"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
A diferença é que enquanto a polícia israelita detêm os suspeitos pelo assassinato do jovem palestino, a autoridade palestina não detêm ninguém, nem sequer tem suspeitos do assassinato de três jovens israelitas, nem tão pouco está para aí virada, o Hamas faz dos assassinos heróis nacionais e, se preciso for, ainda levam medalhas no Dia da Raça deles. Coitados dos palestinos.
Tal como aconteceu na Irlanda com o IRA e no País Basco com a ETA, para passar uma certa ideia de civilização, respeitabilidade [e respeito pelo jogo democrático], de que não é tudo farinha do mesmo saco, para haver um mínimo de empatia com a opinião pública ocidental. E com a cumplicidade dos jornalistas acéfalos e amorfos [e dos media que lhes dão emprego]. Tem mel. Há o Hamas e os terroristas do «braço armado do Hamas».
Suponhamos que aquando da descolonização e do regresso dos milhares de colonos portugueses das “províncias ultramarinas” – léxico Estado Novo –, ao invés de os termos integrado na sociedade da "metrópole" – léxico Estado Novo again –, os tínhamos enfiado nuns campos construídos para o efeito, ali para os lados do Alentejo ou de Trás-os-Montes, com o estatuto de refugiados retornados, e por lá ficassem, e por lá tivessem filhos a quem era concedido reconhecido o estatuto de refugiados retornados, e depois netos a quem era também concedido reconhecido o estatuto de refugiados retornados, e por aí fora.
Vem esta conversa a propósito da Orquestra Juvenil Palestiniana “Cordas de Liberdade”, composta por jovens com idades compreendidas entre os 11 e os 18 anos, e que, apesar de serem nascidos na Cisjordânia, continuam a ter o estatuto de refugiados que tinham os seus pais e os seus avós, quando há 50 anos fugiram ou foram expulsos das suas casas na guerra que se seguiu à criação do Estado de Israel. Cinquenta anos!
Nascer, viver e morrer com o estatuto de estrangeiro no seio do seu próprio povo.
Uma “reserva” humana conveniente, ali à mão, para servir de joguete e de arma de arremesso. Há pelo menos meio século que “a culpa é de Israel”.