"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
O XV congresso da CGTP, a maior e mais antiga central sindical do país, a passar ao lado das televisões, e o destaque dado pelas mesmas televisões ao congresso do sindicato dos bancários, também conhecido por UGT, inventado para assinar por baixo o que o sindicato dos patrõe lhe põem à frente para assinar. A culpa é do TikTok.
O Ventas, que badalou bem alto e bom som a intenção do Chaga de roubar a rua à esquerda, mandou à manif da CGTP os câmaras de eco que tem atrás de si no Parlamento a gesticularem e fazerem sons de símio com a boca.
Marcelo, 71 anos de idade, ignorando o dever cívico do confinamento, depois de avisar as televisões desce alegremente o Chiado para ir às compras e para perorar sobre o distanciamento social na manif do 1.º de Maio.
Portanto a CGTP, central sindical afecta ao partido que votou contra o prolongamento do estado de emergência - o PCP, organiza uma manif no Dia do Trabalhador com base no decreto presidencial aprovado no Parlamento com os votos a favor dos partidos que estavam contra a realização da manif. Confusos?
Pelo que nos é dado a perceber pelas televisões os empregados da fábrica da Azambuja contaminados com a Covid-19 andam há 15 dias alegremente ensanduichados em comboios casa-trabalho-casa sem protecção, alegria no trabalho e reabrir a economia. Ai, ai, ai, os autocarros do Seixal na manif do 1.º de Maio...
Há que tirar o chapéu a António Costa quando saca da cartola o argumento de que "é mais importante contratar mais funcionários públicos do que aumentar os salários". O Bloco de Esquerda, com reduzida implantação na Função Pública e percebendo a armadilha, embatucou e fingiu que não tinha ouvido nada. O PCP, Jerónimo de Sousa, que ainda a semana passada disse no Parlamento que "há já muitos anos que por aqui ando", engoliu o isco e quando se deu conta da esparrela desviou a conversa para "a dívida pública impagável e o dinheiro que não há para nada mas há para os bancos", argumento justo e bonito, de resto, mas que não tem nada a ver para o caso porque, como disse e bem, a opção é política e o dinheiro vai ser sempre gasto, seja em aumentos seja em contratações, deixando o secretário-geral dos comunistas de fora os que já estão de fora, os desempregados, e encostando-se onde António Costa o queria encostado, ao partido da Função Pública, com toda a carga que isso tem no resto do país, nos outros, nos que não trabalham para o Estado.
Vem então os 'pontas-de-lança' dos partidos nos sindicatos, um para fazer prova de vida e outro para interpretar o papel que lhe foi destinado representar, invocar "os baixos salários" e "o congelamento de carreiras e de aumentos salariais". Mais dois encostados nas cordas ao lado de Jerónimo de Sousa, com as progressões nas carreiras e aumentos salariais no sector privado que não há só porque sim e porque a velhice é um posto como na tropa macaca, e com a falência do Estado, a manter o emprego a todos os seus funcionários, paga com a falência, o desemprego, a emigração, a miséria de milhares no sector privado e com o congelamento salarial e precariedade para os que ficaram.
O problema de Carlos Silva é exactamente o mesmo problema de Paulo Portas: ninguém precisa dele nem da agremiação que capitaneia para nada, então esbraceja e faz barulho e, quanto mais esbracejar e barulho fizer melhor, pensa ele.
Canetas e esferográficas há muitas [como se viu na tomada de posse do XXI Governo constitucional.
[Imagem de autor desconhecido]
Adenda: Não é por acaso que os ministros do CDS passaram estes últimos 4 anos a elogiar o "sentido de responsabilidade" da UGT e dos seus dirigentes.
Da UGT de Torres Couto, cálice de Porto na mão, ombro com ombro com Cavaco Silva, brinde à concertação social, para a UGT de João Proença, das revisões dos códigos do trabalho, em nome dos amanhãs que cantam e do sol brilhará para todos os trabalhadores, traduzidos em cada vez mais rigidez patronal, abandonando o cargo, com uma vaga ameaça de denuncia do acordo caso a maioria Passos-Portas não cumprisse o assinado, para o Secretariado Nacional de António José Seguro, até à UGT de Carlos Silva que, antes de ocupar o lugar, pede autorização ao patrão Ricardo Espírito Santo Salgado e, até ver, muto elogiado por Paulo Portas e tudo o que é ministro do CDS. Nascemos todos ontem e precisamos de explicações sobre o que é a CGTP, nascemos todos ontem e não sabemos o que é a UGT. Um canibal a falar: