"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Do dinheiro não chega para tudo passou-se, num ápice, ao não há dinheiro para nada. E há casos prioritários para acudir primeiro com o dinheiro que não há para nada. Como por exemplo os milhões para tapar as crateras deixadas abertas no BPN e no BPP pela tralha cavaquista, ou os pagamentos à Lusoponte, ou os pagamentos encapotados à EDP, ou… Há que "aguardar por Janeiro e por eventuais alterações decorrentes da aprovação do Orçamento do Estado".
Um é muito responsável debaixo do guarda-chuva da Pátria e da independência nacional e por uma questão de respeito para com os mercados e de não afrontar quem nos empresta dinheiro, o outro é muito solidário debaixo do guarda-sol da luta de classes contra os grandes grupos económicos e financeiros e a burguesia e mais o internacionalismo e a solidariedade do todos ao molho em defesa do statos quo de alguns.
Parece que a nova geração de meninos (e meninas, como agora sói dizer-se) higiénica e asséptica, da pornografia na net ao acesso de um click (ai os tempos da revista Gina às escondidas) e das fotos em tempo real das “Porcas no Hi5” (já ninguém espreita o ginásio feminino, e não é por a maioria não ter ginásio…) passa o tempo no recreio a brincar com Bakugans dos pacotes de batatas fritas e a falar da princesa Sherazade e do Carteiro Paulo no Canal Panda e só aprende que «"c..." (órgão sexual masculino), "c..." (órgão sexual feminino) e "f..." (acto sexual)» através do Dicionário Básico de Língua Portuguesa, da Porto Editora, o da capa azul, aquele que custa 5, 5 euros e que tanto indigna meia dúzia de pais que tiveram poder de manobra para chegar às páginas do (ex-)insuspeito Diário de Notícias.
É impressão minha ou aqueles que reclamam contra esta medida do ministério da Educação, porque, dizem eles, em vez de uma escola estamos a criar um depósito de crianças, são os mesmos que ininterruptamente nos gritam aos ouvidos que é necessário trabalhar mais horas e flexibilizar os horários de trabalho, e que a instituição família se está a desagregar porque os pais não estão com os filhos e que já ninguém fala com ninguém e que é cada um para seu lado?
Não entrando pela via dolorosa que é o poder alguém cuja vida sexual se resume à masturbação e talvez a algumas visitas fugazes às casas de meninas, convenientemente à paisana, sem cabeção e colarinho romano, seguidas de atrozes e não menos dolorosas penitências, porque a carne é fraca e há que salvar o espírito para o Dia do Juízo Final (e fazendo um esforço tremendo para não tocar nem de raspão na mui peculiar interpretação bíblica do “deixar vir a mim as criancinhas”), ter pretensões a educar sexualmente o seu semelhante; mas pelo caminho mais fácil que é o de algumas ovelhas - do rebanho ou tresmalhadas - que cresceram, tiveram namoradas, mulheres, filhos e filhas, como já antes havia acontecido aos seus pais e aos seus avós e aos pais dos avós e aos avós dos avós, aparecerem a falar em educação.