"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Ainda a propósito do livro "O primeiro-ministro e a arte de governar" de, desde incompreendido a odiado pela esquerda, Cavaco Silva, o sabe-sabe da política tuga, diz hoje o Público que "Portugal é o terceiro país europeu que perdeu mais ferrovia".
No Fertagus de Setúbal para Roma-Areeiro à minha frente uma gaja de t-shirt preta, estampada com aquela famosa foto do Che tirada pelo Korda, ao lado, um gajo de t-shirt vermelha com uma cruz do pescoço ao umbigo e "Jesus Cristo" garrafal em Times New Roman branco. E isto deve querer dizer alguma coisa já que vou a terminar um livro há muito tempo adiado, O Pêndulo de Foucault do Umberto Eco.
Miguel Sousa Tavares não só desmonta um pantomineiro em directo com uma só pergunta como obriga o pantomineiro a fazer jus ao epíteto de pantomimeiro quando, ao ver-se encurralado, apanhado com as calças nas mãos, como soi dizer-se, e sabendo do gosto do entrevistador pela caça, tenta introduzir o tema na conversa, como elemento de distracção que lhe dê tempo para respirar, recuperar o controlo e direccionar a entrevista para onde mais lhe convém. E este Circo Santana, com televisões em prime time, já dura pelo menos desde 1976.
«"O nosso estudo indica que o modelo de afectação de subsídios apresenta correlação directa com o desempenho do sistema ferroviário", [...].
Para os sistemas ferroviários europeus, os subsídios públicos apresentam-se assim como essenciais para que a sociedade deles tire o máximo partido. Uma conclusão prática que contraria o paradigma dominante na União Europeia de que a liberalização do transporte ferroviário e o afastamento do Estado conduziria à sua optimização.»
Como o dinheiro não chega para tudo, ou como não há dinheiro para nada, como queiram, para que as administrações de nomeação política, e respectivos familiares, continuem a viajar em topo de gama, novo todos os anos, e a usufruir de cartões de crédito, telemóveis, e outros direitos adquiridos inerentes às administrações de nomeação política, há que poupar nas viagens dos funcionários e respectivos familiares.
Uma medida absolutamente inócua do ponto de vista da gestão da empresa e dos resultados operacionais, populista q. b., lançada para a opinião pública com uns pozinhos de perlimpimpim à mistura – até o Rei anda à borla de comboio! , para disfarçar a incompetência e os erros de gestão, ao mesmo tempo que desperta alguns dos instintos mais recalcados da populaça – a inveja e a maldade, que não consegue ir mais além e ver na medida o valor simbólico da punição e da subjugação.
E os parolos batem palmas, muitas, sem perceber que foi aberta a caixa e que a seguir são eles, por mais ínfima que seja a garantia ou o direito.
"a legislação portuguesa submeteu a CP a um controle externo de natureza política […]". Ficamos todos muuuuuito mais descansados, pode o Governo continuar a nomear conselhos de administração, com licenciatura e mestrado feitos na universidade do cartão do partido, que não há controlo, nem interno nem externo, da empresa e que daí não vem grande mal, à CP, aos utentes, e ao dinheiro do contribuinte, não necessariamente por esta ordem. Uns Einsteines, estes senhores do Tribunal de Justiça da União Europeia.
Há 40 anos a fazer mais, com menos custos e melhores resultados, pela integração europeia, do que os milhares de burocratas, no ar higienizado dos gabinetes em Bruxelas, pagos pelos impostos dos cidadãos europeus.
[A imagem é daqui por não saber onde param os meus]
Regionalites futeboleiras à parte, confesso não conseguir perceber o “affair” Porto-Vigo. O contribuinte português paga uma ligação ferroviária, que dá um prejuízo mensal de €19. 600, sem que se perceba se serve para os espanhóis entrarem no país ou para os portugueses fugirem para Espanha. Aparentemente as duas hipóteses são válidas, se bem que a que nos possa favorecer economicamente [a entrada de espanhóis] só seja válida durante os meses de Verão, uma vez que a Renfe só suporta os custos até ao final de Setembro…
O “affair” Porto-Vigo, e até prova em contrário, é um pouco como as portagens nas SCUT que são boas [por omissão, uma vez que não se ouve uma única voz de protesto do lado de cá da fronteira] na Galiza, e más, muito más, no Norte de Portugal [pela unanimidade de protestos que conseguiram gerar desde Aveiro a La Coruña].
Adenda: quando escrevia o post, o Word corrigiu-me "Porto-Vigo" para "Morto-vivo". Faz sentido.
Em 1983, quando fiz o meu primeiro Interrail, à parte o ter perdido os primeiros comboios até me habituar à ideia que havia sítios onde os comboios chegavam e partiam a horas, o que me chamou a atenção foi o não haver passagens de nível em países como França e Itália. E ninguém atravessava a linha, porque até nos apeadeiros mais manhosos havia uma passagem subterrânea para passageiros.
Entretanto passaram 26 anos, entrámos na Europa, mas a Europa não entrou em Portugal, e os milhões para o TGV andam por aí. Não é que seja contra o TGV, antes pelo contrário, é a nossa mania de “queimar etapas”.
(Imagem The Southend Pier Train fanada no The Times)