"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Faz um ano em Abril quando o soviético António Filipe se chegou à frente com aUcrânia como Goa e Zelensky como Salazar, "fff, sem querer fazer uma comparação que possa ser mal interpretada, eheh", hoje o russo Lavrov compara a invasão russa da Ucrânia com guerra em Angola, quando a URSS apoiou o MPLA, "fff, a ideia é mesmo a interpretação que a comparação possa ter, eheh", a Ucrânia como parte integrante da Rússia, o não reconhecimento à sua identidade própria e independência, de Vladivostok a Lisboa, a mãe dos povos, o imperialismo bom.
Quando não percebes nada de História e resolves dizer qualquer coisa para ficar bem na fotografia, e com essa coisa que dizes ainda consegues ofender mais o receptor com a carga histórica de séculos que carregas nos ombros e que tentas por todos os meios corrigir, sendo que a tua sorte é o outro ainda perceber menos de História que tu. Como gostam os francius de dizer, "les beaux esprits se rencontrent".
Acabamos com os brasões na Praça do Império, limpamos o passado, purificamos a nossa história e não se fala mais nisso. O colonialismo nunca existiu e a prova disso é que nem há brasões das ex-colónias na Praça do Império. A seguir a câmara de Lisboa muda o nome da Praça do Império para "Praça do Futuro Radioso No País Sem Passado" porque "Praça dos PALOP", apesar de ser muito bonito e muito in, é um topónimo à partida excluído pelos engulhos que a Guiné-Equatorial causa à "esquerda" revisionista moderna e prá frentex, que pactuou com Hosni Mubarak e Ben Ali na Internacional Socialista, e que ainda tem muito trabalhinho pela frente, a começar logo por ali - Torre de Belém, Padrão dos Descobrimentos, na [re]construção de um país inócuo, incolor e indolor, expurgado de todas as memórias que não cabem nos cânones do homem novo no país novo. Não se vê, não se lê, não se fala nisso, não existiu.
É uma chatice a cleptocracia angolana vir às compras a Lisboa, com os kuanzas esbulhados ao seu próprio povo, e dar de caras com os brasões das ex-colónias numa Praça de um Império. Não vamos chatear a máfia de José Eduardo e Isabel dos Santos com minudências da História de Portugal que o dinheirinho faz falta ao comércio da Avenida da Liberdade, sem a calçada portuguesa por causa dos stilettos heel das damas, e ainda há a Sonangol e os editoriais do Jornal de Angola e o MPLA na Internacional Socialista.
“Respondeu-me que os brasões são sinais do colonialismo e que não contasse com ele para tratar daquilo”
A câmara de Lagos, no Algarve, é que já derrubava de vez o Mercado dos Escravos. E aquela estátua do Infante D. Henrique também não está ali a fazer nada.
Os madeirenses viviam lá as suas vidinhas, muito bem descansados no meio dos peixes e dos passarinhos com as partes pudicas descobertas, chegaram os portugueses nas suas naus, ergueram um padrão, hastearam uma bandeira, construíram uma igreja, e meteram toda a gente a trabalhar o trabalho escravo para eles, os malandros:
Faz hoje 50 anos, ainda não era nascido, que se deram os acontecimentos que levariam a que 14 anos depois caíssem de “pára-quedas” na minha turma na então recém inaugurada escola secundária da Bela Vista em Setúbal, o último grito ao nível das escolas, ainda sem o gueto e sem guetos dentro do gueto como paisagem, um seres vestidos de modo estranho, sempre de camisa e sandálias de sola de pneu de camião, fizesse chuva ou fizesse sol, que tratavam as raparigas por garina e os rapazes por madiê, não sabiam onde parava a família desde que tinham dado à costa em Lisboa, mas moravam num hotel apesar de terem menos dinheiro que eu, não gostavam do Duo Ouro Negro porque era música para enganar europeu e em contrapartida ouviam Osibisa, Miriam Makeba, Fela Kuti, e Jorge Mendes & Brasil 66, umas coisas muuuuuitos boas que me deram a conhecer e das quais nunca mais me esqueci, numas festas que organizavam aos sábados à tarde, farras de seu nome, e para as quais me convidavam. A estrela que “traziam cozida” na banda do casaco dizia “Retornado” mas na realidade eram refugiados porque ninguém retorna a uma terra que não o viu nascer, e vestiam assim porque era o que tinham em cima do pelo no dia da partida. Ainda hoje somos amigos.
“O comissário europeu para o Desenvolvimento, Louis Michel, reagiu hoje à proposta do líder líbio Muammar Kadhafi que exige “indemnizações para os povos colonizados”, considerando que os “colonizadores já pagaram” e “não têm lições a receber”.
“Os colonizadores já pagaram somas consideráveis durante décadas”, disse Michel aos jornalistas pouco antes da abertura da cimeira UE-África.” (Aqui)
Com licença sff, senhor comissário:
O terrorista-campista-que-já-não-é-terrorista-e-até-é-amigo-dos-amaricanos, e por culpa de quem já fui uma vez preso em Veneza, não se safa assim com tanta facilidade; não é chegar e largar bocas. Então nós não sofremos a ocupação / colonização islâmica durante 200 anos? Alguns dos barbudos / entrapados que há época por aqui andaram de cimitarra na mão, não vieram dum sítio agora chamado Líbia?
Venha mas é para cá o dinheirinho, que o pessoal por aqui anda muito necessitado.