Os subversivos
Para vos ser sincero também me faz alguma confusão poder alguém ser condenado em tribunal por pintar numa parede «8.º congresso da JCP. Transformar o sonho em vida. 20 e 21 de Maio. Vila Nova de Gaia».
Mas foi em tribunal (não plenário) e com advogado de defesa.
E não fica por aqui, porque vai haver «recurso da decisão, "até à última instância"» e se preciso for «até ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, "por violação da Convenção Europeia dos Direitos do Homem que garante um direito fundamental que é o direito à liberdade de expressão"»; Odete Santos dixit.
É o Estado de Direito a funcionar, e ainda bem que assim é. E disponibilizo-me desde já para, se preciso for, comparecer em tribunal como testemunha abonatória.
Depois quase que fico à beira das lágrimas pelos quase-mártires pós-Revolução de Abril: bora-lá-pintar-um-mural-com-as-efiges-da-Catarina-e-do-Luís! escrito no órgão oficial do Partido. Aquele mesmo que faz a apologia da China e de Cuba e do Vietnam, quais paraísos na terra, de e para os trabalhadores, e já nem me quero lembrar do Laos e da Coreia do Norte a tal que é uma República Democrática e Popular, e das saudades do País dos Sovietes. E fico assim a pensar: esta treta não é verdade só pode ser a gozar, porque, primeiro nem há um partido da oposição para fazer um congresso na terra dos Menezes lá dos respectivos sítios, e depois desgraçado daquele que for apanhado a passar o pincel na parede. A menos que aquilo seja mesmo um paraíso e ninguém tem necessidade de organizar partidos da oposição, e muito menos de rabiscar paredes municipais, e o pessoal até anda todo descalço porque no chão não há espinhos. Nunca se sabe…
Numa coisa a “camarada” Anabela Fino tem razão, e com licença, com uma correcção minha: sorte a deles «quando ensaiaram os primeiros passos, quando balbuciaram as primeiras palavras, quando escreveram as primeiras letras, quando começaram a sonhar o futuro» ter sido aqui e não ali. Se fosse na China a família ainda tinha de pagar a bala. As taxas de IVA sobre ser “subversivo” variam muito consoante os lugares.
(E já que a posta é sobre garffitagem, fui roubar a imagem ao blogue lusitano com o maior acervo das ditas pinturas)