"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
O subsídio de desemprego é um direito decorrente da carreira contributiva, para quem se encontra temporariamente desempregado, como o próprio nome indica. Trabalhou, descontou para isso, recebe por isso, limitado no tempo. O Rendimento Social de Inserção é um mecanismo de combate à pobreza que, alegadamente, permite aos beneficiários a satisfação das suas necessidades básicas. Não embarcando na conversa do taberneiro que chefia o partido da taberna no Parlamento, uma busca rápida na internet permite perceber que ninguém consegue ter uma vida decente com o Subsídio de Desemprego e muito menos com o RSI. E depois há o Complemento Solidário para Idosos, um apoio pago aos pensionistas e reformados com baixos recursos, aqueles que Luís Montenegro promete elevar ao valor do Salário Mínimo Nacional, tenham ou não trabalhado toda a vida, tenham ou não descontado para a Segurança Social, em linguagem futeboleira "beneficiar o infractor". O mesmo Luís Montenegro que numa palestra na Confederação do Comércio e Turismo aproveita para gozar com quem trabalha, com quem está desempregado e com quem recebe o RSI ao largar que "Não pode ser mais lucrativo estar em casa a receber subsídios do que trabalhar".
A receita "chapa 5" do empresariado que, na sua grande maioria, dá emprego a trabalhadores com melhores habilitações literárias do que eles próprios. Quando em período de crise cortar nos custos através de despedimentos, quando em período de crescimento económico e expansão distribuir pelo patrão e accionista contra o risco de se ter de despedir por os custos serem incomportáveis. Como dizem os 'amaricanos', "one size fits all".
Sem que nenhum dos "jornalistas" presentes se lembrasse de lhe perguntar o que é que queria dizer com aquilo, Vasco de Melo, da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal, à saída da audiência com o Presidente da República, muito preocupado, que a 'Geringonça' - não disse mas pensou, muito preocupado com a nova maioria, que possa pôr em causa "os consensos adquiridos nestes últimos anos".
Gostava que me explicassem como é que mais meio-dia de trabalho se reflecte na criação de mais 2 000 postos de trabalho. A sério que gostava, partindo do princípio que o objectivo da gestão privada passa pela maximização de proveitos conjugada com a minimização de custos, e que estas coisas passavam inevitavelmente por um reajustamento de horários e folgas. Há muita gente a ter folga “forçada” ao domingo à tarde.
E depois é tão bom ir gastar solas dos sapatos para o centro comercial a roubar espaço às moscas, e na meia hora que falta para o hiper fechar aquela gentinha que entra para desarrumar a loja sair uma ou duas horas depois, e o empregado aguarda e não bufa e nem recebe horas extras por isso. Não tem família, vida própria, nem tem de ir às compras ao domingo.