"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Cavaco Silva aproveita o Dia da Criança para pedir desculpa pelo atraso com que felicita António Costa pela vitória nas legislativas, só possível pelas benesses do PSD e a infantilidade dos comunistas e bloquistas, e desata a escrever em como os seus governos foram bué bons, das reformas que o seus governos fizeram, algumas contra a vontade do PS, que foi ele quem inaugurou as maiorias absolutas, em como a sua pessoa foi e é importantíssima na história de Portugal e, não fora ele e os seus governos bué bons, o Costa andava hoje à nora na ingovernabilidade, por culpa das reformas que o PS não queria fazer era ele primeiro-ministro, e dá umas dicas, de borla, sobre onde e como António Costa deve reformar para ficar para a história quase como ele, Cavaco Silva. Cavaco Silva é a pessoa mais mal formada que pode haver.
"Cavaco Silva está velho". A frase dita por Jerónimo de Sousa acabou por se revelar a análise mais lúcida de todas as que foram feitas à saída do ex Presidente da República do esquife onde se encontra depositado. Curta e certeira. E tão acertada foi que a aparição foi prontamente compreendida pelo deputado mais velho que alguma vez se sentou nas bancadas da Assembleia da República em todos os anos da sua existência.
"A democracia está amordaçada" afiançou Cavaco numa participação por videoconferência na Academia de Formação Política das Mulheres Sociais-Democratas com uma referência a "os médicos e as enfermeiras" pelo meio. "Os médicos e as enfermeiras" é todo um programa político.
A metade esquerda do móvel é ocupada por fotos com pessoas várias ao lado do vulto Cavaco Silva, Aníbal. Desde Gungunhana ao Padre Américo, passando pelo Juan Manuel Fangio ou Nuno Álvares Pereira. A metade direita são as quintas-feiras e outros dias, e as facturas da água, da luz, mais os recibos da reforma da mulher. Na secretária uma placa antecedida pelo grau académico ainda assim não vá alguém enganar-se no trato.
Esta nulidade, Cavácuo, foi dez anos primeiro-ministro e mais dez Presidente da República e, não explicando tudo, ajuda a perceber.
Um gajo que teve mais-valias em acções não cotadas em bolsa, se esquece do sítio onde guardou a escritura da casa e que, enquanto governante, criou um inner circle que vai desde banqueiros corruptos a suspeitos de assassinato, junta-se em abaixo assinado contra aulas de Educação para a Cidadania a um gajo que fundou empresa única e especificamente para sacar dinheiro dos fundos comunistários, não se lembra do ordenado que recebia nem que era obrigatório descontar para a segurança social. Pelo meio recebem a assinatura solidária de um gajo que não declara ao fisco o dinheiro entrado em caixa [esmolas e donativos] nem paga IMI dos prédios de que é proprietário. Estas coisas não se inventam.
O professor Cavaco, triste, muito triste com o resultado eleitoral do PSD, avançou o nome da doutora Maria Luís Albuquerque para mobilizar os militantes e unir o partido. O doutor Montenegro respeita as palavras do professor Cavaco e assina por baixo, a doutora Maria é bem vinda. Ainda não é líder do partido e já tem um Centeno para cortar pensões e reformas, perdão, gordura do Estado.
Depois do sucesso que foi uma ex-ministra do Governo da Troika dutante quatro anos à frente do CDS, Cavaco Silva, que aguentou um executivo de iniciativa presidencial depois da demissão irrevogável de Paulo Portas e da desistência de Vítor Gaspar quando chocou de frente com a realidade, sem a ter a mínima noção da total indiferença com que é olhado dentro do partido que já foi seu e que só por simpatia ainda é escutado com um sorriso nos lábios e com um encolher de ombros assim que vira costas, vem apontar outra ex-ministra de Passos Coelho como factor de união e de mobilização do estilhaçado PSD. Melhor combustível não poderia haver para uma Geringonça 2.0.
Cavaco diz que nunca teve amizade com Ricardo Salgado. Nem com Duarte Lima. Nem com Oliveira Costa. Nem com Dias Loureiro. Nem com Álvaro Amaro. Nem com Miguel Macedo. Nem com Fernando Fantasia. Nem com Teófilo Carapeto Dias. Nem com Arlindo de Carvalho. Nem com _________________________ [preencher em caso de necessidade].
O sujeito que recebe duas pensões de reforma e que, enquanto Presidente da República, optou pela remuneração mais elevada desconsiderando o cargo que ocupava e a instituição Presidência da República para a qual foi eleito em eleições livres e democráticas, aparece a falar em sustentabilidade do sistema de pensões e em aumento da idade da reforma.
"O ex-Presidente da República Cavaco Silva classificou hoje a prática de nomeações partidárias para cargos dirigentes da administração pública, conhecida como jobs for the boys, como “indecorosa”."