"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Quatro anos a colonizar o aparelho do Estado com boys, "técnicos" e "especialistas", na base do mérito e da competência achada na blogosfera pré 2011, perdão, quatro anos a nomear chefias para o aparelho do Estado na base do mérito e da competência e nas necessidades, não gordurentas, do Estado, alguns nomeados já em "período de descontos concedido pelo árbitro", para agora chegai o PS e agir como se fosse "o dono disto tudo" e pôr um ponto final à reforma estrutural que Pedro Passos Coelho e Paulo Portas queriam de provisória para efectiva, o PSD e o CDS como agências de colocação de emprego. Parece que o primeiro-ministro no exílio também vai ter uma corte no exílio.
Aquilo que em todas as democracias ocidentais é o normal funcionamento do Estado de Direito, pela separação de poderes e fiscalização do governo e da governação, de modo a não atentar contra valores que supostamente deve garantir e promover, os famosos checks and balances que n' América não só são muuuuuito bons mas o melhor do mundo e que em Portugal são [só] submissão aos tribunais.
Nota: E não me venham cá com a Lei de Godwin por causa da foto que ilustra o post. Lei de Godwin é Telmo Correia, escudeiro de Paulo Portas, a comparar o Partido Socialista com os partidos trotskistas, na Assembleia da República no debate "o estado da Nação"; Lei de Godwin é Teresa Caeiro, nos frente-a-frente do telejornal que já foi do Mário Crespo, a insultar todos os oponentes de esquerda de estalinista e norte-coreanos para cima.
O pormenor é que a gente, do lado de cá, já começa a ficar com muitos anos disto, são muitos estudos com as equivalências certificadas:
Um:
«Hugo Soares, o recém-eleito presidente da JSD, defende que o Estado deve recorrer mais às universidades para obter apoio jurídico em vez de contratar sociedades de advogados.»
"Não estou seguro que o Estado português esteja imune a interesses. Há partes do Estado que estão capturados ou em vias de o ser", afirmou António José Seguro.»
Quando o "simbolismo" da imagem de seriedade que se quer passar para o eleitorado passa por convidar Vítor Bento para o palanque, assim de repente, o Vítor Bento trabalhador-invisível das promoções por mérito, o Vítor Bento da suspensão da democracia, estamos conversados.
Adenda: Ainda com uma secreta esperança de ser hoje o dia em que João Proença denuncia o acordo de concertação social por o Governo continuar a não cumprir e a adiar as medidas para o crescimento e emprego, esta parte foi copiada de um discurso de Pedro Passos Coelho, não foi?!
"Fazer diferente", e um "novo contrato de confiança com os portugueses", era propor, por exemplo, que os ministros saíssem obrigatoriamente das listas dos deputados eleitos para a Assembleia da República, para o cidadão saber antecipadamente ao que ia e para evitar a arrogância e a impunidade do "eu não fui eleito coisíssima nenhuma", e não o populismo barato, e de efeito rápido, da redução do número de deputados.
As comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas [e do Reino dos Alarves daquém mar] primaram este ano pela originalidade. Tivemos um discurso inteligente e um discurso modo reportagem sobre as cheias no Reguengo do Alviela ou sobre a neve na Serra de Estrela, está sempre actual, é só uma questão de acertar a data e ter cuidado para a película não ficar sépia, dá trabalho aos decifradores de hieróglifos de serviço e, acima de tudo, ocupa tempo televisivo até entrar o bloco publicitário. A que horas é que começa o futebol?
A semana em que o comandante do Costa Concórdia tropeçou e caiu no salva-vidas foi a mesma semana em que Vasco Graça Moura tropeçou e caiu no CCB, dois dias depois de João Proença ter também ele tropeçado e ficado de caneta na mão no Conselho da Concertação Social, e uma semana depois de Celeste Cardona ter tropeçado e dado por ela sentada ao "colo" de Eduardo Catroga num gabinete na praça Marquês de Pombal em Lisboa. Decididamente há um problema com a Lei da Gravidade.
De uma forma ou de outra o desconsiderado foi o suspeito do costume: o público, o cidadão anónimo, o que paga um serviço do seu bolso.
Mas nem tudo é mau, nem tudo é “lamentável”, recorrendo ao léxico usado por José Sócrates em situações mais ou menos recentes em que foi alvo de vaias e apupos. Talvez perceba agora que as pessoas não gostam de ser desconsideradas e desrespeitadas, e percebe-o logo numa situação em que não pode fazer uso do discurso do costume do “esses manifestantes eu conheço-os bem. São militantes e simpatizantes do PCP e os seus métodos são sobejamente conhecidos.”