Deus não mora em Moçambique
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No intervalo do telejornal da catástrofe bíblica que castigou Moçambique passaram anúncios às barritas de chocolate, a pensos higiénicos, indetectáveis com calças justas, a camisas de Vénus de prazer interminável, para ele e para ela, ao carro do ano, a um programa de televisão onde "o prazer não é um luxo", patrocinado por umas massas e esparguetes. A alegria do capitalismo é vivermos em paz a chafurdar na merda dos outros.
[Imagem de autor desconhecido]
Há umas imagens, terríveis, a passar nas televisões onde é possível ver uma equipa de salvamento a resgatar duas mulheres, uma mais velha e outra mais nova, possivelmente mãe e filha, refugiadas mesmo no alto da copa de uma árvore e ainda assim com água pelos joelhos, com três alguidares e meia dúzia de trapos encharcados, possivelmente aquilo a que chamam roupas, possivelmente os únicos bens que conseguiram salvar. As imagens não têm som mas pelo gesticular dá para perceber que a equipa de resgate lhes diz que só vão elas, nada de alguidares nem de trapos, e elas, pela expressão na cara, pela reacção de defesa e pelos movimentos de posse, incrédulas e relutantes em deixar para trás aquilo que lhes resta. Uma merda que qualquer um de nós compra por 50 cêntimos ou 1 € no chinês na esquina da rua e que deitamos no ecoponto por dá cá aquela palha... Miséria.
[Na imagem a população de uma localidade refugiada na bancada de um campo de futebol]