||| A esperteza saloia
Pensávamos nós que o fácil, o muito mais fácil, é abdicar de ter pensamento próprio, abdicar dos valores e dos princípios em que acreditamos, para ir encarneirado, em manada ou em vara, escolham vocês, atrás da opinião do chefe, rabinho a abanar, o homem invisível resumido da máxima salazarenta de que “o calado vai longe”.
Lembro-me sempre do Sérgio Godinho, "mais vale ser um cão raivoso do que um carneiro, a dizer que sim ao pastor o dia inteiro, e a dar-lhe de lã e da carne e da vida, e do traseiro".
Pensávamos. E pensávamos mal. Porque o mais fácil, o muito mais fácil é "ser dissidente e discordante, numa lógica individual" até porque a "discordância e a dissidência são muito aplaudidas pela imprensa, há uma sobrevalorização da dissidência". Ser gente em função dos media e das audiências. E do tempo de aparecer. Ou ter-se em grande conta porque os media vão apontar holofotes para ali, porque se é dissidente e nunca porque se tem valores e princípios e se está disposto a luta por eles. Ou ter os media na conta em que, se calhar, merecem estar, porque vão apontar os holofotes para ali, porque se é dissidente e não porque se tem valores e princípios e se está disposto a luta por eles. Escolho a chico-esperice da primeira, que tem a esperteza saloia para jogar com a segunda, sem ser questionada, e ainda sair incólume e com sorriso vitorioso.
Lembro-me sempre dos The Fools, "I don't know just what to do, […], He's clucking a lot, but he's not saying anything, I plucked him once! Why pluck him again?
A psycho chicken, Better run run run run run run run away, Oooh oh oh oh aye aye ayee".
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