"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
"Apesar de 60% da população estar isenta de taxas moderadoras no Serviço Nacional de Saúde (SNS), são as classes média, média baixa e baixa que mais contratam seguros, ou seja, a motivação não se prende com a poupança". E é a mesma classe média baixa e baixa que toma o pequeno almoço fora de casa, que compra bilhete a bordo nos transportes públicos ao invés do passe mensal, que faz refeições habituais nas cadeias de fast food, que só veste roupa de marca e com a marca bem visível, e por aí. Portanto há aqui um padrão e tem a ver com educação, organização, economia e gestão do orçamento familiar, não ter nada a ver com a denominada "falência do Estado" e a "degradação do Serviço Nacional de Saúde", argumentos usados pela direita para cavalgar a notícia, na esperança de que ninguém se lembre das décadas de políticas de desmantelamento do Estado social em prol de interesses privados, nos seguros de saúde, na saúde negócio a cargo de privados, nos planos privados de reforma, de que ninguém se lembre que a falência do Estado e a degradação do SNS têm pai e mãe, não nasceram de geração espontânea.
O PREC – Processo Radical de Empobrecimento em Curso, em quatro anos de governo da direita radical com reflexos directos na "classe média" e na definição de "classe média":
O "pecado" de Strauss-Kahn é não saber que em Portugal não há classe média mas funcionalismo público. O que é substancialmente diferente. Para as "metas" do FMI.
Continuo a achar que, a “classe média”, a par da “classe empresarial”, em Portugal, são as duas maiores patranhas que se tentam impingir aos portugueses desde há pelo menos 34 anos a esta parte.
O que na realidade existe é uma classe de patos-bravos (termo genérico; não só na construção civil e obras públicas) que vive encostado à sombra do Estado, e a que se convencionou chamar “empresário”.
O que na realidade existe (existia?) era uma legião enorme de funcionários do Estado mais as suas famílias; famílias subsidiárias e famílias adjacentes, com salários em média superiores aos dos outros trabalhadores; com acesso a um conjunto de benesses e regalias que os outros cidadãos não tinham (não têm), e a que se convencionou chamar de “classe média”.