"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Cartilheiros militantes e militantes cartilheiros nas "redes", mais paineleiros e comentadeiros avulso com lugar cativo remunerado no prime time das televisões, que em 8 - oito - 8 meses de guerra mais que recusar condenar o fascismo russo justificaram a invasão e o genocídio na Ucrânia pelas tropas e mercenários de Putin, muito indignados pela saudação institucional da presidente da Comissão Europeia à neo-fascista eleita chefe do governo italiano.
[Na imagem de autor desconhecido tattoo de soldado soviético]
Quando era de esperar uma reacção coordenada e conjunta à "crise Covid-19" a Comissão Europeia anuncia que "vai suspender as regras impostas aos orçamentos dos países da União Europeia", que é como quem diz "amanhem-se, é cada um por si", que é como quem diz está outra vez em cartaz o filme de 2009, quando a ordem foi endividar e injectar dinheiro na economia como reposta à crise de 2008 provocada pela falência da Lehman Brothers, para depois virem os países do norte da Europa, de dedo em riste apontado ao sul, despesista, que vive acima das suas possibilidades e ainda gasta o pouco dinheiro que tem em putas e vinho verde. NÃO!
A gente lê e não acredita: António Costa, que desde sempre, e um dia havemos de saber porquê, quer ver Pedro Marques comissário europeu com o pelouro dos fundos estruturais, como se a partir do momento da investidura qualquer comissário passasse a ser o comissário do país e a beneficiar o pais de origem em relação aos outros, avançou com a candidatura de Elisa Ferreira para a pasta da Economia e Finanças, sabendo antecipadamente das diminutas possibilidades do nome ser aceite, por causa da presidência de Mário Centeno no Eurogrupo e da "improbabilidade de a nova presidente da Comissão colocar dois portugueses como interlocutores directos em matérias estruturantes da União, como a economia e as finanças", conseguindo assim que o objectivo primeiro - Pedro Marques nos fundos estruturais, seja alcançado. E Elisa Ferreira prestou-se ao papel de ser bisca lambida num jogo de cartas na "gamela de Bruxelas"...
Mais uma vez a extrema-direita a cumprir a função para a qual foi criada: perpetuar no poder a direita do "sentido de Estado", com o voto da "aliança europeísta" constituída para derrotar a extrema-direita e salvar a Europa. Se o ridículo matasse...
De um lado Trump, do outro Putin, do outro Erdogan, pelo meio o Brexit e os novos fascismos que, aqui e ali, vão nascendo na Europa, em Itália, na Polónia, na Hungria de Órban, com assento no Parlamento Europeu na mesma bancada do PSD e do CDS, a do PPE. E estamos entregues a isto...
Jean-Claude Juncker que, enquanto primeiro-ministro do Luxemburgo,foi o responsável pelo que ficou conhecido como escândalo Lux Leaks, aconselha os italianos a "mais trabalho, menos corrupção e seriedade". Não ter a puta da vergonha na cara é isto.
Porque, como é por todos sobejamente sabido, quanto mais elevado é o salário mais malandro é o trabalhador colaborador e mais dificuldade têm as empresas e os patrões empresários em contratar.
"Essa foi talvez a única importante reforma que não conseguimos completar [...] durante estes quatro anos. Mas será um objectivo seguramente importante para cumprir nos próximos anos. Nós temos de conseguir ser mais atractivos para o investimento [...] no que respeita ao custo do trabalho para as empresas", Pedro Passos Coelho aos nove dias do mês de Abril do ano de 2015.
Um grande homem que nos governou, dizem eles e ainda não se calaram com isso desde o dia em que se foi embora.
"A Europa ficou muito desiludida com Itália" diz, sem se rir, Frans Timmermans, vice-presidente da Comissão Europeia, e sem perceber que o resultado destas eleições é consequência da Itália ter ficado muito desiludida com a Europa.
A Comissão Europeia, que foi contra o aumento do Salário Mínimo Nacional, tem saudades do Governo da direita radical e da reforma que Passos Coelho lamentou ter deixado por fazer - baixar os custos do trabalho, e insinua que Portugal deve ir mais longe na facilitação dos despedimentos e na precariedade.
O princípio subjacente é o mesmo que leva a que Portugal seja sistematicamente condenado em última instância pelo Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, contra todas as decisões e interpretações dos sucessivos tribunais nacionais, em casos de, por exemplo, liberdade de expressão. Somos todos a favor mas "o respeitinho é muito bonito", com a agravante de, neste caso concreto, o senhor ter passado quatro anos de uma legislatura a proclamar a necessidade de disciplinar, moralizar, fiscalizar a atribuição de fundos comunitários, prontamente badalado aos quatro ventos pelos apóstolos nas "redes sociais".