unicamente a função de saque e de esbulho sob a forma de cobrança de impostos e taxas e "contribuições", e a criar uma espécie de Irmandade Muçulmana, para o caso Irmandade Católica, onde ela não existe nem ninguém dá pela sua falta. e que se vai substituir ao Estado naquelas que são as suas funções.
Está mau para o idoso porque está mau para o negócio à roda do idoso e porque está mau o dia-a-dia da descendência do idoso, vítima às mãos das políticas do Governo que transfere verbas para a área do negócio com o idoso, enquanto destrói a economia que sustenta a família do idoso e corta no salários e nos apoios sociais à família do idoso e que agora se prepara para esbulhar a pensão de reforma do idoso, sendo que o idoso é, simultaneamente, o que mais e o que menos importa nesta equação. E já aí vem lei para punir quem maltrate e abandone o idoso, lei do Governo que ignora haver uma lei que proíbe o Governo de maltratar e abandonar os cidadãos, de seu nome Constituição da República.
A hipocrisia da Igreja, e das IPSS da Igreja, não está só nas várias modalidades de idoso, do idoso de 1.ª, 2.ª e 3.ª categoria, o idoso à la carte, e no ter o lucro que supostamente não devia ter, podendo sempre argumentar, com ar misto incrédulo-idiota, como argumentam os liberais construtores do novo homem que vai nascer e do sol que brilhará para todos nós, "qual é mal em ter lucro?", mesmo que o lucro implique esbulhar o idoso ou vender a mãe e o pai. A hipocrisia da Igreja e das IPSS da Igreja está também nas duas caras e na ambiguidade do discurso de quem mama na teta do Orçamento do Estado, os descontos dos contribuintes familiares do idoso, do discurso à roda do idoso e à roda daqueles que já nem idoso têm para aguentar o negócio, familiar da família constituída ou familiar da família "somos todos irmãos".
Venha a nós o Vosso Reino.
[Imagem "October 1935 Scene in Jackson Square, New Orleans"by Ben Shahn for the Farm Security Administration]
Porque é preciso desalavancar para ajustar, fomentam-se políticas que promovem o desemprego, a exclusão e a miséria. De seguida diminuem-se e/ ou suprimem-se subsídios e apoios porque é urgente e imperativo cortar na despesa do Estado, e porque a Segurança Social corre riscos de descapitalização devido à economia que afunda pelas políticas de desalavancagem e ajustamento.
O dinheiro supostamente poupado à despesa do Estado, e à redistribuição por xis beneficiários cidadãos-contribuintes, é redistribuído pelos mesmos, agora já não beneficiários cidadãos-contribuintes mas renomeados como carenciados sociais e famílias em risco, em parcelas infimamente menores e em géneros, porque há que retirar a percentagem que é devida aos comerciantes da miséria alheia, vulgo terceiro sector, que ainda ficam bem na fotografia pelo altruísmo de acudir aos mais necessitados em situações de crise e por chegarem onde o Estado, convenientemente, se demitiu de chegar. É um guião perfeito.
"as pessoas (utentes) podem auxiliar-se uns aos outros". Porque se calhar vai haver despedimento de trabalhadores dispensa de colaboradores, ou porque os que estão vão trabalhar mais horas para ganhar menos e não vão dar conta do negócio por ser humanamente impossível, por desmotivação, ou por tudo isso e mais alguma coisa? A notícia não diz…
O ministro da Caridade e das Boas Famílias Solidariedade e da Segurança Social inventa vagas nas creches e infantários, para os papás e as mamãs que deixam de ter poder económico para manter o filho na elite privada, mas que ainda chega para uma IPSS, a preço do salário médio português. Os outros, os que não ficaram desempregados, deixam a filharada entregue aos avós ou aos irmãos, ou fechada na rua.
«exigências e regra que o estado impõe hoje que são exageradas e que podem ser de alguma forma diminuídas no sentido de baixar os custos de funcionamento destas instituições»
Tipo, 10 velhos num quarto para 3, ou 500 crianças num infantário para 100. Temos homem: Marco António Costa.